Rebeldes etíopes ignoram cessar-fogo e prometem intensificar luta contra 'inimigos' do Tigré
As autoridades dissidentes da região etíope do Tigré garantiram que vão intensificar sua luta até expulsar todos os "inimigos" da região. A declaração indica que os rebeldes pretendem ignorar o cessar-fogo unilateral decretado pelo governo federal da Etiópia.
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Nesta segunda-feira (28), as forças rebeldes do Tigré recuperaram a capital desta região do norte da Etiópia, Mekele. Diante disso, o governo central retirou seus representantes e decretou o fim das hostilidades, enquanto os habitantes dessa cidade celebravam a vitória nas ruas.
A capital regional havia sido tomada pelo Exército etíope em 28 de novembro de 2020, três semanas depois da ofensiva anunciada pelo primeiro-ministro Abiy Ahmed para derrubar as autoridades locais da Frente de Libertação do Povo de Tigré (TPLF), que dominou durante anos a vida política da Etiópia.
A princípio, a operação seria breve. Ela foi ordenada depois que forças pró-TPLF atacaram bases militares, alegou o premiê Abiy Ahmed, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 2019 pela reconciliação com a Eritreia, país na fronteira com a região de Tigré. No entanto, os combates continuaram entre as forças leais à TPLF – as chamadas Forças de Defesa de Tigré (TDF) – e o Exército federal, que conta com o apoio das tropas da região vizinha de Amhara, assim como da Eritreia.
Durante meses, as tropas rebeldes não tomaram o controle de nenhum enclave importante, mas afirmavam estar reagrupando suas tropas em áreas rurais. Na semana passada, coincidindo com a realização de eleições nacionais antecipadas, executaram uma ofensiva que levou à recuperação de Mekele.
"O governo e o Exército de Tigré cumprirão todas as tarefas necessárias para garantir a sobrevivência e a segurança do nosso povo", declarou o antigo governo em um comunicado divulgado na madrugada de terça-feira (29). "O governo de Tigré convoca nosso povo e nosso Exército a intensificarem sua luta até que nossos inimigos abandonem completamente o Tigré", acrescenta a nota.
Massacres e fome
O país ainda aguarda o resultado oficial das eleições antecipadas, embora se espere uma vitória do Partido da Prosperidade do primeiro-ministro, que assumiu o cargo em 2018. Na segunda-feira, o governo justificou o cessar-fogo "unilateral e incondicional" para permitir o bom desenvolvimento do plantio de alimentos e a distribuição de ajuda humanitária.
Os oito meses de conflito no Tigré foram marcados por massacres, estupros e deslocamentos forçados da população, que geraram indignação internacional. Segundo a ONU, pelo menos 350 mil pessoas estão em situação de fome na região, um número contestado pelo governo etíope. O secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou os acontecimentos como "extremamente preocupantes".
Estados Unidos, Irlanda e Reino Unido solicitaram uma reunião pública de emergência do Conselho de Segurança da ONU sobre o Tigré, que pode acontecer na próxima sexta-feira. Até agora, as tentativas de manter uma reunião do Conselho sobre a região encontraram a resistência de países africanos, assim como de China e Rússia, entre outros, que consideram o tema um assunto interno da Etiópia.
Com informações da AFP
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