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Francófono, Kim Jong-nam vinha sempre a Paris e curtia ouvir Gainsbourg

O jornal Le Monde publicou um artigo bastante curioso sobre as relações com a França de Kim Jong-nam, o meio-irmão assassinado do líder norte-coreano Kim Jong-un. Ele vinha várias vezes por ano a Paris, onde os amigos ignoravam sua real identidade.

Kim Jong-nam esteve em Paris em janeiro, antes de ser assassinado em Kuala Lumpur em 14 de fevereiro de 2017
Kim Jong-nam esteve em Paris em janeiro, antes de ser assassinado em Kuala Lumpur em 14 de fevereiro de 2017 DR
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"Foi olhando o perfil Facebook de um amigo do colégio, em que aparecem testemunhos de tristeza, que Delphine compreendeu. O colega adolescente, com quem ela retomou contato em 2007, sempre o chamando pelo nome que ele usava, "Lee", era o homem de quem todas as mídias do mundo falaram no dia 14 de janeiro".

Assim começa o artigo do vespertino francês, que entrevistou Delphine, ex-colega de classe de Kim Jong-nam, ou "Lee", assassinado no aeroporto de Kuala Lumpur por duas mulheres, depois de inalar um potente agente químico, o VX.

Humor, talento para desenhar e francês perfeito

Delphine estudou com ele na prestigiosa Escola Internacional de Genebra, e conta para Le Monde que nem durante sua juventude, quando se viam todos os dias, nem durante as recentes conversas telefônicas, Kim Jong-nam revelou sua verdadeira identidade, sendo conhecido por todos como Kim Chol. "Foi lendo os posts em seu mural que Delphine, que hoje vive na Bretanha, compreendeu que tinha sido amiga do meio-irmão do ditador mais temido do planeta", revela o artigo. Ela conheceu Jong-nam nos anos 80, quando ele foi estudar na Suíça, onde sempre se manteve discreto sobre suas origens. Delphine lembra que ele tinha jeito para desenhar: "Era talentoso, e com seu humor, poderia ter se lançado nas histórias em quadrinhos", lembra.

Antes de ir para Genebra, Kim Jong-nam havia estudado em Moscou. Foi na capital russa que ele se inscreveu na escola primária do Liceu francês, famoso por seu alto nível, e onde aprendeu a falar perfeitamente o idioma. Le Monde entrevistou um colega da época, que lembra que ele usava o nome de família "Ri" e ocupava um andar inteiro de um prédio, tendo reunido entre 5 e 6 apartamentos para formar um só. "Em uma sala, ele tinha uma coleção impressionante de relógios Rolex e de canetas Montblanc. Uma outra era lotada de vídeos", lembra o entrevistado anônimo, dizendo também que ele adorava filmes de kung-fu. Uma Mercedes Benz com motorista e dez empregados cuidavam dele e de sua prima, com quem morava. "Isso me intrigava, eu me perguntava o que aquele menino fazia sozinho em Moscou, sem o pai".

Le Monde destaca que o medo do ditador norte-coreano Kim Jong-un é tão grande que nenhuma das pessoas entrevistadas aceitou ser fotografada ou identificada. Mas todos são unânimes em classificar Jong-nam de "gentleman", "jovial", "discreto", "normal", "despretensioso".

Quando o jovem ditador Kim Jong-un, sedento de poder, manda executar seu tio em dezembro de 2013, o meio-irmão sente a ameaça pesar sobre sua família. Uma verdadeira escolta policial passa a proteger um de seus filhos, Kim Han-sol, estudante no curso Europa-Ásia na renomada Sciences Po do Havre, no norte da França. Depois de dois anos, Han-sol terminará a formação em Paris.

Gainsbourg, champanhe, Paris...

Le Monde conclui que a escolha de enviar seu filho para estudar na Normandia foi um dos sinais da afeição que Kim Jong-nam tinha pela francofonia. O jornal cita um post dele no Facebook, em 2013: "Tenho saudades da Europa". Entre seus artistas favoritos, estava o cantor Serge Gainsbourg.

Jong-nam vinha a Paris várias vezes por ano, conta uma outra amiga ouvida por Le Monde, confirmando que ele passou pela capital em janeiro passado; como sempre, ele só avisou os amigos quando já estava na cidade, informa Le Monde.

As últimas investigações acentuam a suspeita de que Kim Jong-nam tenha sido morto pelo regime da Coreia do Norte.
 

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