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"Charles não é o meu rei": visita de monarca à Irlanda do Norte divide moradores

O rei Charles III continua nesta terça-feira (13) sua viagem pelos países que compõem o Reino Unido, após a morte da rainha Elizabeth II. Depois de ter passado pela Escócia na segunda-feira (12), o soberano desembarcou hoje na Irlanda do Norte, onde sua presença divide a opinião dos moradores.

O rei Charles III, ao lado da rainha consorte, discursa após receber condolências de Alex Maskey, presidente da Assembleia da Irlanda do Norte, no Castelo de Hillsborough, nesta terça-feira (13).
O rei Charles III, ao lado da rainha consorte, discursa após receber condolências de Alex Maskey, presidente da Assembleia da Irlanda do Norte, no Castelo de Hillsborough, nesta terça-feira (13). via REUTERS - POOL
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Com informações da enviada da RFI a Belfast, Laura Taouchanov, e da France Info

Enquanto os restos mortais da rainha Elizabeth II seguem em direção a Londres, Charles III está na Irlanda do Norte. Essa é a primeira vez que um monarca visita a província britânica em 80 anos. Por isso, a iniciativa é considerada como um "não acontecimento" por boa parte da população. 

Os republicanos, majoritariamente católicos e pró-reunificação, não reconhecem a família real e não se consideram vinculados à monarquia. Já os anglicanos não hesitam em expressar sua lealdade. 

"Viemos expressar nossas condolências porque a rainha Elizabeth foi uma rainha fantástica e muito fiel à Irlanda do Norte. Estamos aqui para acolher o novo rei", afirmou Heather. A sexagenária se uniu à multidão de apoiadores em Hillborough, residência local da família real e primeira parada de Charles III na província.

Nesta terça-feira, o novo rei se reuniu com o presidente da Assembleia da Irlanda do Norte, Alex Maskey. Logo depois, participa de uma cerimônia em homenagem à rainha na catedral de Saint-Anne, em Belfast. 

Diante da igreja, as norte-irlandesas Chloé e Kate afirmaram não estar a par dos eventos, mas não deixaram de expressar sua indignação. "Uma desconhecida morreu e isso não tem nenhum impacto para a minha vida. Em plena crise, eles gastam milhões em um enterro", diz Chloé. "Nos deixaram de lado na Irlanda do Norte. Por que devemos fazer parte do Reino Unido se eles pouco se importam conosco?", questiona Kate. 

No caixa de um mini-mercado de Belfast, duas clientes, Jacqueline e Kate, expressam seu cansaço em relação à família real. A principal preocupação delas é sobre o que o rei pretende fazer na Irlanda do Norte. "Não creio que ele tenha muita influência sobre o nosso futuro, ele não pode intervir na política", diz Jacqueline. 

Já Andrea deseja que o novo monarca se implique nas questões da Irlanda do Norte. "Estamos vendo que ele tem uma influência e que ele encontra com ministros todos os dias. É preciso que o rei expresse publicamente sua ambição por esse país. Temos muitos problemas e ele poderia nos ajudar", afirma. 

Trinta anos de conflito

O apoio ou a revolta depende do bairro de Belfast em que se está. A capital norte-irlandesa, marcada por trinta anos de conflito entre unionistas e republicanos, continua dividida entre católicos e anglicanos. Do lado fiel ao reinado, um imenso mural foi criado em homenagem à rainha, hoje rodeado de flores.

Em entrevista à France Info, uma moradora testemunha sua decepção com a reação de alguns compatriotas de bairros católicos. "No dia da morte da rainha, eles queimaram fogos de artifício, festejaram. Isso não se faz", diz.  

No bairro republicano de Falls Road, Cory, eletricista de 23 anos, é taxativo: "Charles não é o meu rei". O jovem não se considera um cidadão da Irlanda do Norte, "mas simplesmente da Irlanda". 

Mesma reação da parte de Claire, professora na universidade de Belfast, moradora de um bairro misto, que não quer mais ouvir falar da monarquia britânica. "Há muitas más lembranças", diz à France Info

Nos pubs da capital norte-irlandesa, há menos timidez nas críticas. "Dane-se o rei! Dane-se a rainha!", diz Tony. "Tudo o que queremos é que nos deixem tranquilos!"

Para Peter, a Inglaterra é "um país estrangeiro". "Como chefe das Forças Armadas, o novo rei continua carregando a responsabilidade do Domingo Sangrento", reitera, referindo-se ao fatídico 30 de janeiro de 1972, quando 14 militantes dos direitos humanos foram mortos pelo exército britânico em uma manifestação pacífica em Derry. O jovem diz esperar que a Escócia vote no ano que vem por sua independência, "dando o exemplo à Irlanda do Norte".

No entanto, apesar da antipatia em relação ao novo rei, os norte-irlandeses devem parar para ouvir a alocução de Charles III, ao lado da primeira-ministra britânica, Liz Truss nesta terça-feira. O novo monarca tem um grande desafio na província, onde o discurso republicano ganha eco e muitos são favoráveis a se separar do Reino Unido para se reintegrar à República da Irlanda. 

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