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Para salvar campanha de doações em meio a escândalo, Santa Sé publica balanços financeiros

O Vaticano, que esteve esta semana no centro de um escândalo sobre investimentos controversos, divulgou detalhadamente seus extratos financeiros nesta quinta-feira (1), com o desejo de garantir maior transparência, como exige o papa Francisco.

O papa Francisco reza com un grupo de sacerdotes no término de uma audiência pública restrita no dia 30 de setembro de 2020 no pátio de São Dámasio, no Vaticano.
O papa Francisco reza com un grupo de sacerdotes no término de uma audiência pública restrita no dia 30 de setembro de 2020 no pátio de São Dámasio, no Vaticano. AFP
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A divulgação dos balanços consolidados de 2019 representa um passo importante, embora não inclua todas as contas da Igreja. "É possível que em alguns casos a Santa Sé tenha sido mal aconselhada, até mesmo enganada. Acho que estamos aprendendo com os erros e imprudências do passado", reconheceu em entrevista ao site do Vaticano o jesuíta espanhol Juan Antonio Guerrero Alves, que desde janeiro dirige o poderoso Secretariado para a Economia da Santa Sé.

Uma avalanche de testemunhos e documentos vazados para a imprensa italiana revelou uma rede de empresas e consultorias, quase todas italianas, que acabaram por criar um rombo de mais de € 454 milhões (cerca de US$ 500 milhões), segundo a revista L'Espresso. Os dados foram levantados na investigação aberta há um ano sobre os opacos arranjos financeiros da Santa Sé.

O patrimônio líquido de todas as instituições da Santa Sé é de € 4 bilhões (US$ 4,6 bilhões), incluindo a Cúria Romana, o Estado da Cidade do Vaticano – que administra os famosos museus –, o Banco do Vaticano, os fundos de pensões e várias fundações.

Doações, investimentos e lucros

"A economia da Santa Sé deve ser uma casa de cristal", reconheceu o prelado espanhol.

A Cúria Romana, governo central da Igreja, que congrega 60 entidades de serviços ao papa, tem um patrimônio líquido de € 1,4 bilhão (US$ 1,6 bilhão), calculando aplicações financeiras e receitas imobiliárias.

"A Santa Sé não funciona como empresa nem como Estado, não visa o lucro", sublinhou o padre Guerrero.

De acordo com os dados, a Santa Sé registrou um déficit financeiro em 2019 de €11 milhões  (quase US$13 milhões ) contra € 75 milhões (US$ 88 milhões) no ano anterior, melhoria que foi possível graças ao bom desempenho de aplicações financeiras e algumas transações extraordinárias. As receitas somaram € 307 milhões (US$360 milhões) e houve € 318 milhões (US$373 milhões ) em despesas. O caixa foi reforçado com € 15 milhões de euros (US$17,6 milhões  obtidos com a venda de uma propriedade, entre outras operações. Ao mesmo tempo, a Santa Sé adquiriu duas propriedades em Roma. Os últimos balanços oficiais que a Cúria divulgou oficialmente datam de 2015.

De acordo com o chefe da Economia do Vaticano, um jesuíta próximo do papa Francisco, os recursos do "Obolus de São Pedro", que recebe doações de todo o mundo para as obras de caridade do pontífice, não foram usados para a polêmica compra de um edifício luxuoso no centro de Londres, operação sob investigação judicial.

Essa compra, feita em duas etapas, por intermédio de vários empresários, foi realizada com "recursos reservados da Secretaria de Estado".

Este esclarecimento é considerado fundamental neste momento, já que as doações para o Obolus serão feitas no próximo domingo, em vez do final de junho, devido à pandemia do coronavírus. O valor arrecadado dará uma ideia do impacto do escândalo.

Em 2019, graças a donativos, foram arrecadados € 53 milhões (mais de US$ 62 milhões), dos quais €10 milhões de euros (quase US$11,7 milhões) foram destinados a fins específicos a pedido dos doadores.

Essas doações podem ser utilizadas em investimentos seguros, como "faz todo bom pai de família", disse Guerrero, que excluiu o financiamento da indústria de armamentos, como exigiu o pontífice argentino.

Com informações da AFP

 

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