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Saúde em dia

Doenças nas unhas podem ser alerta de outras enfermidades sistêmicas

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Você sabia que pela unha é possível identificar doenças crônicas de um paciente? A aparência da unha permite ao médico diagnosticar uma alteração sistêmica, ou seja, que afeta outras partes do corpo. É o que explica à RFI a dermatologista Robertha Nakamura, uma estudiosa da onicologia, uma subespecialidade da dermatologia.

A médica Robertha Nakamura é uma estudiosa da onicologia, uma subespecialidade da dermatologia.
A médica Robertha Nakamura é uma estudiosa da onicologia, uma subespecialidade da dermatologia. © Arquivo pessoal
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“Unhas mais avermelhadas podem ser por vasodilatadores periféricos, ou seja, pelo uso de medicação para doenças cardiológicas, que causam vasodilatação”, cita a médica, que é membro da European Nail Society, um grupo formado em 1997 por dermatologistas europeus com interesse nas doenças e na biologia das unhas.

Dra. Roberta Nakamura é membro da European Nail Society.
Dra. Roberta Nakamura é membro da European Nail Society. © Arquivo pessoal

“A unha brancacenta pode ser alteração do fígado, a unha urêmica meio a meio (metade de uma cor e metade de outra), pode ser por alterações renais. O HIV também provoca alguns tipos de alterações medicamentosas”, complementa.

“Existe uma alteração da unha chamada ‘finger clubbing’, ou unhas hipocráticas. Uma doença descrita por Hipócrates, há muito tempo, e que muda a forma da unha, aumentando a curvatura transversal e longitudinalmente”, cita. “Os dedos parecem baquetas de tambor. E isso acontece por conta da alteração da oxigenação nas pontas e, geralmente, é uma doença pulmonar, como um câncer de pulmão ou outra doença pulmonar grave”, revela a médica.

Com pós-graduação e mestrado em dermatologia, Robertha completou os seus estudos com o francês Robert Baran, professor e médico do Hospital Saint-Louis, de Paris, e que hoje vive e trabalha em Cannes, no sul da França. Autor de mais de 500 trabalhos acadêmicos e um livro de referência sobre o tema, Baran fundou o primeiro centro de diagnóstico e tratamento de doenças das unhas da Europa.

EM Image - Robert Baran (esquerda), Robertha Nakamura (centro), Bertrand Richert (direita).
EM Image - Robert Baran (esquerda), Robertha Nakamura (centro), Bertrand Richert (direita). © Arquivo pessoal

“O professor Baran é responsável por separar o estudo das unhas na dermatologia, criando a onicologia. A partir disso, outros médicos no mundo inteiro passaram a fazer a mesma coisa. Nos Estados Unidos, o professor Richard K. Scher, em Washington e, no Brasil, começamos na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro”, afirma.

“A gente começa a perceber que unha é um anexo da pele responsável por muitas doenças que atrapalham, principalmente, a autoestima do paciente”, completa.

Bob Marley, o rei do reggae

Ainda que a maior procura nos consultórios seja por soluções para unhas frágeis ou micoses, a médica explica que, em alguns casos, o diagnóstico precoce pode salvar vidas. “O melanoma, que é uma doença que pode se tornar sistêmica e levar a morte, pode aparecer nas unhas”, alerta. 

Ela cita o caso do cantor jamaicano Bob Marley. “Os médicos descobriram que havia um melanoma na unha dele e era indicada uma cirurgia. Porém, ele não quis fazer a operação e o câncer se alastrou, e acabou morrendo por melanoma, descoberto nas unhas dos pés”.

Outras doenças identificadas nas unhas são a psoríase, o líquen plano (doença inflamatória das unhas) e o pênfigo (doença autoimune).

Covid-19 causa alterações nas unhas

A médica que atende na Santa Casa do Rio de Janeiro conta que tem notado, recentemente, alterações nas unhas de seus pacientes, após as infecções por Covid-19. “Quando a Covid-19 é muito agressiva, passa uns três meses e as unhas vêm com manchas vermelhas, manchas brancas e isso já está sendo descrito”, relata.

Nakamura explica que para ter unhas saudáveis é preciso cuidar da “fábrica das unhas” e do leito onde elas crescem. “A matriz da unha está dentro da pele. A meia lua visível é a ponta da matriz. Então, temos que deixar a matriz sadia para que ela produza uma unha sadia”, ensina. “São necessários seis meses para produzir uma unha da base até a região distal (a parte mais distante da cutícula). Ou seja, são seis meses de tratamento para você mandar a doença embora”, alerta a especialista.

“Para manter a matriz sadia é preciso livrá-la de qualquer infecção oportunista por fungo ou bactéria e restabelecer as funções que ela perdeu devido a alguma doença inflamatória”, acrescenta.  Já “o leito onde a unha repousa tem a função de aderir a unha e empurrá-la para frente. E essa estrutura também tem que permanecer saudável”, continua.

Tirar cutículas: hábito comum no Brasil não é indicado

Diferente da Europa, no Brasil é muito comum que mulheres retirem as cutículas. Mas esse hábito que faz parte da cultura brasileira deveria ser revisto, na opinião da dermatologista. “A cutícula serve para selar a pele à unha, a fim de não deixar entrar fungos ou bactérias. No Brasil, a cutícula é retirada e é comum causar uma doença chamada paroníquia, uma inflamação ao redor das unhas. Também é comum deixar que substâncias irritantes penetrem”, explica.

De acordo com a médica, o ideal seria usar cremes que diminuam a espessura da pele ao redor das unhas e das cutículas e jamais retirá-las.

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