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Planeta Verde

Como a sustentabilidade pode ajudar o Brasil a reforçar a democracia após atos golpistas em Brasília

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Quem encabeça a delegação brasileira no Fórum Econômico Mundial, primeiro grande evento global do ano, são os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e a do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. Não à toa, ambos trazem no centro do discurso a sustentabilidade – que pode ajudar o país a reforçar a sua democracia e recuperar a sua imagem, ainda mais abalada depois dos atos de vandalismo contra os Três Poderes, em Brasília.

Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, mantém agenda intensa de encontros com autoridades no Fórum Econômico de Davos.
Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, mantém agenda intensa de encontros com autoridades no Fórum Econômico de Davos. World Economic Forum / Sandra Blaser
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Lúcia Müzell, da RFI

A volta do Brasil é um dos focos das atenções dos líderes e CEOs reunidos em Davos, na Suíça. A presença dos ministros visa acalmar a comunidade internacional quanto à estabilidade da democracia no país e reforçar os compromissos do novo governo com a proteção ambiental.

Enquanto Haddad afirmou que a nova política industrial planejada por Lula pode ser baseada na sustentabilidade, Marina, reconhecida internacionalmente pela sua luta pela Amazônia, reiterou promessas como o fim do desmatamento. Há muitos anos, ela defende uma visão transversal do tema ambiental na Esplanada dos Ministérios.

“Nesse momento, nós vamos precisar entender que vamos ter de fazer em dois trilhos: o trilho da proteção do meio ambiente e o de combater as desigualdades. No meu país, nós tínhamos saído do mapa da fome, e agora estamos com 33 milhões de pessoas vivendo com menos de US$ 1 por dia”, argumentou. “A sustentabilidade não é só econômica, não é só ambiental. Ela também é social e política.”

“Mesma turma”

Depois das invasões de 8 de janeiro às sedes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, agora, as duas agendas – política e ambiental – caminham, mais do que nunca, juntas, na avaliação de Natalie Unterstell, especialista em política ambiental e presidente do Instituto Talanoa.

“Esses atos, que chamo de terroristas, têm bastante a ver com as dificuldades e obstáculos para implementar a agenda de combate às ilegalidades e intolerância com os crimes ambientais. Vemos que tem uma forte relação entre quem é contra a democracia hoje no Brasil e também se beneficia das ilegalidades ambientais, do desmatamento etc”, explica. “Eu vejo que ao longo deste ano e dos próximos, essas duas coisas vão andar juntas: a gente vai ter que combater os crimes ambientais ao passo que você fortalece a democracia e faz o estado de direito democrático valer. A mesma turma que está superorganizada para invadir os Três Poderes está superorganizada para invadir as terras indígenas, as unidades de conservação, para tomar terras públicas não destinadas.”

Os exemplos ilustram as dificuldades que vêm pela frente – seja no campo democrático e institucional, que agora concentram as atenções do governo federal, ou no ambiental. Nesse sentido, o conceito de justiça climática vai ao encontro do fortalecimento da democracia, ao inserir no debate vozes que eram caladas e olhar, em primeiro lugar, para as populações mais vulneráveis. 

"Um país do tamanho do Brasil ter, pela primeira vez, um Ministério dos Povos Indígenas é uma sinalização que certamente outros países virão atrás. O Brasil está começando a resgatar uma dívida muito grande que a gente tem com o nosso passado", salienta a cientista política Ilona Szabó de Carvalho, que media nesta quinta um debate com a presença de Marina Silva em Davos.

"A pauta ambiental é necessariamente democrática porque ela precisa pensar em todos. No Brasil, por ser um país tão desigual, precisamos pensar primeiro nas pessoas que precisam mais, quando falamos em políticas públicas. E não há justiça climática sem democracia", analisa Ilona. 

Apoio externo – e expectativas por resultados

No plano internacional, a cientista política não tem dúvidas: a pauta ambiental é a que está reabrindo as portas para o Brasil no exterior, o que também se reflete em apoio político para o novo governo brasileiro.

"Está abrindo conversas, potencial de aumentar investimentos e parcerias com o Brasil. Eu diria que é o passaporte para o país voltar à mesa global, e é uma presença muito esperada – não só pela potência econômica e o seu potencial de ser uma potência econômica sustentável, mas também por ser um país que influencia muito os países em desenvolvimento, do sul global", afirma Ilona.

Natalie observa ainda que, ao rejeitarem Bolsonaro, os eleitores brasileiros e a comunidade internacional deram um voto de confiança ao Brasil para retomar políticas ambiciosas de meio ambiente – porém a imagem do país no exterior só vai melhorar quando os resultados começarem a aparecer. Primeiros sinais importantes já foram dados, como o restabelecimento do Fundo Amazônia e a anulação de decretos de Bolsonaro que travavam as multas por crimes ambientais.

“Aí é que são elas, porque a Amazônia está tomada pelo crime organizado, milícias, quadrilhas. Temos visto não só do desmatamento, como da violência no campo. Será uma tarefa bastante difícil e não sei se teremos bons resultados já em 2023. Talvez isso demore até ser consolidado”, afirma a presidente do Instituto Talanoa, veterana nas negociações internacionais de clima.

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