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Governo da Holanda pede desculpas por 250 anos de escravidão, um crime contra a humanidade

O primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, apresentou um pedido de desculpas em nome do governo holandês por seu papel na escravidão, que ele chamou de crime contra a humanidade. O chefe de governo se pronunciou sobre o histórico colonial holandês durante um discurso em Haia, nesta segunda-feira (19).

Exposição sobre escravidão no Rijksmuseum em Amsterdã, 12 de maio de 2021.
Exposição sobre escravidão no Rijksmuseum em Amsterdã, 12 de maio de 2021. AFP - KENZO TRIBOUILLARD
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"Hoje peço desculpas em nome do governo holandês pelas ações do Estado no passado", declarou Rutte, durante um discurso muito aguardado sobre o envolvimento da Holanda em 250 anos de escravidão em suas ex-colônias.

"Peço desculpas postumamente a todos os escravos do mundo que sofreram com este ato. A suas filhas e filhos e a toda a sua descendência", acrescentou.

Rutte repetiu o pedido de desculpas em inglês, papiamento e sranan tongo, idiomas falados nas ilhas do Caribe e no Suriname. "O Estado da Holanda é responsável pelo grande sofrimento infligido aos escravos e seus descendentes", disse Rutte em audiência no Arquivo Nacional, localizado em Haia.

 “Nós, vivendo aqui e agora, só podemos reconhecer e condenar a escravidão nos termos mais claros como um crime contra a humanidade”, completou.

150 anos depois

O pedido de desculpas ocorre quase 150 anos após o fim da escravidão nas colônias do país europeu, que incluíam o Suriname e ilhas como Curaçao e Aruba, no Caribe, e a Indonésia.

 Ao mesmo tempo em que Rutte pronunciava seu discurso em Haia, vários de seus ministros estavam presentes em sete ex-colônias para "discutir" o assunto com os habitantes locais.

Após o discurso, houve reações emocionadas entre os presentes na sala. Alguns se abraçaram.

A data escolhida pelo governo para o pedido de desculpas, que vazou para a imprensa holandesa em novembro, gerou polêmica na Holanda e no exterior. Organizações antiescravagistas queriam um pedido de desculpas em 1º de julho, data em que o fim da escravidão é lembrado em uma celebração anual chamada "Keti Koti" (Quebrando as Correntes), no Suriname.

No sábado (17), a primeira-ministra de Saint-Martin, Silveria Jacobs, disse à imprensa holandesa que a ilha não aceitaria o pedido de desculpas se este fosse apresentado na segunda-feira.

Na primeira das ex-colônias holandesas a reagir, a primeira-ministra de Aruba, Evelyn Wever-Croes, aceitou o pedido de desculpas, mas outras, como a ilha de Sint Maarten, disseram que não aceitavam.

Bélgica não chega a consenso

No mesmo dia em que a Holanda se desculpou oficialmente por 250 anos de escravidão, os parlamentares da vizinha Bélgica não chegaram a um acordo sobre como buscar expiação pelos abusos da era colonial.

O Parlamento belga criou uma comissão em 2020, após os protestos desencadeados pelo movimento Black Lives Matter (Vidas Pretas Importam, em português) para examinar o histórico de seu país em suas ex-colônias da África Central. Mas os deputados admitiram que não conseguiram chegar a um consenso sobre como formular um pedido de desculpas pelos notoriamente sangrentos excessos do governo belga no que hoje é a República Democrática do Congo, Ruanda e Burundi. Eles deveriam se reunir nesta segunda-feira para aprovar 128 recomendações elaboradas pela comissão. Mas, no final, nenhuma proposta foi a votação.

Para os parlamentares de esquerda, a culpa foi dos parceiros da coalizão liberal, que, segundo eles, se recusaram a votar para aprovar um relatório que incluía um pedido de desculpas pelos crimes históricos.

"Os liberais sabotaram o trabalho da comissão por puro dogmatismo colonialista", disse o deputado verde Guilluame Defosse, culpando o partido político do primeiro-ministro Alexander De Croo.

(Com informações da AFP)

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