Acessar o conteúdo principal

Líder da esquerda radical francesa Jean-Luc Mélenchon é criticado por equiparar Israel ao Hamas

O ataque do movimento extremista Hamas ao sul de Israel, no sábado (7), gerou uma nova polêmica na França envolvendo o partido A França Insubmissa (LFI), fundado pelo político de esquerda radical Jean-Luc Mélenchon, ex-candidato à presidência e atualmente sem mandato eletivo. A bancada da LFI na Assembleia de Deputados francesa se recusou a usar o termo "terrorismo" para descrever a ação do Hamas e sugeriu que o governo de Israel tinha tanta responsabilidade quanto os extremistas pelo conflito.

O líder da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon se recusou a utilizar o termo "terrorismo", ao falar sobre os ataques dos extremistas palestinos em Israel.
O líder da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon se recusou a utilizar o termo "terrorismo", ao falar sobre os ataques dos extremistas palestinos em Israel. AP - Aurelien Morissard
Publicidade

O posicionamento assumido pelos parlamentares "insubmissos" tem recebido fortes críticas dos demais partidos franceses, da imprensa e gera a indignação de lideranças judaicas. Há tempos Mélenchon é acusado de flertar com o antissemitismo, por sua maneira de defender a luta dos palestinos por um estado independente, ao lado de Israel.

O partido LFI é um dos integrantes da Nupes (Nova União Popular Ecológica e Social), a bancada de esquerda que reúne socialistas, ecologistas e comunistas no Parlamento francês. Segundo o jornal Le Parisien, ao equiparar a responsabilidade do Hamas à do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que atualmente lidera a coalizão mais direitista, ultranacionalista e ultraortodoxa da história de Israel, os deputados do movimento de Mélénchon "se alienaram de seus parceiros".

O deputado socialista Jérôme Guedj disse que ficou "nauseado" com a fala de Mélenchon. O secretário-geral do PS, Olivier Faure, afirmou que o posicionamento do esquerdista iria deixar marcas. "Jean-Luc Mélenchon está mais isolado do que nunca na esquerda", aponta o Le Parisien

O número 2 do movimento, Manuel Bompard, tentou atenuar as declarações do líder, ao afirmar que condenava o ataque do Hamas a Israel, inclusive manifestando solidariedade às famílias israelenses e palestinas. Mas em vez de pronunciar a palavra "terrorismo", Bompard se referiu a "crimes de guerra". 

Na noite de segunda-feira (9), depois de o Conselho Representativo das Entidades Judaicas Francesas reunir 16 mil pessoas em uma manifestação de apoio a Israel em Paris, Mélenchon voltou a fazer uma leitura particular dos fatos. Ele disse que o Crif tentava "obrigar todo mundo a se alinhar à posição do governo de extrema direita israelense", aceitando inclusive a participação de deputados da extrema direita francesa (do partido reunião Nacional) no protesto, o que "impede o povo francês de se solidarizar com o desejo de paz". 

Declaração "abjeta"

Em entrevista à rádio RMC, o presidente da entidade judaica, Yonathan Arfi, declarou que Mélenchon se tornou "um inimigo da República", preferindo "legitimar o terrorismo ao equiparar Israel e o Hamas". Ele chamou de "abjeta" a visão de Mélenchon.

O jornal progressista Libération escreveu que "condenar o terrorismo e a morte deliberada de civis era um pré-requisito óbvio", após o ataque do Hamas. Analisar as responsabilidades históricas que resultaram na nova guerra entre israelenses e palestinos pode ser algo positivo no futuro, mas "a verdadeira natureza de um movimento político pode ser avaliada pela primeira reação a um evento dramático", destacou o Libération.

Na avaliação deste veículo francês, "quando os dominados se tornam islamitas radicais e terroristas, a esquerda não deve segui-los cegamente ou encontrar desculpas. A esquerda deve colocar a democracia acima de todas as outras considerações", aponta o Libération.

"A postura pró-Palestina teria sido totalmente justificada e compreensível se a palavra 'terrorismo' tivesse sido usada desde o início", sublinha o jornal. "A posição da LFI em questões geopolíticas nem sempre parece ser guiada pela defesa da democracia, que está sendo atacada em todo o mundo", conclui o Libération.

"Perseguição"

Mélenchon respondeu às críticas em seu blog. O esquerdista denunciou "um linchamento permanente da mídia", principalmente por parte de jornalistas da rádio pública France Inter. Ele recordou, entre outros incidentes, as "ameaças de morte" recebidas por parlamentares da LFI Sophia Chikirou e Ersilia Soudais e o "racismo comprovado" contra o parlamentar Carlos Martens Bilon, que é negro.

O ex-candidato à presidência também criticou duramente o governo. "Os comunicados do governo não incluem mais apelos à contenção, ao cessar-fogo ou à paz. Essas palavras não existem mais nos comunicados oficiais", disse.

Mélenchon ainda esclareceu o posicionamento de seu partido: "Não aprovamos nenhum massacre, seja quais forem os autores. Como poderíamos acreditar em outra coisa?", perguntou ele, em resposta aos críticos. E concluiu: "Devemos nos ater à posição tradicional francesa. Pensar e agir como os franceses e seus governos sempre fizeram desde De Gaulle com relação a essa região do mundo e seus protagonistas. Recusar o uso da força, defender um cessar-fogo e respeito às resoluções da ONU".

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.