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França/tolerância

Apesar de atentados, franceses estão mais tolerantes

Contrariamente ao que o senso comum pode levar a crer, em tempos de atentados e crescimento da extrema-direita, os franceses nunca foram tão tolerantes como em 2015. A população do país também nunca esteve tão sensível em relação ao multiculturalismo. Esta é a conclusão do relatório da Comissão Nacional Consultativa dos Direitos Humanos (CNCDH).

Relatório da CNCDH afirma que os franceses nunca foram tão tolerantes no que diz respeito a religião e ver a sua sociedade como multicultural.
Relatório da CNCDH afirma que os franceses nunca foram tão tolerantes no que diz respeito a religião e ver a sua sociedade como multicultural. REUTERS/Christian Hartmann
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Depois de quatro anos em baixa, o chamado índice longitudinal de tolerância na França teve uma “clara progressão”, segundo o documento. Elaborado pelo sociólogo Vincent Tiberj a partir de 69 questões, o objetivo do índice é medir de maneira “sintética e rigorosa” a evolução da opinião pública, de acordo com a comissão, em temas como racismo, antissemitismo e xenofobia. O resultado deste ano, desta forma, foi mais do que inesperado – levando-se em conta, por exemplo, uma alta dos atos contra o Islã, como o incêndio de uma sala de oração em Ajaccio, na Córsega, em 30 de abril.

Para o grupo de pesquisadores que elaborou o trabalho, esse resultado se explica pela evolução conjuntural da sociedade francesa. O nível de estudos e a “renovação generacional” são dois elementos a longo prazo que tornam mais fácil aceitar a diferença. “Observando a sociedade francesa de perto, podemos perceber um aumento do número de casamentos binacionais e a instalação de uma elite oriundo da diversidade. São sinais de que a França se enxerga cada vez mais como uma sociedade plural”, lembra Christine Lazerges, presidente da comissão.

Índice beneficia todas as minorias

O documento mostra que a comunidade negra nunca foi tão bem aceita desde 1999, os muçulmanos têm o mesmo nível de aceitação que em 2009 e os judeus são a comunidade mais aceita na França. A tolerância em relação aos ciganos também melhorou, segundo o relatório. Esses dados, se confrontados à longa lista de fatos racistas que marcaram 2015, pode surpreender. Os atos antissemitas registraram um recuo de 5,1%, mas os atos contra muçulmanos triplicaram – 429 foram contabilizados em 2015, contra 133 em 2014. Mais da metade aconteceu em janeiro e novembro, meses em que ocorreram os atentados.

Comissão pede que políticos fiquem atentos a declarações

Mas, por mais paradoxal que isso possa parecer, esse balanço desfavorável não diminui a importância do resultado do estudo. Isso porque os atos racistas não seguem a lógica das opiniões. Para Nonna Mayer, diretora de pesquisa do Centro de Estudos Europeus da Sciences Po, “esse tipo de ação é, de maneira geral, executada por delinquentes. Já as opiniões delimitam o que é proibido e permitido”, disse, em entrevista ao jornal Le Monde.

Isso significa que, mesmo que a tolerância entre os franceses tenha aumentado, trata-se de um avanço que ainda precisa ser consolidado. A comissão faz, neste sentido, uma série de recomendações. Além da adoção de políticas educacionais para a emergência de uma classe de cidadãos mais tolerantes, o grupo aponta a responsabilidade de alguns políticos e suas declarações, que contribuem para um clima hostil.

“Os discursos tendenciosos de alguns políticos, que misturam terrorismo e asilo, associam delinquência e imigração sem nenhuma base estatística, e confundem fundamentalismo com identidade religiosa, se intensificaram nesses últimos anos”, diz Lazerges. A comissão pede, nesse sentido, que os políticos sejam particularmente vigilantes ao “potencial discriminatório de algumas posições ou ações”.
 

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