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Eleições argentinas: debate sobre armas, hiperinflação e negacionismo ambiental equilibram a disputa

Se as eleições presidenciais na Argentina dependessem apenas do desempenho no debate eleitoral, a candidata de centro-direita Patricia Bullrich seria eleita ou, pelo menos, iria para um segundo turno contra o economista ultraliberal Javier Milei. O governista Sergio Massa seria derrotado. O confronto pode embolar a disputa na qual, seguindo as sondagens, Milei lidera, seguido de Massa, tendo Bullrich em terceiro lugar.

Candidatos à presidência da Argentina neste domingo (8), no segundo e último debate antes das eleições de 22 de outubro.
Candidatos à presidência da Argentina neste domingo (8), no segundo e último debate antes das eleições de 22 de outubro. AP - Agustin Marcarian
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

No segundo e último debate antes das eleições presidenciais de 22 de outubro, realizado neste domingo (8), a candidata Patricia Bullrich recuperou o terreno perdido no primeiro confronto, quando o seu desempenho foi muito fraco. Desta vez, Bullrich foi protagonista, impedindo que Javier Milei e Sergio Massa voltassem a polarizar a discussão. Os tiros de Patricia Bullrich acertaram os alvos.

O candidato da extrema-direita Javier Milei ficou desorientado, enrolando-se nas respostas. Não conseguiu negar que seja a favor da liberação de armas, nem se livrar da acusação de que seja a favor da venda de órgãos. Ao tentar explicar que não é um negacionista, reforçou o seu controverso posicionamento, sobretudo em matéria de mudanças climáticas.

o candidato peronista Sergio Massa, atual ministro da Economia e associado à vice-presidente Cristina Kirchner, não conseguiu reagir ao fogo intenso contra o péssimo desempenho da economia e contra os casos de corrupção dos aliados.

Líder nas pesquisas de opinião, Javier Milei disse que não vai respeitar o Acordo de Paris. Segundo ele, aderir à agenda 2030 é se dobrar ao "marxismo cultural".

"Nós não aderimos à decadência”, avisou Javier Milei, quando perguntando sobre a continuidade da Argentina no Acordo de Paris, assinado em dezembro de 2015 na capital francesa.

O candidato libertário foi acusado de negacionismo e, para se defender, disse que as políticas que culpam o ser humano pelo aquecimento global são falsas para, segundo ele, financiar a esquerda.

“Eu não nego a mudança climática. Digo que existe na história da Terra um ciclo de temperaturas, um comportamento cíclico. Antes, o ser humano não existia. Agora, o ser humano existe. Portanto, essas políticas que culpam o ser humano pela mudança climática são falsas. A única coisa que esas políticas visam é arrecadar fundos para financiar vagabundos socialistas que escrevem relatórios”, interpretou Javier Milei.

Liberação de armas x tráfico de drogas

Patricia Bullrich advertiu que a liberação de armas que Javier Milei propõe vai terminar nas mãos do tráfico de drogas. “Milei quer liberar as armas e as armas liberadas vão cair nas mãos dos deliquentes, dos traficantes”, disse a ex-ministra da Segurança durante o governo do ex-presidente Mauricio Macri.

Milei tentou explicar que é preciso aplicar a atual lei porque os criminosos estão armados, mas os cidadãos honestos não. Bullrich, no entanto, redobrou a acusação lembrando que o candidato ultraliberal conservador também quer liberar a venda de órgãos que levará ao tráfico de pessoas.

“Para as mães e pais, digo-lhes que, se liberarem as armas, vão parar nas mãos dos traficantes e vão terminar em massacres nas escolas. Se liberarem a venda de órgãos, vao ao tráfico de pessoas. Hoje, 10% da venda de órgãos vem do sequestro de crianças. A venda de órgãos é um dos delitos mais cobiçados no mundo criminal. Isso é o que Milei propõe”, atacou Bullrich.

Javier Milei alegou que existem 7 mil pessoas à espera de órgãos, enquanto existem 300 mil potenciais doadores e que essa distorção gera corrupção. “Não propomos a venda de órgãos. O que dizemos é que algo não funciona e que gera corrupção”, defendeu-se.

O candidato e ministro da Economia, Sergio Massa, disse que, se eleito, vai implementar um sistema de câmeras e de rastreamento satelital, além de um botão antipânico em cada celular. Também vai criar um FBI argentino. “Vamos criar uma agência federal com os melhores de cada uma das quatro forças federais. Sim, um FBI argentino”, anunciou.

Patricia Bullrich recordou que Massa não pode lutar contra a insegurança quando os seus parceiros políticos estão envolvidos em casos de corrupção.

Desrespeito de candidata

Durante o debate, o candidato da extrema-direita, Javier Milei, debochou da candidata Myriam Bregman pela sua condição de socialista. Sergio Massa viu nesse deboche uma chance de defender o feminismo e de acusar Milei de autoritário.

“Javier, até aqui você chegou. Deixe de faltar ao respeito com as mulheres. Para além de pensarem diferente, têm o direito de pensarem diferente de você. Isso mostra o seu traço autoritário”, provocou Massa.

Mas Patricia Bullrich aproveitou para redobrar a aposta, ao esclarecer que as mulheres podem se defender sozinhas. “Não precisamos que você nos defenda, Massa. Nós nos defendemos sozinhas”, devolveu.

Patricia Bullrich também acusou Javier Milei de associar-se à mesma casta política que diz combater. Milei pareceu confirmar a acusação ao retrucar: “você também”.

O candidato é acusado de um pacto com Sergio Massa para que disputem o segundo turno, deixando de fora Patricia Bullrich, quem mais chances tem de derrotar os dois. Milei é acusado de ter incoporados nas suas listas de legisladores mais de cem referentes de Massa.

Milei, por sua vez, disse que todos os demais candidatos são parte da casta política e, portanto, parte do problema; não da solução.

“Eles não podem ser a solução do problema porque são o problema. Peço a todos os argentinos de bem que se perguntem como uma Argentina diferente é possível com os mesmos de sempre?”, questionou o candidato ‘outsider’.

Crise financeira e desemprego

Javier Milei advertiu que a Argentina está à beira da hiperinflação. Já Patricia Bullrich lembrou que, em apenas um ano como ministro da Economia, Sergio Massa gerou dois milhões de novos pobres.

Sergio Massa, por sua vez, advertiu aos argentinos que o voto em Patricia Bullrich é como votar no passado, enquanto o voto em Milei é como pular no abismo.

As sondagens colocam Javier Milei com cerca de 35% das intenções de voto. Sergio Massa gira em torno de 29%, enquanto Patricia Bullrich chega aos 25%. Cerca de 15% dos eleitores continuam indecisos.

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