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Frio e medo do futuro angustiam população dos dois lados da fronteira entre Rússia e Ucrânia

Na região russa de Belgorod, na fronteira com a Ucrânia, barricadas estão em construção. Há alguns dias a televisão russa fala na possibilidade de o exército ucraniano cruzar a fronteira. Enquanto isso, nas cidades liberadas na Ucrânia, como Izium, a população enfrenta o frio sem energia e sem dinheiro para comprar alimentos. Os dois lados de uma guerra que não poupa vítimas.

Apesar da libertação da cidade de Izium, Natalia ainda mora em seu bunker.
Apesar da libertação da cidade de Izium, Natalia ainda mora em seu bunker. © RFI/Clea Broadhurst
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Com os correspondentes da RFI em Chebekino e Belgorod, Anissa El Jabri, e em Izioum, Clea Broadhurst

Uma dezena de soldados passa em um tanque a toda velocidade, ultrapassando ônibus e carros particulares, diante de dois prédios completamente destruídos por bombardeios ucranianos. Bem-vindo a Chekebino, na Rússia, a oito quilômetros da fronteira com a Ucrânia.

Até agora, o nome da cidade era associado principalmente ao de sua fábrica de massas, uma marca barata com logotipo vermelho que se encontra nas gôndolas dos supermercados de todo o país. Hoje, quando esse nome aparece no noticiário, é para falar dos mortos, dos feridos e de fuzilamentos.

"Você ouviu isso? Nós aprendemos a reconhecer que país começa o tiroteio. Quando vem daqui ou quando chega de lá”, explica o vendedor de um pequeno bazar do centro da cidade fronteiriça com a Ucrânia.

Edifícios destruídos em Chebekino, cidade russa a 8 km da fronteira ucraniana, após ataques ucranianos.
Edifícios destruídos em Chebekino, cidade russa a 8 km da fronteira ucraniana, após ataques ucranianos. © Anissa el Jabri/RFI

No mercado, agora com poucos clientes, todos estão assustados desde que um ataque ucraniano destruiu completamente uma das lojas, no mês passado. “Era uma loja de fogos de artifício na qual atiraram duas vezes. Bombinhas começaram a estourar e voaram em diversas direções. Havia o calor, o cheiro de pólvora e depois o fogo se estendeu por toda a loja, havia um cheiro de plástico e fumaça preta. Era impossível respirar, as pessoas corriam e gritavam. Houve feridos, inclusive uma menina que tapou os ouvidos e recebeu algum tipo de estilhaço no braço. Foi assustador ver tudo isso”, conta a testemunha.

A 40 quilômetros de distância, em Belgorod, capital da região de mesmo nome, Evgeni é morador do distrito do aeroporto que agora está fechado ao tráfego civil. Ele se registrou na brigada de defesa territorial. Nas últimas semanas, aprendeu a usar uma arma e também criou um abrigo antibombas no porão de seu prédio.

“Aqui, como sempre nos porões, havia muitas coisas velhas acumuladas. Mas agora limpamos tudo”, explica Evgeni. “Venha ver, aqui empilhamos lenha para o caso de necessidade. Lá, tudo foi limpo para instalar bancadas. E aí, já começamos a organizar os espaços que estão vazios, com colchões. Organizamos tudo, com prateleiras e armários”, mostra. “Aqui um fogão militar, aqui estão 100 litros de água. Comida enlatada, em quantidade. Está tudo pronto, absolutamente tudo. É apenas precaução”.

Do outro lado, falta energia e comida

Às vésperas do inverno, muitas cidades do leste da Ucrânia estão sem água e eletricidade. Os moradores dependem de organizações humanitárias como a World Central Kitchen, que vão a cidades sob combate, como Bakhmout, e cidades já liberadas, como Izium, para distribuir refeições, pacotes de alimentos e o que for necessário para sobreviver a temperaturas abaixo de zero.

Sergii conta que soube pelos vizinhos de uma distribuição de alimentos. Assim que o seu nome foi chamado, ele recebe um saco plástico cheio de mantimentos.  “Antes, eu ganhava bem em Kharkiv. Mas em fevereiro essa bolha estourou, diz ele. É difícil, porque não temos trabalho, há produtos no mercado e nas lojas, mas não temos dinheiro. Somos livres, mas aqui estamos no meio de toda essa m...“

Sergii durante a distribuição de alimentos da World Central Kitchen.
Sergii durante a distribuição de alimentos da World Central Kitchen. © RFI/Clea Broadhurst

Ekaterina, voluntária da World Central Kitchen, explica que eles vêm aqui várias vezes por semana. “Estamos enfrentando dois problemas: o inverno e os mísseis”, diz. Mas as pessoas não têm medo. Elas querem reconstruir suas casas e voltar à vida normal. Temos que ajudar essas pessoas a sobreviver”, completa.

Os voluntários se dirigem então para um bunker, onde ainda vivem cerca de trinta pessoas que não podem regressar às suas casas. Sentada no escuro, Natália faz palavras cruzadas. Ela vive nesse bunker desde 4 de março. Nos piores momentos, o local já abrigou até 2.000 pessoas. "É mais fácil respirar agora que os russos se foram. Podemos manter a cabeça erguida e as costas retas”, ela testemunha. “Mas quando eles começaram a bombardear toda a Ucrânia, senti medo dentro de mim novamente. Muito obrigada a todos que cuidam de nós e que não se esqueceram de nós”, finaliza.

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