Acessar o conteúdo principal

Em Angola, oposição contesta resultados e MPLA reafirma maioria absoluta

O anúncio da Comissão Nacional Eleitoral de Angola (CNE), na noite desta quinta-feira (25), confirmou a vitória do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) nas eleições gerais, pela sexta vez consecutiva. A novidade desta vez fica a cargo de uma disputa mais acirrada, em que o partido governista, há 47 anos no poder, apresentou uma perda de terreno sem precedentes. Em clima de contestação do resultado, os partidos da oposição começam a reagir.

Angolanos observam os resultados eleitorais fixados junto às seções de voto onde ocorreram as votações para as eleições gerais nesta quarta-feira (24). Município de Viana, Luanda, Angola, 25 de Agosto de 2022.
Angolanos observam os resultados eleitorais fixados junto às seções de voto onde ocorreram as votações para as eleições gerais nesta quarta-feira (24). Município de Viana, Luanda, Angola, 25 de Agosto de 2022. LUSA - PAULO NOVAIS
Publicidade

Por Gaëlle Laleix, correspondente da RFI em Luanda

Ao todo, 97% dos votos já foram apurados. Com 51,07% dos votos e 124 dos 220 assentos parlamentares conquistados, seguido pela União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita) com 44,05% dos votos contabilizados e 90 deputados, o MPLA perde, assim, a maioria qualificada pela primeira vez desde que são realizadas eleições no país, o que revela um resultado inédito.

O atual presidente, João Lourenço, de 68 anos, se aproxima de um segundo mandato. Cerca de 14 milhões de eleitores foram chamados às urnas nesta quarta-feira (24).

Com promessas de reformas, combater a pobreza e coibir a corrupção, a oposição ganhou terreno no país. Em um cenário de inflação galopante, desemprego e seca severa, um desejo crescente de "mudança" vem surgindo nas ruas.

O resultado representa uma nova ordem no tabuleiro político de Angola,  menos confortável para a atuação do partido governante, que não terá mais a habitual maioria qualificada de dois terços dos deputados no parlamento para aprovar projetos de lei e reformas. A nova configuração obriga o MPLA a recorrer a alianças extrapartidárias.

O partido governista havia vencido sem dificuldades em 2017, com 61% dos votos, e com 71,84% em 2012.

Os partidos de oposição contestam os resultados, como o CASA-CE, um dos grandes derrotados destas eleições, ao perder a totalidade dos seus deputados na Assembleia Nacional.

Oposição ganhou terreno

Já a Unita, por sua vez, tenta acalmar a sua militância, que contesta os resultados e diz ter provas – por intermédio de uma contagem paralela – de que garantiriam sua vitória.

O MPLA, que, diferentemente das últimas eleições, reduziu o número de intervenções públicas durante esta campanha, minimiza as críticas dos partidos opositores e promete melhorar a gestão do país. O partido governista está no poder desde a independência de Angola, em 1975.

Nesta ex-colônia portuguesa, o líder do partido vencedor nas eleições legislativas é declarado presidente, como prevê a Constituição.

O porta-voz do MPLA, Rui Falcão, relativizou a perda da maioria qualificada na Assembleia Nacional: "Temos uma maioria absoluta e vamos governar o país com essa maioria absoluta. A Unita, antes de começar o jogo, já dizia que havia fraude e não vai mudar o discurso, como em todos esses anos. A maior parte das democracias do mundo são governadas por maiorias absolutas. Se o povo quis que nós passássemos de uma maioria qualificada para uma maioria absoluta, é com esta maioria que vamos governar."

Rúben Sicato, um dos dirigentes do partido do Galo Negro, que integra a coligação Unita, afirmou em uma coletiva de imprensa que a contagem das atas está sendo realizada de maneira paralela, de modo a garantir a transparência da apuração.

"Nós, neste momento, já nos sentimos vencedores. Comparando com os resultados de 2017 com os atuais, nós estamos claramente acima daquilo que tínhamos", declarou Sicato.

Com um cenário de ampla contestação da oposição, os próximos dias serão cruciais para o futuro de Angola – onde, em 2020, quase metade dos 33 milhões de habitantes vivia com menos de US$ 1,9 por dia.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.