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ONG denuncia deslocamento forçado de ucranianos para territórios controlados pela Rússia

As tropas russas transferiram à força civis ucranianos, incluindo os que fugiam das regiões de conflito, para áreas sob seu controle desde o início da invasão na Ucrânia, em 24 de fevereiro, informou a Human Rights Watch (HRW) em um relatório divulgado nesta quinta-feira (1°).

Refugiados ucranianos em um centro de distribuição em Korczowa, na Polônia, em 5 de março de 2022 (imagem ilustrativa).
Refugiados ucranianos em um centro de distribuição em Korczowa, na Polônia, em 5 de março de 2022 (imagem ilustrativa). AFP - JANEK SKARZYNSKI
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As transferências forçadas "constituem uma grave violação das leis da guerra, que equivale a um crime de guerra e um potencial crime contra a humanidade", afirmou a HRW. A organização entrevistou 54 pessoas que estiveram na Rússia ou conheciam pessoas que estiveram. Algumas delas também estavam ajudando os ucranianos que tentavam deixar o território russo.

Muitos transferidos à força estavam fugindo de Mariupol, cidade portuária no sudeste da Ucrânia que sofreu um cerco devastador e bombardeios pesados antes de ser tomada pelas tropas russas. Outros deixavam a região de Kharkiv, no leste da Ucrânia.

A prática parece comum, uma vez que 2,8 milhões de ucranianos chegaram em solo russo desde o início da guerra, como a agência de notícias russa TASS afirmou no final de julho, acrescenta o correspondente da RFI em Tbilisi, Régis Genté.

Com isso, o relatório da Human Rights Watch confirma as informações que muitas testemunhas, transmitidas por jornalistas ou ONGs, vêm relatando há meses.

Adesão à União Europeia

O fenômeno parece de grande proporção, de acordo com Tanya Lokshina, uma das autoras do relatório: “É muito difícil estabelecer quantos ucranianos foram transferidos à força para a Federação Russa. De dezoito pessoas que entrevistamos que foram transferidas para a Rússia, cinco disseram que o fizeram voluntariamente, porque era assim que queriam aderir à União Europeia”.

“É claro que teríamos aproveitado a oportunidade para ir à Ucrânia, se pudéssemos”, relatou à HRW uma mulher transferida de Mariupol. “Mas não tivemos escolha, nenhuma possibilidade de ir” para os territórios controlados por Kiev, acrescentou ela.

“Os civis ucranianos não têm outra escolha a não ser ir para a Rússia”, denuncia Belkis Wille, pesquisador da Human Rights Watch e coautor do relatório. Ao longo do caminho, muitos desses civis foram submetidos a uma forma de triagem de segurança obrigatória, chamada "filtragem", que incluiu a coleta de dados biométricos e impressões digitais, revistas corporais e de seus pertences pessoais, de acordo com o relatório.

“Ninguém deve ser forçado a passar por um processo de triagem abusivo para obter segurança”, argumentou Wille. O procedimento visa garantir que os deslocados não tenham lutado junto às forças armadas ucranianas.

“Nós nos sentimos como reféns”

Um morador de Mariupol contou à HRW que foi preso por tropas russas antes de ser colocado por duas semanas, com dezenas de outros moradores desta cidade, em uma escola em condições insalubres. Depois, ainda passou pela “filtragem”. “Nós nos sentimos como reféns”, afirmou ele à ONG.

A "filtragem" que visa os cidadãos ucranianos é "punitiva e abusiva", "não tem base legal" e constitui uma "clara violação do direito à privacidade", afirmou a organização. A entidade enviou suas conclusões e um resumo de questionamentos às autoridades russas em 5 de julho, mas não recebeu resposta.

(Com informações da AFP)

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