Sauditas lotam primeiras salas de cinema abertas no país
Pegar um cinema no domingo é uma diversão banal para os moradores de qualquer cidade ocidental com o mínimo de infraestrutura. Mas na Arábia Saudita, até abril deste ano, ver um filme em uma sala era uma atividade proibida pelo reino islâmico, que adota o wahabismo, uma vertente ultraconservadora da religião muçulmana.
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Os dois primeiros cinemas de Riad abriram as portas no dia 18 de abril. Um deles é o Vox, situado em um grande centro comercial na capital árabe. O sucesso é tamanho que várias sessões se esgotam com semanas de antecedência, conta o correspondente da RFI, Nicolas Falez, que foi até o local conversar com os espectadores.
O desenvolvimento das atividades culturais e o investimento no lazer da população integram o vasto plano de reforma lançado pelo princípe herdeiro saudita, Mohammed Ben Salmane. O motivo é antes de tudo econômico : depois da queda do preço do petróleo em 2014, a Árabia Saudita, maior exportador mundial do bruto do mundo, buscou diversificar os setores, aumentando a oferta de entretenimento.
As quatro salas do Vox propõem superproduções americanas como “Avengers”, ou “Black Panthers”, legendadas em árabe. A jovem May, por exemplo, já tinha ido ao cinema em Dubai e nos Estados Unidos, mas nunca em seu próprio país. Ela achou o filme “fantástico”, “Ver Avengers aqui, na minha cidade, tem outra graça. Eu me sinto orgulhosa e feliz”, se empolga.
Fahad veio com suas duas filhas adolescentes e a abertura do cinema não foi exatamente uma surpresa para ele, que assim como boa parte da população, tinha a certeza de que esse tipo de mudança era apenas uma questão de tempo. “Vivemos em um país aberto, mas existe a religião. São os mais velhos que impunham essa proibição, mas no cinema não fazemos nada mal”.
Homem de um lado, mulher de outro
O cinema em Riad respeita escrupulosamente a separação no espaço público que vigora na Arábia Saudita, adepta da xaria, a lei islâmica: há sessões reservadas para famílias, e outras apenas para homens desacompanhados. Assim como os programas na TV, os filmes exibidos no cinema também serão submetidos à censura, que considera assuntos ligados ao sexo, à religião e à política como tabus.
Antes da chegada oficial dos cinemas no reino, os sauditas eram obrigados a assistir seus filmes em parques de atração de Dubai ou no Bahrein, onde gastam todos os anos bilhões de dólares.
Fashion Week
Outro sinal de abertura do reino saudita foi a organização em abril da primeira semana de moda organizada em Riad, a Arab Fashion Week. Programada para o fim de março, ela teve a data modificada para receber convidados internacionais de peso, como os estilistas Jean-Paul Gaultier e Roberto Cavali. Vale lembrar que, dos 150 clientes de alta costura no mundo, a metade é de origem saudita, lembra a revista francesa "Le Nouvel Observateur."
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