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Sanções americanas ao Irã ameaçam exportação de gado francês

No noroeste da França, a volta das sanções dos Estados Unidos contra o Irã já afetam a indústria da carne e colocam em risco negócios importantes para o país. Milhares de vacas francesas que seriam enviadas a Teerã podem permanecer em solo europeu. Trata-se de uma venda para um dos maiores frigoríficos no Irã. O negócio representa "€ 10 ou 15 milhões", mas pode ser "abandonado", segundo Nathalie Goulet, senadora do partido UDI (União dos Democratas Independentes, de centro-direita) da região .

A exportação de vacas da Normandia para o Irã está ameaçada pelas sanções americanas. (foto ilustrativa)
A exportação de vacas da Normandia para o Irã está ameaçada pelas sanções americanas. (foto ilustrativa) CHARLY TRIBALLEAU / AFP
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O contrato, assinado em 2016, tem como objetivo enviar por ano 10 a 20 mil cabeças de gado jovem da Normandia (região no norte da França) para uma grande cadeia de abatedouros iraniana, a Seamorgh. Seria a primeira importação de gado vivo para o Irã desde a Revolução Islâmica. Uma remessa-teste foi enviada com êxito em outubro de 2017.

Inicialmente relutantes, com medo de um impacto sobre os preços no mercado francês, os agricultores normandos ficaram satisfeitos com a operação. "O acordo representa uma oportunidade significativa para os agricultores", disse Anne-Marie Denis, presidente da Federação dos Sindicatos dos Agricultores (FDSEA) do Orne (região noroeste). "Mas nós esperamos oferecer outros produtos mais pra frente: alimentos para o gado" e especialmente "carne processada, com valor agregado", diz ela.

Parceiros importantes saíram de cena

As esperanças dos agricultores foram por água abaixo com a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã e as severas sanções econômicas que os EUA restabelecram na terça-feira (7). Estas incluem bloqueios em transações financeiras e importações de matérias-primas de empresas que continuem a negociar com o Irã. "Qualquer pessoa que faça negócios com o Irã não fará negócios com os Estados Unidos", advertiu Donald Trump no Twitter na terça-feira.

Os bancos franceses envolvidos no projeto agora recusam dinheiro iraniano, apresentado na forma de cartas de crédito. A Agrial, uma cooperativa agrícola responsável pela coleta de gado em várias fazendas, retirou-se do projeto. A Coface (companhia de seguros francesa para o comércio exterior), que deveria se encarregar das exportações disse que "não pode fazê-lo", acrescenta Goulet.

Este duro golpe no projeto francês é apenas o reflexo de um problema mais amplo: Daimler, PSA, British Airways, Lufthansa, Air Liquide são algumas das empresas que já decidiram se retirar do Irã. Todos se lembram da pesada multa de quase US$ 9 bilhões aplicada em 2014 ao BNP Paribas por burlar os embargos. "Não estamos imunes a um golpe de Donald Trump, que pode decidir durante a noite boicotar outro país, como o Japão", adverte a senadora, pedindo por "mais Europa" e por meios para "lutar contra a extraterritorialidade do direito americano".

Posição europeia

A União Européia acaba de ativar, na terça-feira, a chamada "lei de bloqueio", que visa especialmente anular os efeitos, na UE, de qualquer decisão judicial estrangeira baseada em sanções. Este dispositivo proíbe as empresas europeias de cumprir os efeitos extraterritoriais das sanções, sob risco de penalidades, e abre a possibilidade de indenizações. No entanto, a eficácia desta medida nunca foi testada.

Se o projeto de exportação de gado está "em suspenso", ele "não está abandonado", assegura o presidente da região da Normandia, Hervé Morin, que fala da possibilidade de recorrer a circuitos financeiros alternativos, como "bancos estrangeiros".

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