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“Os EUA não devem desestabilizar as autoridades de Cabul”, diz ministro talibã

O Talibã pediu aos Estados Unidos que não "desestabilizem" o governo que instituíram em Cabul, durante uma primeira reunião presencial neste sábado (9), em Doha, entre representantes dos dois países, desde a retirada de tropas estrangeiras do Afeganistão.

Parentes e amigos participam de funeral das vítimas do atentado suicida, nesta sexta-feira (8), contra uma mesquita xiita em Kunduz, no Afeganistão. Kunduz, 9 de outubro de 2021.
Parentes e amigos participam de funeral das vítimas do atentado suicida, nesta sexta-feira (8), contra uma mesquita xiita em Kunduz, no Afeganistão. Kunduz, 9 de outubro de 2021. Hoshang Hashimi AFP
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A reunião acontece após um atentado suicida reivindicado pelo grupo do Estado Islâmico (EI) na cidade de Kunduz, no Afeganistão, que deixou mais de 60 mortos, o mais letal desde o fim da presença americana do país, em 30 de agosto.

Os Estados Unidos mantiveram contato com os novos representantes do Afeganistão após a tomada de Cabul em meados de agosto, mas este é o primeiro encontro presencial entre as duas delegações. Depois de anos sediando conversas entre o Talibã e os Estados Unidos, o Catar continua a desempenhar um papel mediador influente.

"Dissemos a eles claramente que tentar desestabilizar o governo no Afeganistão não é bom para ninguém", disse o ministro talibã das Relações Exteriores, Amir Khan Muttaqi, à agência de notícias afegã Bakhtar. "As boas relações com o Afeganistão beneficiam a todos. Nada deve ser feito para enfraquecer o atual governo no país, o que poderia criar problemas para o povo", acrescentou ele em um comunicado gravado.

Os Estados Unidos não comentaram imediatamente as declarações do ministro. A delegação americana no Catar é chefiada pelo vice representante especial do Departamento de Estado dos EUA, Tom West, e pela chefe da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional, Sarah Charles.

Direitos dos afegãos

"Vamos pressionar para que o Talibã respeite os direitos de todos os afegãos, incluindo mulheres e meninas, e forme um governo inclusivo com amplo apoio", revelou um porta-voz do Departamento de Estado nesta sexta-feira (8), ao anunciar o encontro. "Como o Afeganistão enfrenta a possibilidade de uma severa recessão econômica e crise humanitária, também pressionaremos o Talibã a conceder às agências humanitárias acesso gratuito às áreas em dificuldade", afirmou.

A reunião de Doha, no entanto, não significa de forma alguma que os Estados Unidos reconheçam o regime talibã no Afeganistão, insistiu o Departamento de Estado. Durante o encontro, os representantes americanos também insistirão na prioridade do presidente dos Estados Unidos Joe Biden de obter a saída do Afeganistão de cidadãos americanos e afegãos que ajudaram os militares durante os 20 anos de conflito.

Enquanto isso, a violência continua no país, onde um atentado suicida mortal foi executado em uma mesquita xiita em Kundunz, no nordeste do Afeganistão. No local, um funcionário do cemitério local disse à AFP que 62 sepulturas foram cavadas após o ataque, mas o número final de mortos pode se aproximar de uma centena, além dos quase 200 feridos.

Um homem-bomba do grupo do Estado Islâmico acionou sua jaqueta de explosivos na mesquita Sayed Abad, que estava lotada de fieis para a grande oração da sexta-feira. O grupo terrorista, responsável por um outro ataque, em Cabul, em 3 de outubro, também contra uma mesquita e que deixou cinco mortos, assumiu a responsabilidade pelo atentado. A comunidade xiita do país, que representa de 10% a 20% da população, é regularmente alvo de ataques de grupos armados sunitas.

Crise humanitária

Neste sábado, no cemitério na fronteira de Kunduz, os parentes das vítimas agachados à beira das sepulturas ainda estavam atordoados. Os pais de um adolescente de 17 anos, Milad Hussain, testemunharam em prantos o enterro de seu caixão. “Ele queria ir para a universidade, se casar. Estamos arrasados”, contou seu tio, Zemarai Mubarak Zada.

Ahmadshah Hashemy, que perdeu seu primo de 12 anos, vê isso como "um crime contra as crianças xiitas" da cidade, essa geração que "tinha sonhos, como todos os seres humanos" e, em particular, neste país em plena transição depois de 20 anos de guerra, “o sonho de participar na construção do país, das infraestruturas, da sociedade”.

Para o Talibã, que controla todo o Afeganistão desde meados de agosto, a principal ameaça agora vem do EI-K (Estado Islâmico em Khorasan), que dizem ter de 500 a alguns milhares de combatentes em território afegão, de acordo com as Nações Unidas. Esta organização sunita que rivaliza com o Talibã está determinada a retomar o monopólio da força e da "jihad" dos novos representantes do país, que considera serem "apóstatas".

O Afeganistão continua economicamente paralisado desde a chegada dos talibãs ao poder e do congelamento imediato de todos os ativos do país e da ajuda internacional. À beira de uma grave crise humanitária, um terço da população afegã está ameaçada de fome, pelos dados da ONU.

(Com informações AFP)

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