Jornal francês aponta aumento das desigualdades no Brasil e paradoxo na economia
A situação econômica do Brasil, fortemente agravada pela pandemia da Covid-19 e pela guerra na Ucrânia, é tema de reportagem nesta segunda-feira (30) no diário econômico Les Echos. Sob o título "Uma retomada em duas velocidades no Brasil", o jornal francês relata que a inflação de dois dígitos penaliza os mais pobres, amplia ainda mais as desigualdades sociais no país, enquanto alguns setores são beneficiados pela demanda de commodities.
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A publicação lembra, logo no início do texto, que o Brasil foi um dos países que pagou um dos mais caros "tributos" à Covid – 660 mil mortos –, mas que o conflito na Ucrânia, por outro lado, favoreceu alguns setores da economia. O veículo francês destaca a expectativa de uma safra recorde de 270 milhões de toneladas de produtos agrícolas para este ano.
Os produtores de minério de ferro e de níquel também estariam entre os setores que prometem contribuir positivamente para a balança comercial em 2022, ao lado de outros segmentos que se beneficiam da demanda por matérias-primas, na contramão do que acontece no resto do mundo, principalmente na Europa.
O avanço da vacinação contra o coronavírus e a suspensão gradativa das medidas de restrição sanitária já teriam impacto positivo no comércio. O crescimento de 20% das vendas no Dia das Mães, em relação ao ano passado, se soma às expectativas otimistas, mas não ingênuas, destaca o diário. A disparada nos preços dos alimentos e o desemprego, que ainda afeta mais de 11% da população do "gigante da América Latina", demonstram que a economia demora a decolar, aponta o Les Echos.
A população mais vulnerável paga a conta, sublinha o veículo, alertando para uma taxa de pobreza que chegou a 13% no ano passado e afeta quase 28 milhões de brasileiros. A insegurança alimentar saltou de 17% para 36% da população entre 2014 e 2021, acrescenta a reportagem. O balanço social da pandemia e da guerra na Ucrânia se revelaria "pesado", na avaliação do jornal.
Retomada desigual
O preço do petróleo também daria sua ingrata contribuição para esse contexto, elevando os preços dos combustíveis, o que gera reflexos em toda a cadeia produtiva. O aumento da taxa de juros determinado pelo Banco Central atua contra o crescimento econômico.
Se por um lado a economia brasileira busca uma reação, a publicação enfatiza que esta retomada se dá de uma forma desigual, com a alta dos alimentos e da energia afetando os mais pobres, que estão longe de conseguir suprir suas necessidades. O poder aquisitivo está em queda livre há quase dez anos, ressalta o texto. Um contexto nada animador às vésperas das eleições de outubro.
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