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França: Milhares vão às ruas em 10° dia de greve; queda de braço entre governo e sindicatos continua

A população francesa voltou às ruas nesta terça-feira (28) para a décima jornada de manifestações contra a reforma da Previdência. Em todo o país, a mobilização foi marcada por uma diminuição dos confrontos entre policiais e manifestantes. No entanto, o clima entre as centrais sindicais e o governo continua tenso, marcado pela resistência do presidente francês, Emmanuel Macron, em direção a uma negociação.  

De acordo com a central sindical Confederação Geral do Trabalho (CGT), 2 milhões de manifestantes saíram às ruas em toda a França, sendo 450 mil em Paris, nesta terça-feira (28).
De acordo com a central sindical Confederação Geral do Trabalho (CGT), 2 milhões de manifestantes saíram às ruas em toda a França, sendo 450 mil em Paris, nesta terça-feira (28). © REUTERS/Nacho Doce
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De acordo com o Ministério do Interior, 740 mil pessoas participaram de protestos em todo o país. A contagem do governo aponta para 93 mil pessoas na capital, onde os manifestantes fizeram uma passeata da Praça da República, no centro, à Praça da Nação, no leste. Já os números da central sindical Confederação Geral do Trabalho (CGT) apontam para 2 milhões de participantes na França, sendo 450 mil em Paris. 

As mídias francesas são unânimes em afirmar que o atos registraram menos atos de violência, depois de semanas de hostilidades entre as forças de segurança e militantes. O temor era que as agressões registradas no último sábado (25) em Sainte-Soline, no centro-oeste do país, durante um protesto contra um projeto de instalação de reservatórios de água para uso agrícola, voltassem a se repetir. 

Em Paris, a polícia interveio em um momento da passeata quando black blocs vandalizaram uma loja, montaram uma barricada e colocaram fogo em lixeiras, no momento em que a manifestação se preparava para o encerramento. Após o final do protesto, na Praça da Nação, o mesmo grupo voltou a provocar as forças de segurança, que tentaram dispersar indivíduos radicais lançando bombas de gás lacrimogênio. As Brav-M, esquadrões móveis célebres pelo uso de violência, foram acionadas no início da noite. As autoridades informaram que até o fechamento desta matéria, 27 pessoas haviam sido detidas.

Ao menos quatro pessoas ficaram feridas e foram levadas ao hospital por socorristas voluntários. Informações da AFP apontam que diversos manifestantes foram feridos na cabeça e que um repórter teve um ferimento na perna. 

Confrontos também foram registrados em Nantes (oeste), onde uma agência bancária foi incendiada, e 49 pessoas foram presas. De acordo com as autoridades, atos de vandalismo ocorreram em Rennes (oeste), e seis black blocs foram detidos. No leste, as cidades de Estrasburgo, Besançon e Nancy registraram momentos de tensão. Em Toulouse, no sudoeste, policiais utilizaram jatos d'água para dispersar elementos radicais.  

De acordo com o Ministério do Interior, 13 mil membros das forças de segurança foram moblizados em todo o país para a décima jornada de manifestações contra a reforma da Previdência - um dispositivo inédito. Apenas em Paris, 5,5 mil membros de unidades policiais acompanharam os protestos. 

Encontro da premiê com líderes sindicais 

Após semanas de resistência, o governo francês começa a dar os primeiros sinais de abertura. No início da noite desta terça-feira, a primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, convidou as centrais sindicais para uma reunião no início da próxima semana. "Um e-mail lapidário" por parte da chefe de governo, afirmou Laurent Berger, secretário-geral da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT). 

Um pouco antes, uma nova jornada de greve nacional havia sido anunciada pelos líderes sindicais para o dia 6 de abril. "Após dois meses de um movimento social exemplar e inédito em 50 anos, majoritariamente apoiado pela população, e um trajeto parlamentar caótico, a ausência de resposta do Executivo nos leva a uma situação de tensões no país, nos preocupando fortemente", afirma um comunicado divulgado pela central sindical Solidários. 

Do lado dos manifestantes, a promessa é de não ceder enquanto Macron não anunciar mudanças. "Temos a impressão que, o que quer que aconteça, nada muda", reclama a estudante Suzanne, de 21 anos, no protesto de Lyon (centro-leste). "Eles [o governo] nos pressionam, mas não vamos ceder ao cansaço", declarou. 

Além do bloqueio de escolas de ensino médio e universidades, os protestos também assumiram diversas formas há semanas: quedas na produção de eletricidade, 15% dos postos de gasolina sem combustível, trens e voos cancelados, transporte público em Paris interrompido e até a Torre Eiffel foi fechada nesta terça-feira.

Já os agentes de limpeza públca decidiram encerrar na quarta-feira (29) uma greve que já durava três semanas e que deixou milhares de toneladas de lixo acumuladas nas ruas.

Imposição da reforma revolta população

As centrais sindicais vêm realizando protestos desde janeiro, quando o governo apresentou o projeto de reforma da Previdência. No entanto, a tensão aumentou desde que Macron decidiu adotar por decreto, em 16 de março, o adiamento da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos e o aumento para 43 anos do tempo de contribuição para se ter direito a uma pensão integral até 2027.

O chefe de Estado defende que a reforma é fundamental para evitar um déficit no fundo de pensões, embora muitos economistas apontem o contrário e indiquem soluções alternativas. Apesar do sinal verde do executivo, a mais alta jurisdição administrativa da França, o Conselho Constitucional, avalia o projeto. 

Ao mesmo tempo, ministros e deputados governistas apostam na criminalização dos protestos para minar o apoio da opinião pública, que responsabiliza Macron por não aceitar a rejeição de seu plano. Enquanto isso, o impasse segue entre o executivo e as centrais sindicais que querem a retirada ou suspensão da reforma.

(RFI com agências)

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