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Reportagem

Brasil: abstenção e voto de indecisos decidirão eleição entre Lula e Bolsonaro neste domingo

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Em uma das corridas eleitorais mais acirradas desde a redemocratização, os dois candidatos ao Planalto, Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, enfrentam não só um ou outro nas urnas: a abstenção e o voto dos indecisos podem definir o resultado. No primeiro turno, a distância entre os dois candidatos ficou em 5,2 pontos percentuais a favor do petista – 6,1 milhões de votos.

Militantes fazem campanha em frente ao Teatro Municipal de São Paulo neste sábado (29), véspera da eleição.
Militantes fazem campanha em frente ao Teatro Municipal de São Paulo neste sábado (29), véspera da eleição. © Lúcia Müzell/ RFI
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Lúcia Müzell, enviada especial da RFI a Belém (PA) e São Paulo (SP)

Nas últimas pesquisas de intenções de voto, divulgadas nesta sexta-feira (28) e sábado (29), a estimativa é de que o total de indecisos seja de cerca de 2% e os votos brancos e nulos serão 5%. Soma-se ainda uma parcela de 6% de eleitos não convictos, ou seja, que ainda podem mudar de ideia.

No primeiro turno, um em cada 10 eleitores decidiu seu voto entre a véspera e o encontro com a urna. Isso significa que a maior margem de atuação para Bolsonaro ou Lula definirem a eleição é junto a estes cerca de 17 milhões de eleitores.

“Eu vou votar, mas não estou confiante. Não gosto de nenhum dos dois, mas eu tenho que votar, né? Vai ser em cima da hora que eu vou decidir”, disse a vendedora ambulante Neusa, 68 anos, moradora de Belém do Pará. “Eu até votaria no Bolsonaro de novo, mas eu prefiro não votar. Não quero fazer parte do que venha a acontecer, se o PT ou o Bolsonaro ganhar”, complementou o taxista Nonato Viana, 56 anos. “É muita decepção.”

A abstenção atingiu 20,89% do eleitorado no primeiro turno, ou 32 milhões de ausentes, um recorde desde 1998. A tendência é que, neste domingo (30), o número seja ainda maior, principalmente nos Estados onde não haverá segundo turno para a escolha do governador.

O eleitorado de baixa renda é o mais inclinado a não comparecer à seção eleitoral – sobretudo nas cidades onde o transporte não será gratuito no dia da votação. Nas 27 capitais, o passe livre estará em vigor, mas no interior do país o pagamento pelo transporte pode ser um freio importante ao comparecimento.

Queda dos brancos e nulos; alta da abstenção

“Observamos que a porcentagem de brancos e nulos caiu muito. Foi uma redução drástica não só de 2018 para cá, mas em relação à tendência de 2014, 2010. E isso é um fenômeno que, a meu ver, também está relacionado com a alta da abstenção – o medo da abstenção diminuiu porque o custo de não votar é muito baixo”, assinala o cientista político Danilo Medeiros, pesquisador de pós-doutorado do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e professor convidado da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo.

Danilo Medeiros, pesquisador de pós-doutorado do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).
Danilo Medeiros, pesquisador de pós-doutorado do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). © Arquivo pessoal

A vendedora Tatiana, 27 anos, ilustra essa situação. "Eu votaria no Lula com certeza, ainda mais que cada voto está fazendo a diferença”, disse, na manhã deste sábado na movimentada Avenida 25 de Março, na capital paulista. “Mas não consegui regularizar o meu título a tempo”, alegou.

A enfermeira Aline, de 23 anos, optou pelo atual presidente no primeiro turno, mas desta vez não poderá comparecer porque está em viagem, longe da sua cidade natal. "Fico um pouco triste por não participar da democracia do meu país, mas por outro lado fico mais tranquila porque está tudo tão tenso. Já aviso que não adianta virem brigar comigo, porque eu nem vou votar”, brinca.

Tatiana queria votar em Lula, mas não está com o título eleitoral em dia para poder comparecer à urna.
Tatiana queria votar em Lula, mas não está com o título eleitoral em dia para poder comparecer à urna. © Lúcia Müzell/ RFI

Abstenção prejudica mais Lula do que Bolsonaro

No debate desta sexta-feira (28), o candidato petista insistiu para os eleitores comparecerem às urnas, conclamando duas vezes os telespectadores a irem votar. "Há uma tendência de que o eleitor que costuma se abster seja mais pobre, morador de lugares mais distantes, e tenha uma relação maior com o Lula, portanto uma chance maior de votar nele. Então, há uma preocupação maior, sim, do PT de que esse eleitor compareça”, frisa Medeiros.

A enfermeira Aline não poderá votar no segundo turno.
A enfermeira Aline não poderá votar no segundo turno. © Lúcia Müzell/ RFI

Já Bolsonaro precisaria conquistar praticamente todos os eleitores indecisos e ainda reverter votos nulos ou no próprio Lula para conseguir uma reviravolta do cenário previsto nas pesquisas – uma missão difícil, porém não impossível, garante Medeiros. “Viradas são muito raras, mas se a gente olha para as eleições para governador, por exemplo, a gente vê que acontecem, inclusive com candidatos que tiveram 48% ou mais dos votos válidos no primeiro turno. O segundo turno é uma outra eleição”, sinaliza. "É claro que não começa do zero, que o resultado do primeiro turno influencia. Mas é um jogo que recomeça do zero.”

O eleitor Jamil, 42, atua como autônomo no ramo imobiliário e votou em Bolsonaro em 2018. Desta vez, porém, optou por Ciro Gomes no primeiro turno e neste sábado, a 24 horas do pleito, ainda não tinha decidido que número digitaria na urna. “O que é certo é que até amanhã eu vou escolher um. Não pretendo nem anular, nem me ausentar”, garante. "Os dois têm um passado que a gente conhece e isso é o que tem me ajudado a tomar uma decisão. Mas ainda estou bastante indeciso”, disse.

Jamil ainda não tomou uma decisão sobre o voto, mas garante que não vai optar por anular.
Jamil ainda não tomou uma decisão sobre o voto, mas garante que não vai optar por anular. © Lúcia Müzell/ RFI

A bancária paulistana Roberta Zamariolli, de 50 anos, também está com muita dificuldades de escolher – não sentiu confiança em nenhum dos dois para melhorar a situação do país. “Estou em dúvida ainda, apesar de conversa com gente que entende de política, de assistir bastante reportagens. Eu vivi um período da política com o Lula e com o Bolsonaro também. Tive muitas decepções com os dois”, afirma. "Talvez eu anule o voto amanhã.”

O cientista político Danilo Medeiros sublinha que, ao promover um pacote de medidas destinado ao eleitor de baixa renda, o atual presidente sinalizou que o seu principal alvo é conquistar eleitores que estejam inclinados a escolher o ex-presidente. "O desafio maior é que a campanha de Bolsonaro não acredita que vai conseguir trazer muitos votos daqueles que se abstiveram no primeiro turno. Eu acho que a estratégia foi virar voto dos eleitores não consolidados do Lula. E esse é o melhor jeito de ganhar voto, porque você ganha voto e ainda tira do adversário”, ressalta.

Roberta Zamariolli disse ter tido "muita decepção" com os dois candidatos à presidência.
Roberta Zamariolli disse ter tido "muita decepção" com os dois candidatos à presidência. © Lúcia Müzell/ RFI

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