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Turquia/curdos

Presidente turco fará "tudo que for necessário" contra PKK

No avião de volta depois de uma visita à Ásia, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, jurou nesta segunda-feira (3) que fará "tudo o que for necessário" para proteger a Turquia contra o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK). Há duas semanas, o país está imerso em uma controversa guerra contra os curdos e não há sinais de que a violência cessará.

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan e sua mulher, Emine, acenam do avião presidencial durante viagem à Ásia
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan e sua mulher, Emine, acenam do avião presidencial durante viagem à Ásia
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Apesar de Ancara ter anunciado que essa luta "anti-terror" aconteceria em duas frentes, contra o PKK e contra o grupo Estado Islâmico, a esmagadora maioria dos ataques visa posições curdas no norte do Iraque. Começa a crescer a preocupação com as mortes de não-combatentes nos bombardeios turcos.

No sábado, um desses ataques matou dez civis no norte do Iraque - entre eles, crianças e uma mulher grávida. A denúncia foi feita pelo partido pró-curdo HDP (Partido Democrático do Povo), em Ancara, mas o governo turco afirmou que todos os alvos eram abrigos de "terroristas". Para Erdogan, quem teme os ecos regionais desse conflito é contrário às operações militares turcas.

O presidente chegou a afirmar ainda que os curdos, que compõem a mais eficaz força de combate contra os jihadistas, têm um "interesse em comum" com o grupo Estado Islâmico: enfraquecer o governo da Turquia. Mas o fato é que, desde março de 2013, o PKK vinha respeitando uma trégua unilateral declarada pelo líder preso do movimento, Abdullah Ocalan.

Os ataques dos militantes curdos contra as forças de segurança voltaram a acontecer depois que um atentado matou 32 militantes de esquerda na cidade de Suruç, na fronteira entre a Turquia e a Síria, no dia 20 de julho. Eles se preparavam para partir em missão humanitária à cidade síria de Kobani, recém-retomada dos jihadistas pelos curdos, quando aconteceu a explosão, atribuída ao grupo Estado Islâmico.

Depois disso, os protestos contra o suposto colaboracionismo de Erdogan com a organização se degeneraram em ataques armados.

Mais violência

De acordo com uma estimativa feita pela agência France Presse, 17 membros das forças de segurança foram mortos desde então. Os funerais de soldados e policiais se tornaram eventos cotidianos, transmitidos ao vivo pela televisão estatal.

Na manhã desta segunda-feira (3), dois blindados foram danificados na província de Bitlis, ao sul do país, depois de passar sobre uma mina ativada por controle remoto. Os soldados não se feriram. Na cidade de Tatvan, homens armados atacaram um hospital militar. Essas ofensivas foram atribuídas ao PKK. No domingo, a guerrilha curda cometeu seu primeiro atentado suicida: um caminhão carregado de explosivos foi atirado contra um posto militar, matando dois soldados e ferindo 31.

Crise de fachada

O HDP acusa o presidente Recep Erdogan de criar a crise de segurança para forçar novas eleições, justamente para tentar tirar o partido pró-curdo do Parlamento. Depois de uma forte mobilização da esquerda nas redes sociais, o HDP ultrapassou a barra dos 10% nas eleições legislativas de 7 de junho e conseguiu entrar no parlamento, derrubando a maioria absoluta do AKP, partido do presidente. O chefe do Estado precisava dessa maioria para passar seu principal projeto: outorgar plenos poderes ao presidente da República. No parlamentarismo turco, o poder de fato é exercido pelo primeiro-ministro.

Na última terça-feira, Erdogan pediu que o Parlamento acabe com a imunidade dos deputados ligados a "terroristas" e julgou que a continuidade do processo de paz com os separatistas é "impossível". Essas declarações visavam obviamente o HDP, a quem o presidente sempre acusou de manter ligações com o PKK, considerado como organização terrorista por Ancara e por seus aliados ocidentais.

Esse interesse de Erdogan em eliminar o HDP da cena política justificaria o fato de Ancara ter decidido tratar em pé de igualdade o movimento independentista curdo e os jihadistas, uma manobra considerada absurda pelo diretor do Instituto Curdo de Paris, Kendal Nezan: "Nós vemos o que é o grupo Estado Islâmico: decapitações, escravidão de mulheres... Colocar em um mesmo patamar esses jihadistas e os curdos que, há 30 anos, lutam pela obtenção de seus direitos culturais, pela autonomia regional, pelo ensino de sua língua nas escolas, que enfrentam na linha de frente o grupo Estado Islâmico e outras organizações, que defendem valores laicos, igualdade de gênero, direitos humanos, o pluralismo democrático, é totalmente chocante", afirmou na semana passada, em entrevista à RFI.

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