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Países árabes do Golfo assinam acordo de "solidariedade" e reatam com Catar, sob as bênçãos dos EUA

Os seis países árabes do Golfo assinaram um acordo de "solidariedade e estabilidade" nesta terça-feira (5), segundo anúncio do príncipe saudita Mohammed bin Salman na abertura hoje da cúpula anual regional, que visa encerrar uma disputa de mais de três anos com o Catar. “Os esforços [do Kuwait e dos Estados Unidos] nos ajudaram a chegar a um acordo sobre a declaração de Al-Ula, assinada nesta cúpula, onde afirmamos a solidariedade e a estabilidade no Golfo”, enfatizou o príncipe saudita.

O príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman (no centro) preside a 41ª reunião do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), em Al Ula, Arábia Saudita, nesta terça-feira, 5 de janeiro de 2021.
O príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman (no centro) preside a 41ª reunião do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC), em Al Ula, Arábia Saudita, nesta terça-feira, 5 de janeiro de 2021. AP - Amr Nabil
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Símbolo da reaproximação atual com os vizinhos árabes do Golfo, o emir do Catar, o xeique Tamim bin Hamad Al Thani, chegou nesta terça-feira a Al-Ula, no noroeste da Arábia Saudita, para participar de sua primeira cúpula do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), desde 2017.

O Conselho, que se reuniu nesta terça-feira (5), nasceu há 40 anos com a ambição de aproximar seus membros política, econômica e militarmente. Fazem parte do grupo Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Catar, Omã e Kuwait.

O líder do emirado foi recebido com um abraço pelo príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, na pista do aeroporto de Riad, segundo imagens do canal de televisão estatal saudita Al Ekhbariya.

Há mais de três anos, o Catar vinha sofrendo um verdadeiro boicote por parte dos vizinhos. Tudo começou em junho de 2017, quando a Arábia Saudita e três países aliados (Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito) romperam os laços com o país, acusando-o de apoiar grupos islâmicos, de manter boas relações com seus adversários iranianos e turcos e de semear desordem na região.

O Catar sempre negou as acusações, dizendo-se vítima de um "bloqueio" e de um ataque à sua soberania.

Depois de três anos e meio de boicote e de troca de mensagens hostis pela imprensa, o Kuwait, mediador do Golfo, revelou na noite de segunda-feira (4) que a Arábia Saudita, peso-pesado da região e primeiro exportador mundial de petróleo, aceitou reabrir todas as suas fronteiras e seu espaço aéreo para o Catar.

"Recomeço"

O quarteto árabe havia formulado 13 condições para a retomada das relações com Doha, em particular o fechamento da rede de televisão Al-Jazeera, desprezada por muitos regimes árabes, e compromissos para pôr fim ao financiamento de grupos extremistas, ou ainda o fechamento de uma base militar turca no Catar. Mas Doha não cedeu a nenhum desses pedidos.

Diplomatas, observadores e algumas matérias na imprensa sugeriram que nenhum desses temas de controvérsia seriam abordados durante a cúpula, o que parece afastar, por enquanto, a perspectiva de uma resolução geral da disputa.

A reaproximação parece começar com a Arábia Saudita e com o Catar, mas "os outros se juntarão, ainda que mais tarde", afirmou Bader al Saif, professor de História da Universidade do Kuwait. 

“Como toda reconciliação, ela estará repleta de armadilhas e provavelmente levará a um impasse e tensões”, acrescentou o especialista, prevendo “negociações difíceis” entre países com “interesses considerados antagônicos”.

 Apesar das declarações excepcionalmente positivas nas últimas semanas, outros países não parecem tão dispostos quanto os sauditas a fazer concessões ao Catar.

Os Emirados Árabes Unidos, em particular, permanecem hostis a Doha, devido à sua proximidade com a fraternidade islâmica da Irmandade Muçulmana. O ministro de Estado das Relações Exteriores, Anwar Gargash, no entanto, tuitou que a cúpula Al-Ula abriu "uma nova página promissora" para a região.

Isolar o Irã

Nesse contexto, os Estados Unidos intensificaram a pressão sobre todos os seus sócios do Golfo para que se resolva a crise com o Catar. O objetivo de Washington é isolar ainda mais o Irã, a poucos dias do fim do governo Donald Trump.

Seu genro e assessor, Jared Kushner, viajou para a região em busca de um acordo e acompanhará pessoalmente este "avanço", informou uma autoridade norte-americana na segunda-feira.

"Sem lugar para dúvida, a administração Trump reivindicará isso como outra vitória", comentou Tobias Borck, do "think tank" Royal United Services Institute, lembrando, porém, que os rivais do Golfo ainda não normalizaram efetivamente suas relações.

"Amigos como antes"

Mohammed bin Salman assegurou que o objetivo da cúpula era permanecer unido em face dos "desafios", em particular, "o programa nuclear iraniano, seu programa de mísseis balísticos e seus projetos de sabotagem".

O emir do Catar foi recebido na pista do aeroporto com sorrisos e abraços do príncipe saudita. Um gesto que seria inimaginável algumas semanas atrás. Os dois então trocaram algumas palavras enquanto caminhavam até uma limusine antes de serem conduzidos pela paisagem rochosa de Al-Ula, até um prédio cujas paredes externas são cobertas por espelhos que refletem o deserto circundante.

A imprensa da Arábia Saudita e do Catar, geralmente tão violentos com o campo adversário, mudaram radicalmente seu tom. Na rodovia geralmente tranquila que leva à fronteira com a Arábia Saudita, os motoristas buzinaram durante a noite e agitaram os braços nas janelas dos carros.

"Veremos todos os sauditas aqui e todos os catarianos irão para a Arábia Saudita também. Seremos amigos como antes e ainda mais", declarou Hicham al-Hachmi, um cidadão do Catar.

O rompimento com Doha havia sido acompanhado por medidas retaliatórias: fechamento de fronteiras e espaço aéreo para aviões do Catar, além de restrições de viagens ao país, o que resultou na separação de famílias mistas.

(Com informações da AFP)

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