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Etiópia: Anistia Internacional denuncia estupros como arma de guerra no Tigré

Tropas da Etiópia e da Eritreia, no nordeste da África, estupraram centenas de mulheres e meninas na região sob conflito do Tigré, forçando algumas vítimas à escravidão sexual e mutilação, de acordo com um relatório da Anistia Internacional divulgado nesta quarta-feira (11).

“É evidente que o estupro e a violência sexual têm sido usados como arma de guerra para infligir danos físicos e psicológicos permanentes a mulheres e meninas do Tigré”, denunciou a secretária-geral da Anistia, Agnès Callamard.
“É evidente que o estupro e a violência sexual têm sido usados como arma de guerra para infligir danos físicos e psicológicos permanentes a mulheres e meninas do Tigré”, denunciou a secretária-geral da Anistia, Agnès Callamard. Yasuyoshi Chiba AFP/Archivos
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O relatório, elaborado a partir de entrevistas com 63 vítimas, documenta abusos para os quais uma investigação foi aberta pelas autoridades etíopes, com pelo menos três soldados condenados por estupro e 25 outros processados ​​por "violência sexual e estupro".

Algumas sobreviventes disseram que foram estupradas em grupo enquanto foram mantidas prisioneiras por semanas, outras foram estupradas na frente de familiares e algumas disseram que tiveram objetos, como pregos e pedras, introduzidos em suas vaginas, “causando graves lesões, algumas possivelmente irreversíveis”, de acordo com a ONG.

“É evidente que o estupro e a violência sexual têm sido usados ​​como arma de guerra para infligir danos físicos e psicológicos permanentes a mulheres e meninas do Tigré. Centenas delas foram submetidas a tratamentos brutais com o objetivo de degradá-las e desumanizá-las”, denunciou a secretária-geral da Anistia, Agnès Callamard. “A gravidade e a escala dos crimes sexuais cometidos são particularmente chocantes, puníveis como crimes de guerra e, possivelmente, crimes contra a humanidade”, acrescentou.

A AFP entrevistou muitas mulheres nos últimos meses que disseram ter sido estupradas por soldados etíopes e eritreus. Os combates na região de Tigré (norte) começaram em novembro, depois que o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed Ali, enviou o exército federal para destituir as autoridades regionais da Frente de Libertação do Povo do Tigré (TPLF).

Represália

Na opinião de Ahmed Ali, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2019, esta operação foi uma resposta a ataques a acampamentos do exército federal ordenados pela TPLF. Com a intensificação do conflito, o balanço humanitário é dramático: de acordo com a ONU, cerca de 400 mil pessoas vivem em condições de fome em Tigré, enquanto a ajuda humanitária  chega com dificuldade.

Para a Anistia, os acusados dos abusos vieram de tropas da vizinha Eritreia, que apoiavam o primeiro-ministro etíope, e de forças de segurança e milicianos da região etíope de Amhara, vizinha do Tigré.

Mais de 20 pessoas disseram à Anistia que foram violadas apenas por eritreus, enquanto outras mulheres disseram que eritreus e etíopes estavam juntos. "Eles nos estupraram e nos mataram de fome. E eram muitos para nos estuprar", revelou uma mulher de 21 anos, que afirma ter sido mantida detida por 40 dias. "Éramos cerca de 30 mulheres, todas foram estupradas."

De acordo com o relatório da Anistia Internacional, os centros de saúde em Tigré registraram 1.288 casos de violência contra mulheres de fevereiro a abril de 2021, e os médicos estimam que muitas vítimas não procuraram ajuda médica, nem denunciaram seus agressores.

(Com informações da AFP)

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