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Irlanda do Norte comemora 25 anos de acordo de paz em atmosfera menos confiante

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chega a Belfast nesta terça-feira (11) para participar das celebrações do 25º aniversário do acordo de paz da Sexta-Feira Santa na Irlanda do Norte. O pacto, negociado por Londres, Dublin e Washington, acabou com três décadas de um conflito devastador entre irlandeses católicos e protestantes.

Mural republicano na zona oeste de Belfast.
Mural republicano na zona oeste de Belfast. AP - Peter Morrison
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Em 10 de abril de 1998, Sexta-Feira Santa, os líderes nacionalistas que apoiavam a independência da Irlanda – majoritariamente católicos – e os unionistas que defendiam a permanência sob autoridade da Grã-Bretanha – principalmente protestantes – alcançaram um acordo de paz após negociações complexas. 

O pacto pôs fim a mais de 30 anos de atentados e agressões violentas, que deixaram 3.500 mortos. Porém, um quarto de século depois, o cenário é mais de reflexão do que de comemoração. O Brexit reacendeu as tensões na região. 

O partido unionista DUP boicota há mais de 13 meses as instituições regionais norte-irlandesas para protestar contra os dispositivos especiais aplicados na região após o Brexit, que entrou em vigor no início de 2021. A sigla teme que as medidas, que mantêm a Irlanda do Norte no mercado único europeu para evitar o retorno de uma fronteira física com a República da Irlanda – país membro da União Europeia – afastem a região do Reino Unido e aumentem a probabilidade de uma Irlanda unificada, objetivo dos republicanos.

A tentativa de assassinato de um policial, ocorrida em fevereiro, foi condenada de maneira unânime pelos líderes políticos da Irlanda do Norte. O ataque, reivindicado por dissidentes republicanos, foi uma recordação cruel do tipo de violência que já foi comum na região. Após o crime, a Irlanda do Norte elevou o nível de ameaça terrorista. Para a visita de Biden, mais de 300 agentes procedentes do restante do Reino Unido foram convocados.

Nenhuma cerimônia importante está prevista para esta segunda-feira (10), mas vários líderes políticos devem visitar o país durante a semana, incluindo Biden, que tem raízes irlandesas e que chegará na terça-feira à noite em Belfast, onde será recebido pelo primeiro-ministro britânico, Risihi Sunak.

"Apoio internacional"

"Recordamos hoje o início de um novo capítulo da história do povo norte-irlandês", afirmou Sunak em um comunicado. Na avaliação do primeiro-ministro britânico, o acordo da Sexta-Feira Santa "mantém um considerável apoio internacional de nossos aliados mais próximos". Sunak oferecerá um "jantar de gala" e comparecerá a uma conferência sobre o tema na Queen's University de Belfast.

A ex-secretária de Estado americana Hillary Clinton – cujo marido Bill Clinton teve um papel fundamental na assinatura do Acordo de Paz quando era presidente entre 1993 e 2001 – também deve participar da conferência de três dias.

Biden quer aproveitar a visita para "destacar o progresso considerável desde a assinatura do acordo e recordar o compromisso dos Estados Unidos em apoiar o vasto potencial econômico da Irlanda do Norte", segundo a Casa Branca.

O presidente americano visitará em seguida a República da Irlanda, com escalas na capital Dublin, assim como nos condados de Louth (leste) e Maio (oeste), de onde partiram seus antepassados quando emigraram em meados do século 19, fugindo como tantos outros de uma Irlanda devastada pela fome, para morar na Pensilvânia.

Americanos e irlandeses mantêm laços históricos

Os laços que unem americanos e irlandeses são bem mais antigos do que as negociações para encerrar o conflito intercomunitário que deixou marcas profundas entre os irlandeses.

Os resultados do último censo realizado nos Estados Unidos dão um bom indício dessa relação histórica: 35 milhões de pessoas assinalaram o quesito irlandês-americano na parte do questionário relativa à origem. Existem mais pessoas com sangue irlandês vivendo no exterior do que na ilha, que tem uma população de 5 milhões de habitantes. Biden faz parte dessa diáspora. 

"Ele é irlandês, seus ancestrais são irlandeses católicos. Ele é o segundo presidente irlandês a visitar o país depois de John F. Kennedy (1917-1963), que veio em julho de 1963. Desde aquele ano, a maioria dos presidentes americanos tem visitado a Irlanda", diz o professor Liam Kennedy, diretor do Instituto Clinton da Universidade de Dublin. 

De acordo com o professor, as visitas de líderes americanos à Irlanda são apreciadas nos EUA. "Se você tirar fotos na Irlanda com um litro de Guinness num copo e mostrá-las aos americanos, eles acham ótimo. Muitos americanos têm um passado irlandês. Isso não significa que eles vão votar republicano ou democrata, mas rende uma boa imagem", explica o especialista.

Em entrevista à RFI, o professor também destacou que os irlandeses nunca esqueceram que os americanos foram fundamentais para restaurar a paz na região.

RFI e AFP

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