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Radar econômico

Quem ganha e quem perde com o aumento de preço das matérias-primas em tempos de guerra

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Da Europa aos Estados Unidos, passando pelo Brasil ou pelo continente africano. O mundo inteiro começa a sentir os impactos provocados pela guerra na Ucrânia. Desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro, o futuro do setor financeiro e das trocas comerciais se tornou imprevisível.

Europa já paga mais caro por combustíveis e estuda estratégia para sair da dependência da importação russa.
Europa já paga mais caro por combustíveis e estuda estratégia para sair da dependência da importação russa. ASSOCIATED PRESS - Luca Bruno
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As sanções dos países ocidentais contra o país de Vladimir Putin já trouxeram consequências imediatas, como a disparada dos preços de commodities e muitos países se preparam para absorver o choque

Candidato declarado à reeleição na França, desde a quinta-feira (3), Emmanuel Macron se equilibra nos discursos, ora como presidente, ora como político em campanha. Contudo, o tom grave das mensagens que ele martela é o mesmo. Nesta terça-feira (8), o presidente francês deixou bem claro: “Nossa agricultura, nossa indústria, muitos setores econômicos estão sofrendo e sofrerão, seja porque dependem da importação de matérias-primas da Rússia ou da Ucrânia, seja porque exportam para esses países. Nosso crescimento, que está atualmente no auge, será inevitavelmente afetado".

“O aumento do preço do petróleo, gás e matérias-primas tem e terá consequências para o nosso poder de compra", disse o presidente. "Amanhã, o preço de um tanque cheio de gasolina, o valor da conta do aquecimento e o custo de certos produtos poderão se tornar ainda mais caros”, completou Macron.

Consciente das consequências econômicas e sociais da guerra, o chefe de Estado orientou o primeiro-ministro francês, Jean Castex, a apresentar, nos próximos dias,  um “plano de resistência econômica e social” para enfrentar essas dificuldades.

“Apoiaremos os setores econômicos mais expostos, procurando novos fornecedores e novos pontos de venda comerciais. E é com esse objetivo que conversei com os líderes europeus, americano e do Oriente Médio”, ressaltou. “Daremos respostas adequadas à interrupção dos fluxos comerciais e ao aumento dos preços”, declarou Macron.

Durante dois dias, a partir desta quinta-feira (10), o presidente francês vai coordenar, na cidade de Versalhes, na região parisiense, uma reunião de cúpula informal com líderes europeus para discutir um novo modelo econômico para a Europa. Sobretudo, será uma oportunidade para debater alternativas para contornar a dependência de petróleo e gás da Rússia, país que garante o fornecimento de 40% do volume de gás consumido no bloco europeu.

Grande produtor e exportador de petróleo, a Rússia também sabe que a ordem dos ocidentais de parar de comprar esse produto vai ter um impacto forte no futuro econômico do país. O anúncio dos Estados Unidos de cortar as importações de petróleo russo já fez o preço do barril ultrapassar os US$ 130, neste terça-feira.

O governo americano já iniciou contatos com a Venezuela para compensar essa redução nas importações. O presidente Nicolás Maduro confirmou o início das discussões. No tabuleiro geopolítico mundial, não apenas países, mas regiões inteiras serão impactadas pela guerra.

Perdas e ganhos

No caso da África, Carlos Lopes, ex-secretário executivo da Comissão Econômica das Nações Unidas para África e especialista em planejamento estratégico prevê dois cenários distintos. O primeiro favorece os países produtores de commodities, que terão o preço nas alturas.

“A África e a Rússia têm grande dependência econômica de algumas commodoties e algumas delas são comuns, como o petróleo. Para a África, o petróleo representa 40% das exportações”, afirma. “Qualquer turbulência neste mercado vai favorecer países africanos que são exportadores desse produto”, diz o especialista, fazendo referência a Angola, Nigéria e Argélia. De acordo com Carlos Lopes, outra commodity que sofrerá impacto será a platina, metal produzido na África do Sul e Zimbábue. “Para esses países, as notícias são boas porque vão aumentar os preços e muitos vão se beneficiar com a turbulência”, avalia.

Por outro lado, Carlos Lopes ressalta as muitas dificuldades que irão surgir para os países africanos com o aumento de preços de produtos importados. “No caso do trigo, a África  é um grande importador e a Rússia é um grande exportador. A falta de acesso a esse mercado, porque os russos vão ter disrupções logísticas, e a falta de uma substituição fácil, farão com que países principalmente do norte da África e da África Subsaariana paguem um preço muito alto por um produto de primeira necessidade”, conclui. 

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