Eleições na Argentina: segundo debate é última chance para definir quem disputa contra extrema direita
O segundo e último debate entre candidatos a presidente neste domingo (8), antes do primeiro turno dentro de duas semanas, terá como ponto principal a questão da Segurança Pública, a segunda maior preocupação dos argentinos depois da inflação.
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Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires
A segurança é o ponto forte da candidata de centro direita Patricia Bullrich, que se destacou como ministra da Segurança durante o governo do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019).
Nesta semana, Bullrich indicou que quer construir uma penitenciária de máxima segurança - ao melhor estilo do salvadorenho Nayib Bukele - e gravar as conversas entre presos e advogados como prevenção ao crime.
Mas o peronista Sergio Massa, atual ministro da Economia, também implementou um eficaz sistema de segurança quando era prefeito da cidade de Tigre, próxima a Buenos Aires. Massa acredita que um eficaz sistema de câmeras associado às patrulhas faz reduzir em 92% os delitos em cidades de até 100 mil habitantes.
Sergio Massa e Patricia Bullrich estão numa disputa direta contra o candidato da extrema-direita, Javier Milei, favorito segundo todas as sondagens.
O debate deste domingo acontece na Faculdade de Direto da Universidade de Buenos Aires.
A partir das 21 horas pelo horário de Brasília e durante duas horas, os candidatos vão debater também sobre “trabalho e produção” e sobre “desenvolvimento humano, moradia e proteção do ambiente”.
O discurso extremista de Javier Milei em Segurança, a favor do livre porte de armas, e negacionista em matéria de mudança climática será explorado pelos adversários. Por outro lado, o economista ultraliberal terá vantagens quando o assunto for “trabalho e produção” num país onde os salários se desvalorizam ao ritmo de uma inflação galopante e de uma moeda que, só nas últimas duas semanas, perdeu outros 20% do seu valor.
O aumento do dólar e a perda diária do poder aquisitivo dos salários é um eficiente cabo eleitoral para o plano de Milei de dolarizar a economia.
Estratégias e cumplicidades
O candidato e ministro da Economia Sergio Massa, deve continuar com a estratégia de polarizar o debate com o ultraliberal Javier Milei.
A caótica economia argentina só prejudica Massa, mas o ministro acredita que, num segundo turno, prevaleça o medo ao extremismo de Milei.
Essa polarização também agrada Milei. O ‘outsider’ acredita que os argentinos prefiram uma mudança e aposta numa derrota cantada do peronismo de Massa, associado ao ‘kirchnerismo’ de Cristina Kirchner, em total silêncio nesta campanha.
Patricia Bullrich precisa entrar nessa disputa. O desempenho da candidata no primeiro debate há uma semana ficou muito aquém do esperado.
Aliás, no primeiro debate, considerado morno e monótono pelos analistas, os candidatos arriscaram pouco e preferiram não errar.
Massa e Bullrich esperam que Milei tropece na sua personalidade explosiva, mas o candidato tem controlado o seu habitual discurso inflado, adotando uma estratégica moderação.
Disputa acirrada pela segunda vaga
Segundo uma sondagem da consultora Zuban Córdoba, 92,6% dos eleitores disseram que não mudaram o seu voto depois do primeiro debate há uma semana.
Mas 6,4% decidiram mudar. E numa disputa tão acirrada, qualquer modificação pode tirar ou colocar um candidato num provável segundo turno.
Esse candidato do qual os votos têm migrado é Patricia Bullrich, para quem o debate pode representar a última chance de reverter uma tendência de esvaziamento. Para isso, pretende contar com o apoio explícito de Mauricio Macri nesta reta final. Até agora o ex-presidente tem flertado com o liberalismo de Javier Milei ao evitar críticas diretas ao libertário.
As eleições do próximo 22 de outubro devem ir até 19 de novembro. O ultra liberal Javier Milei parece ter vaga garantida. A dúvida é contra quem.
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