“Líbano não está sozinho”, mas ajuda externa será dada sob condições, afirmam doadores internacionais
Um grupo de doadores internacionais, entre eles a França e os Estados Unidos, participou neste domingo (9) de uma videoconferência de apoio ao Líbano, que tenta se reconstruir após as explosões no porto de Beirute na terça-feira (4). Eles prometeram ajudar o país com mais de € 250 milhões, mas pedem reformas políticas e querem que as doações enviadas sejam entregues diretamente à população. O encontro aconteceu no momento em que novos protestos violentos tomavam as ruas da capital libanesa.
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“Os participantes decidiram que a ajuda deve ser coordenada pelas Nações Unidas e fornecida diretamente à população libanesa, com o máximo de eficácia e transparência”, declararam os representantes de cerca de 30 países. Os doadores se comprometeram em reunir “importantes recursos” para responder às necessidades imediatas de Beirute, segundo uma declaração conjunta divulgada após a reunião.
Segundo a presidência francesa, mais de 250 milhões foram prometidos durante o encontro. A Comissão Europeia confirmou uma ajuda de € 30 milhões, que será somada aos € 33 milhões anunciados na quinta-feira (6). Bruxelas avisou que o uso do dinheiro será submetido a um “controle restrito”.
A Grã-Bretanha doará £ 20 milhões, além dos £ 5 milhões que já haviam sido oferecidos. A Alemanha disponibilizou € 10 milhões, além dos € 1,5 milhão anunciados durante a semana. A Suíça se comprometeu em doar 4 milhões de francos suíços em ajudas diretas, além de 500 mil francos para a Cruz Vermelha libanesa. Já a Espanha vai enviar dez toneladas de trigo, além de medicamentos, equipamentos hospitalares e abrigos temporários.
Além dos europeus, neste domingo o presidente brasileiro Jair Bolsonaro prometeu o envio de medicamentos por via aérea, além de 4 mil toneladas de arroz. À frente da missão estará o ex-presidente, Michel Temer, filho de libaneses.
As explosões deixaram pelo menos 158 mortos e cerca de 6 mil feridos. Segundos as agências das Nações Unidas, mais de 250 mil pessoas estão em situação de extrema vulnerabilidade após a tragédia. A ONU estima o custo das necessidades de saúde no Líbano em US$ 85 milhões.
Reforma política é esperada
“Os participantes estão prontos para apoiar a reconstrução econômica e financeira, que passa pela implementação das reformas esperadas pela população libanesa”, disseram os doadores na mesma declaração comum. O aviso mostra que a comunidade internacional está atenta às críticas feitas ao governo do Líbano.
O país já enfrentava há meses uma grave crise política e econômica e as explosões foram um novo estopim para protestos da população, que pede uma mudança radical na classe política. Os libaneses, que acusam o governo de corrupção, criticam a inércia das autoridades diante da catástrofe e afirmam que seus dirigentes são responsáveis pelo caos atual no país.
Os doadores insistiram na necessidade de uma “investigação imparcial, fiável e independente”, sobre as circunstâncias da catástrofe e ofereceram ajuda ao Líbano para isso. Mas o presidente libanês, Michel Aoun, já havia excluído, na sexta-feira (7), qualquer tipo de investigação internacional, após um primeiro pedido do presidente francês, Emmanuel Macron.
Novos protestos e demissões de ministros
Enquanto os líderes mundiais discutiam o futuro do Líbano na videoconferência, a população saia novamente às ruas, após uma enorme manifestação no sábado (8). Neste domingo, manifestantes e polícia se enfrentaram nas ruas de Beirute.
Imagens transmitidas pela mídia libanesa mostram a entrada do Parlamento incendiada. Várias pessoas tentaram entrar no ministério dos Transportes e moradia, um dia após os ministérios dos Relações Exteriores, da Economia e da Energia terem sido temporariamente invadidos.
Os protestos já têm causado impacto na política local. A ministra da Informação do Líbano, Manal Abdel Samad, e o ministro do Meio Ambiente, Damianos Kattar, reunciaram neste domingo e, no sábado, o primeiro-ministro libanês, Hassan Diab, anunciou que pretende propor eleições parlamentares antecipadas no país.
O patriarca da Igreja Cristã Maronita do Líbano, Bechara Boutros al-Raï, pediu neste domingo que o governo renuncie caso nao seja capaz de mudar sua maneira de dirigir o país.
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