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Empresa na Ucrânia fabrica ‘botas aranhas’ contra minas terrestres com impressoras 3D

Milhares de minas e outros artefatos não detonados estão espalhados pelas regiões ucranianas atingidas pelos combates contra a Rússia. Para se proteger, empresas inovam com a fabricação de novos produtos para uso militar, como botas resistentes às explosões, produzidas por impressoras 3D.

Botas de quatro patas, apelidadas de “botas aranha”, passaram por testes de colisão com explosivos.
Botas de quatro patas, apelidadas de “botas aranha”, passaram por testes de colisão com explosivos. © RFI/Boris Vichith
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Quarenta e quatro impressoras 3D operam a todo o vapor em uma oficina fabricando solas projetadas para absorver a energia das explosões de minas. Na sala ao lado, vários modelos estão expostos. Ihor Efimenko, o dono da empresa, apresenta as botas de quatro patas, apelidadas de “botas aranha”, após os testes de colisão a que foram submetidas.

“Testamos este em uma mina borboleta. Se você pisar em uma, as patas dianteiras se soltam, mas a sola permanece intacta e o pé fica salvo. Se pisarmos numa mina maior, temos então as quatro patas que se desprendem, a sola fica um pouco afetada, mas como podemos ver, o pé é poupado”, mostra ele, aos enviados especiais da RFI à região de KharkivAnastasia Becchio e Boris Vichith.

“Graças à bota, evitamos amputações. Claro que isso não impede que você se machuque por estilhaços, mas na pior das hipóteses é uma fratura, tem tratamento – enquanto que quando arranca o pé, só resta colocar prótese”, compara.

As equipes de engenharia desenvolveram este calçado, vendido por 17 mil hryvnia (cerca de €437, ou R$ 2388) inspirando-se de modelos fabricados no Canadá ou na França. Segundo as autoridades ucranianas, até 160 mil km² no país podem estar contaminados por minas terrestres não detonadas.

Encomendas para agricultores e carteiros

A empresa, originalmente especializada em molas para caminhões, diversificou-se após o início da invasão russa e adaptou a produção às necessidades do momento: blindagem e reparação de veículos militares, placas de proteção, bolas, pás ou alicates de desminagem, antes de se arriscar na fabricação dessas “botas aranha”, que equipam não só militares.

“Temos encomendas para técnicos que têm de consertar linhas elétricas ou tubulações de gás, para carteiros que têm de distribuir as correspondências em vilarejos isolados, em plena guerra. Tem tido casos de feridos”, sublinha. Também produzimos para os bombeiros e temos muitas encomendas de agricultores, porque os campos estão cheios de minas. Agora é época de plantar o trigo.”

As botas “aranha” também são usadas por algumas unidades militares especializadas, graças a doações de voluntários. E a invenção despertou o interesse do Ministério da Defesa ucraniano. A empresa deverá receber rapidamente aprovação para poder vender oficialmente o produto ao Exército do país, que enfrenta um verdadeiro muro de minas na linha de frente, onde ocorre a contraofensiva ucraniana.

Mais mortes em Kharkiv, depois de ataque a velório

No terreno, um bombardeio russo matou, nesta sexta-feira (6), um garoto de 10 anos e sua avó, em Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, um dia depois de a mesma região ter sofrido os ataques mais letais contra civis desde o início da invasão.

O governador regional, Oleg Synegubov, informou que pelo menos 28 pessoas ficaram feridas, incluindo um bebê de 11 meses que é membro da família das duas vítimas. Dois edifícios residenciais foram danificados, e outro, de três andares, foi destruído. Segundo a polícia, ambos os prédios foram atingidos por dois mísseis balísticos Iskander.

Na quinta (5), pelo menos 52 pessoas, incluindo uma criança de seis anos, morreram em um bombardeio em Groza, também na região de Kharkiv, onde os moradores se reuniram para o velório de um soldado, conforme o último balanço divulgado pelo governador.

O ataque se deu em plena luz do dia e atingiu uma loja e uma cafeteria localizadas no mesmo edifício, onde estavam presentes cerca de 60 pessoas. Naquele momento, Serguii Pletinka, um soldado de 34 anos que estava de folga, estava na casa dos pais, em frente à cafeteria. "Corri e cheguei primeiro (...) ouvi uma mulher gritando. Ela estava presa entre uma geladeira e uma parede que desabou", contou.

Cedo nesta sexta-feira, bombeiros, equipados com pás e gruas, retiravam os escombros. Em uma das ruas do cemitério, o túmulo do soldado Andrii Kozyr estava coberto de flores e de uma bandeira ucraniana. Os moradores que participaram do funeral dele haviam se reunido na cafeteria atingida pelo bombardeio.

Informante pode ter notificado os russos

"Todos que estavam no funeral morreram. Isso aconteceu logo depois que as pessoas entraram na cafeteria", disse Valentina Koziïenko, de 73 anos, que mora do outro lado da rua. "Como os russos sabiam que haveria tantas pessoas lá? Talvez alguém tenha contado para eles", afirmou.

O policial encarregado da investigação, Serguii Bolvinov, disse à AFP que uma das hipóteses que sua equipe está considerando é "que alguém tenha dado as coordenadas [da cafeteria] para os russos". "Nosso trabalho é averiguar, se alguém pode ter dado essas coordenadas, sabendo que, naquela hora, havia uma reunião" naquele local, acrescentou.

O bombardeio sobre Groza foi denunciado pela comunidade internacional, que pediu o fim dos ataques contra civis. Segundo a ONU, "tudo sugere" que foi um míssil russo que atingiu a cidade, onde viviam cerca de 330 pessoas antes da tragédia.

Ao ser questionado sobre o bombardeio, o Kremlin afirmou que o governo russo ataca apenas "alvos militares", e não civis.

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