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Jornal Libération reporta julgamento de ex-agente da SS que revisita os horrores nazistas

"Alemanha, o último processo do nazismo". O jornal francês Libération dedica sua reportagem de capa nesta quinta-feira (25) ao julgamento de Bruno Dey. Guarda no campo de concentração de Stutthof aos 17 anos, o ex-agente da SS, hoje com 93 anos, vem comparecendo ao Tribunal de Hamburgo desde outubro, no que parece ser uma das últimas reviravoltas judiciais contra atores do Terceiro Reich.

Na resenha da imprensa, o jornal Libération traz na sua reportagem de capa o julgamento que pode ser uma das últimas reviravoltas judiciais contra o Nazismo alemão.
Na resenha da imprensa, o jornal Libération traz na sua reportagem de capa o julgamento que pode ser uma das últimas reviravoltas judiciais contra o Nazismo alemão. © Fotomontagem RFI
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Padeiro aposentado, Dey passou dias tranquilos até que a Justiça o convocasse a explicar suas atividades entre 9 de agosto de 1944 e 26 de abril de 1945. Ele é acusado de ter participado do assassinato de 5.230 pessoas. Por ter menos de 18 anos na época dos crimes, foi julgado no tribunal de menores. Dey é processado por impedir "a fuga, a revolta e a libertação dos prisioneiros". A promotoria o acusa de ser uma "engrenagem na máquina de matar" do nazismo. Ao todo, cerca de 65.000 pessoas foram assassinadas no campo de Stutthof.

"Eu não poderia ter feito o contrário", se defendeu o acusado, e insistiu: "Eu não sou responsável pelo que aconteceu na época", relata. Segundo trechos do julgamento transcritos pelo Libération, Dey diz não ter contribuído com nada, além de ficar de guarda. "Eu fui forçado, essas foram as ordens", afirmou. "Imagens de miséria e terror me assombraram a vida toda", revelou ele, que não toca em nenhum dos detalhes que foram narrados com precisão pelos sobreviventes.

A matéria conta que, quando questionado sobre o que viu e ouviu, ele é lacônico. Dey admite ter visto cadáveres. De resto, ele ficava de pé em uma torre de vigia. Ele ouviu, claro, "de longe", "uma vez", gritos que emanavam da câmara de gás. "Quero esquecer, não quero continuar olhando para o passado", acrescentou.

Até 12 de novembro, seu julgamento teve um interesse apenas moderado na imprensa internacional. Até que o americano Moshe Peter Loth testemunhou. Prisioneiro do campo quando criança, ele adverte no final de sua audiência: "Atenção, eu o perdoarei". Loth se inclina na direção do acusado e os dois homens se abraçam. O guarda nazista debilitado e o ex-bebê judeu se reconciliaram em um gesto de perdão. Uma imagem para ficar na história, destaca o Libération.

Sempre a mesma defesa

Outros relatos enchem a sala. Como o de Abraham Koryski, 92 anos, cheio de detalhes assustadores. Em hebraico, em voz alta, ele descreve os pequenos divertimentos dos agentes SS, seus shows "sádicos". Henri Zajdenwergier também tinha 17 anos quando chegou ao acampamento. Ele foi o último sobrevivente do comboio 73 com destino aos países bálticos, que incluía André e Jean Jacob, pai e irmão de Simone Veil. "Não éramos tatuados", explica ele, "mas tínhamos um número e, o mais grave, éramos um número." O dele era 80.409. "Eles tinham mais respeito pelos animais do que por nós", acrescentou. Henri perdeu toda sua família em Auschwitz. 

Bruno Dey não muda sua linha de defesa, e provavelmente assim será até o veredito, previsto para 23 de julho. Sua única explicação para os 5.230 mortos no campo de Stutthof é: "Vi muitos cadáveres, mas não sei como essas pessoas morreram".

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