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“O cheiro da morte ainda persiste”: jornalista da RFI visita subterrâneos do Batalhão Azov em Mariupol

Há cinco dias, Kiev anunciou uma nova troca de corpos de soldados russos e ucranianos, incluindo os de alguns combatentes da fábrica de aço Azovstal em Mariupol, enquanto os corpos restituídos à Ucrânia, na troca anterior, chegavam a Kiev. Em Azovstal, o exército russo levou pela primeira vez na segunda-feira (13) um grupo de jornalistas numa incursão ao túnel do batalhão Azov, incluindo a correspondente da RFI em Moscou.

Armamento ocidental apresentado à imprensa pelo exército russo.
Armamento ocidental apresentado à imprensa pelo exército russo. © RFI / Anissa El Jabri
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Anissa El Jabri, correspondente da RFI em Moscou

A primeira imagem é a de um calendário, abandonado em uma prateleira improvisada, acima de uma xícara, onde um saco de chá continua pendurado em uma piscina de água preta. A última folha, arrancada, marca o dia 14 de maio. Três dias depois, os primeiros combatentes começaram a se render. A cena se passa no primeiro subsolo da usina de Azovstal.

A fábrica teria sete subsolos. Este é o primeiro deles e o único acessível, devido à segurança. Nem tudo foi desminado ainda, e os investigadores ainda estão à procura de corpos. O porão não abrigou civis, nem soldados da Infantaria da Marinha, ou ainda outras unidades do exército ucraniano; aqui, explica o exército russo, ficavam os aposentos do Batalhão Azov.

Símbolos, cartazes e slogans nazistas

O amarelo e o azul da Ucrânia. Camisetas do Batalhão Azov.
O amarelo e o azul da Ucrânia. Camisetas do Batalhão Azov. © RFI / Anissa El Jabri

Nessas poucas salas escuras, alcançadas através de uma escada íngreme, baratas perturbadas pela luz dos visitantes correm sobre as paredes. Elas vagueiam entre os beliches de um dormitório, onde as pessoas eram amontoadas sob um teto baixo.

Uma vida cotidiana que ainda cheira a umidade e mofo. Cacos de vidro como espelhos, corda para pendurar cabides... algumas toalhas abandonadas ao lado de cartuchos de máscaras de gás, a cruz vermelha da enfermaria em garrafas espalhadas sobre colchões...

Depois, ao lado dos cobertores espalhados, bandeiras amarelas e azuis da Ucrânia. Camisetas do batalhão Azov, também muito visíveis. Ostensivamente: símbolos, cartazes e slogans nazistas em roupas e paredes. A cabeça do lobo e a placa SS, como o 14/88, abreviações do slogan dos supremacistas brancos e de "Heil Hitler". 

Munições, armas anti-tanques ocidentais

Armas ocidentais apresentadas à imprensa pelo exército russo em Azovstal.
Armas ocidentais apresentadas à imprensa pelo exército russo em Azovstal. © RFI / Anissa El Jabri

O batalhão Azov é um elemento importante no discurso russo pró-guerra. Um dos objetivos declarados da "operação especial" na Ucrânia, como diz o Kremlin, seria "desnazificar" o país.

Kiev pede por mais armas. Algumas delas foram entregues a Mariupol, em Azovstal. Pelo chão pode-se ver munições espalhadas, manuais de instruções militares, mas também, ao lado das camas, algumas armas anti-tanque ocidentais. 

Em quase todos os cantos, nos porões e nos túneis escuros interconectados, muitas armadilhas, mesmo nas portas. Segundo um oficial russo, a porta se abria, acionava um fio de contato e a mina explodia. "Esta que você vê aqui é uma bomba direcional, e a segunda ali era como um backup na parede. Portanto, na realidade, assim que a porta se abre, são duas munições que explodem", explica. "Eles tinham feito cartazes para que aqueles que se deslocassem ao longo da galeria não abrissem a porta", detalha.

"Estou feliz por ter destruído Azovstal"

Os jornalistas visitam um prédio gelado onde havia perigo em cada canto, e postos de atiradores em todos os lugares. Fora, nas ruínas, sob o calor sufocante, crateras de bombas, caminhões e carros queimados, e as carcaças de vigas metálicas já enferrujadas.

O cheiro da morte ainda persiste no local. Entre um capacete abandonado no chão e cartuchos de máscaras de gás, a possibilidade de minas que ainda não explodiram. Acima, as poucas palavras escritas com tinta em uma parede: "Estou feliz por ter destruído Azovstal".

Nos bairros próximos à fábrica, o clima é de desolação. Às vezes, restam apenas partes das paredes das casas. Nenhuma área em Mariupol foi tão marcada pela violência dos combates.

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