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Déficit explode na França e Macron é pressionado a endossar proposta de Lula de taxar fortunas

O presidente Emmanuel Macron inicia sua visita ao Brasil no dia em que o Instituto Nacional de Estudos e Estatísticas (Insee) divulga os dados consolidados do déficit público francês em 2023. O índice fechou o ano em 5,5% do PIB, valor bem mais alto que os 4,8% registrados em 2022. Imprensa, ONGs e oposição criticam a "obstinação cega" de Macron em não elevar os impostos dos ultrarricos para corrigir as distorções do atual sistema fiscal tanto na França quanto nos demais países do G20.

O ministro da Economia francês, Bruno Le Maire (à esquerda), e o presidente Emmanuel Macron durante reunião no Palácio do Eliseu.
O ministro da Economia francês, Bruno Le Maire (à esquerda), e o presidente Emmanuel Macron durante reunião no Palácio do Eliseu. via REUTERS - POOL
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Segundo o Insee, a alta do déficit público francês, que tem como consequência aumentar a dívida do país, aconteceu porque as receitas do Estado não acompanharam os gastos, crescendo apenas 2% no ano passado, contra 7,4% em 2022. O rombo nas contas públicas alcançou € 154 bilhões contra € 125,8 bilhões no ano precedente. A arrecadação de impostos na sétima maior economia do mundo ficou muito aquém do necessário para equilibrar minimamente as contas públicas devido à desaceleração da economia, destaca o Insee.

Imprensa, ONGs e oposição criticam a "teimosia" de Macron em não elevar os impostos para diminuir o peso da dívida, que atingiu 110,6% do PIB no final do ano passado.

O ministro da Economia e Finanças, Bruno Le Maire, disse nesta terça-feira (26) que mantém sua determinação em reduzir o déficit público abaixo de 3% do PIB em 2027, como exige o pacto de estabilidade europeu, sem convencer a opinião pública e parlamentares do partido governista. Le Maire afirmou que as agências governamentais francesas terão de encontrar outras formas de cortar gastos. “A perda de receitas fiscais chegou a € 21 bilhões em 2023", explicou o ministro em entrevista à rádio RTL. "As receitas fiscais foram inferiores ao esperado porque a inflação caiu mais rapidamente do que a previsão", acrescentou. Ao mesmo tempo, as despesas relacionadas com o seguro-desemprego e de custeio municipal aumentaram.

Risco de falência

Os jornais Libération, Les Echos, Le Monde e Le Figaro constatam que Macron resiste à ideia de aumentar os impostos dos mais ricos e das empresas. Essa "teimosia" deixa a França numa situação de "risco de falência", escreve o Le Figaro

Segundo editorial do Les Echos, "Macron não tem mais escolha e precisa colocar o ajuste fiscal no topo da lista de prioridades" no restante de seu mandato.

Leia tambémPor que, apesar de avanços, ricos e empresas continuam a sonegar bilhões de impostos pelo mundo

Pesquisa publicada no Libération, feita pelo instituto Viavoice, mostra que os franceses consideram o sistema fiscal do país cada vez mais injusto. "A aspiração por mais justiça fiscal fica evidente nesta sondagem. Quase metade das 1.001 pessoas entrevistadas acredita que 'é preciso aumentar os impostos' daqueles que têm mais recursos: 27% para 'as empresas que fazem os maiores lucros', 20% para 'as categorias mais ricas da população'. Em comparação, apenas 4% do painel [de entrevistados] é a favor de um aumento de impostos 'para todos os domicílios'". 

Oxfam pede a Macron para apoiar iniciativa de Lula de taxação de fortunas

Na mesma edição do Libération, um artigo assinado pelas dirigentes da ONG Oxfam no Brasil, Katia Maia, e Cécile Duflot, na França, pedem a Macron que manifeste apoio à proposta do presidente Lula de taxar os ultrarricos durante a presidência brasileira do G20

"À medida que as desigualdades econômicas aumentam, o enriquecimento dos ultrarricos fratura as sociedades. A inflação aumentou, mas a fortuna dos bilionários cresce três vezes mais rapidamente. Desde 2020, ela aumentou US$ 3,3 trilhões", aponta o artigo.

A Oxfam recorda que 69% da riqueza mundial se encontra nos países do Norte, onde residem 21% da população mundial. Ao mesmo tempo, a renda de 5 bilhões de pessoas diminuiu e uma em cada duas pessoas vive com menos de US$ 6,85 por dia.

"Na visita do presidente Macron ao Brasil nesta terça-feira, pedimos que ele demonstre o apoio da França à proposta do presidente Lula, abrindo o caminho para a criação de um imposto mínimo global a ser pago pelos ultrarricos", insiste a Oxfam. "Seria a esperança de um mundo com impostos mais justos, mas também uma solução para gerar trilhões de dólares essenciais para combater as desigualdades e as mudanças climáticas", concluem Katia Maia e Cécile Duflot, da Oxfam.

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