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Psicóloga brasileira radicada na França lança revista sobre saúde mental para imigrantes

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Gabriella Dantas é psicóloga brasileira na França e se especializou em tratar brasileiros imigrantes não só na França, como também em outros países. A profissional criou, em agosto, uma revista online que trata do tema da saúde mental para imigrantes, a Viajadamente

A psicóloga brasileira radicada na França Gabriella Dantas criou a revista Viajadamente, sobre saúde mental para imigrantes.
A psicóloga brasileira radicada na França Gabriella Dantas criou a revista Viajadamente, sobre saúde mental para imigrantes. © Arquivo pessoal
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"A Viajadamente, que é a revista de saúde mental para imigrantes, tem alguns objetivos: conscientizar os brasileiros imigrantes ao redor do mundo sobre a importância da saúde mental na experiência migratória e também formar uma comunidade de imigrantes que se apoia, que se ajuda, e promover saúde mental através de um conteúdo acessível, gratuito – porque nem todo mundo tem condição de pagar uma terapia", explica.

Ela mesma viveu duas experiências de imigração diferentes e, segundo ela, estas experiências a ajudaram a focar neste nicho: hoje ela só atende brasileiros imigrantes.

A primeira experiência de imigração de Gabriella se deu quando ela era estudante de psicologia, e ela foi ser au pair nos Estados Unidos. “Eu morei um ano lá, morando com uma família americana e cuidando dos filhos deles. Foi um programa de um ano. Depois, eu voltei ao Brasil, para terminar a faculdade de psicologia – era bolsista do ProUni”.

Depois, com o diploma na mão, ela veio para a França, há três anos e meio. “Quando eu cheguei na França eu percebi que as minhas experiências não eram nada parecidas. Na primeira, tudo foi novidade, tudo foi muito leve, eu morei com uma família que me oferecia uma vida que eu nunca tinha conhecido, então tudo foi descoberta”, conta.

Já na França, a psicóloga, veio para estudar, fazer um mestrado, e precisava trabalhar como babá enquanto fazia uma pós-graduação em uma outra língua. “Então, durante a pandemia, no ano passado, surgiu a oportunidade de eu criar a página no Instagram para fazer conteúdo para brasileiros sobre a experiência de imigração”.

Ela diz que aos poucos foi percebendo que havia uma demanda para se falar sobre saúde mental para brasileiros morando no exterior.  “Muitos brasileiros imigrantes precisam retomar estudos ou exercer profissões que não são aquelas para as quais eles se formaram e tudo isso tem um impacto muito grande na saúde mental. Fui percebendo isso, até que virou a minha especialização”, conta ela, que terminou o mestrado e só atende brasileiros que moram fora do país.

Dancinhas e papo sério

Sobre o fato de fazer dancinhas e piadas para falar de situações que os imigrantes passam no dia-a-dia em um país estrangeiro, Gabriella acredita que esta é uma forma de tornar a psicologia mais acessível ao grande público. “A psicologia ainda é muito elitizada, então fazer os vídeos de forma engraçada, de forma mais pedagógica, dançando, vai alcançar um público que não seria alcançado se não fosse desta forma”, aposta.

“Muitas pessoas me contam suas histórias, tem imigrantes em situação irregular, e elas não têm medo de me procurar, de falar coisas pessoais no inbox, e eu acho isso magnífico”, relata.  

“Eu não temo que isso banalize a psicologia, como ciência e profissão, pelo contrário. Eu estou muito contente com o que eu faço e eu acho que isso vai facilitar o acesso à saúde mental por meios que antes não eram possíveis: as redes sociais”, completa.

O primeiro número da revista Viajadamente, sobre saúde mental para imigrantes.
O primeiro número da revista Viajadamente, sobre saúde mental para imigrantes. © Captura de tela

Quebra de expectativa e perda de status

Segundo a psicóloga, que atende pacientes em mais de dez países, o ponto comum destas experiências migratórias é uma quebra de expectativa: a realidade é diferente do que foi sonhado e planejado. “A gente prepara todo o ambiente físico, onde vai morar, onde as crianças vão estudar, e se esquece da preparação emocional e psicológica.”

Outra questão recorrente, segundo ela, é a da perda do status profissional: “Muitas pessoas que exerciam profissões para as quais eles ralaram, estudaram no Brasil, quando chegam em outros países esses diplomas não são válidos e elas não podem exercer suas profissões de origem". 

Além disso, lembra Gabriella, tem o fato de que cada profissão é regulamentada em países como a França, então a pessoas precisam se formar para exercer uma nova profissão. "Este processo pode ser bem cansativo, de ter que validar diploma, retomar estudos. Muitos tinha profissões que no Brasil eram renomadas, como advogados, dentistas, e aqui se vêm tendo que cuidar de criança ou ser atendente de restaurante por um tempo, e isso tem um impacto grande na saúde mental", analisa. 

Para ela, que começou a tratar do tema de saúde mental nas redes sociais durante a pandemia, este foi o efeito bom da crise sanitária: poder falar abertamente sobre o tema. "Psicologia também é prevenir, é autoconhecimento, melhorar relacionamentos. No caso de imigrantes, serve para melhorar a adaptação cultural e o processo migratório em geral", conclui. 

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