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“Vamos investir no 'boom' da integração regional”, diz Haddad em Davos

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira (17), no Fórum Econômico de Davos, que o Brasil vai investir na “integração” para o crescimento econômico. Ele e a ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, participaram de um painel dedicado ao Brasil no qual falaram sobre novas diretrizes para a economia e o desenvolvimento sustentável do país, ressaltando a importância da sinergia entre ministérios no governo Lula.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, durante painel no Fórum Econômico Mundial de Davos, nesta terça-feira, 17 de janeiro de 2023.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, durante painel no Fórum Econômico Mundial de Davos, nesta terça-feira, 17 de janeiro de 2023. AFP - FABRICE COFFRINI
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“Nós vamos apostar muito na integração. Nós temos presidentes progressistas em quase todos os países sul americanos: Chile, Colômbia, Brasil, Argentina. Temos um grupo de presidentes que estão com mais vontade de integrar as suas economias do que no passado”, afirmou. “Até porque não tem mais o 'boom' de commodities do começo do século. Vão ter que fazer diferente agora. E já que não temos o 'boom' de commodities, vamos fazer um 'boom' de integração para favorecer o comércio, as transações financeiras, o sistema de crédito, integrar isso tudo para nossa região, chamar a atenção do mundo e atrair investimentos”, completou Haddad.

Haddad ressaltou que o governo Lula quer estimular a integração regional já a partir deste mês, com a visita a Argentina e a participação do Brasil na reunião do G20, em abril.

Segundo Haddad, o presidente Lula tem quatro obsessões, que levará para a mesa de discussões do G20: a questão da paz, o fim da desigualdade, a questão ambiental – que segundo ele teria alcançado um novo patamar para Lula – e a democracia.

“Você não consegue ter uma agenda sócioambiental sem pensar a nova economia. Você não consegue ter uma agenda de paz e democracia sem falar de relações internacionais. Então, é um pacote de uma visão de mundo, que eu penso que ele tem muita autoridade para defender pelo seu histórico junto à mesa de negociação nos grandes fóruns internacionais”, disse.

Mundo chocado com atos antidemocráticos

A mediadora do painel intitulado "Brazil, a new roadmap" (Brasil, um novo itinerário, em tradução livre), a equatoriana Marisol Agueta de Barillas, que é membro do comitê executivo do Fórum Econômico de Davos, abriu o painel dizendo que o mundo inteiro ficou chocado com a invasão do Palácio do Planalto, do Congresso e do STF, em Brasília, em 8 de janeiro. Mas disse que esta também era uma oportunidade internacional para construir um diálogo sobre a democracia.

Haddad ressaltou que a extrema direita será “indiscutivelmente a força de oposição ao governo do presidente Lula”. Segundo ele, isso é grave porque, “embora o Brasil tenha convivido com a extrema direita no passado, sobretudo no entreguerras e mesmo depois da Segunda Guerra Mundial, ela nunca foi eleitoralmente viável". E, recentemente, "ela se mostrou eleitoralmente viável”.

Mas o ministro afirmou que Lula conta com uma base de sustentação, que apesar da “relativa fragilidade em virtude da maneira como os partidos se organizam no Brasil, é robusta o suficiente para enfrentar os desafios que a extrema direita acaba por nos fazer enfrentar”, declarou.

Ele também disse que as medidas tomadas pelo governo foram um grande êxito, com o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, a intervenção na Secretaria de Segurança Pública, a prisão de centenas de pessoas envolvidas e a identificação dos financiadores dos atos.

Haddad afirmou, por outro lado, que vê a questão com preocupação. “Não é confortável ter uma oposição extremista”, disse. “Tudo o que nós precisamos é ter partidos comprometidos com a democracia se alternando no poder. E, infelizmente, não é disso que se trata no Brasil”, completou.

Plano econômico

O ministro afirmou que seu plano econômico não era “tão ambicioso”, porque o governo tinha herdado problemas que tinham que ser resolvidos. “O governo anterior, diante do prognóstico desfavorável (nas eleições), tomou uma série de medidas de dispêndio, muito deles socialmente justos, mas absolutamente eleitoreiros”, afirmou.

Segundo ele, o objetivo de seu plano econômico é simples: voltar as despesas e receitas ao mesmo patamar de antes da crise desencadeada pela pandemia.

“Se nós conseguirmos isso em dois anos, a gente consegue zerar o déficit”, explicou. Para isso, segundo ele, é necessário a aprovação da reforma tributária que tramita no Congresso Nacional.

O equilíbrio das contas, de acordo com Haddad, será acompanhado de uma série de medidas no plano regulatório, do crédito e da reindustrialização voltada para a transição ecológica.

Questionado sobre a reação internacional ao seu plano econômico, Haddad disse que achava que tinha sido positiva. “Eu acho que o mercado ou o chamado mercado já entendeu o que significa o governo Lula: estabilidade e previsibilidade. Não é um plano de desenvolvimento de médio e longo prazo. É um compromisso social. Eu penso que a autoridade do presidente, a sua reputação construída ao longo dos seus dois governos, dá a ele condições de fazer o país prosperar”, afirmou.  

Meio ambiente e sinergias entre os ministérios

“É fundamental que olhemos para o que acontece na América Latina. E esse esforço será um esforço em parceria, um esforço conjunto”, disse Marina Silva. “O presidente Lula já está com viagens programadas para que possamos fazer, digamos, essa ação solidária, que terá que ter sempre uma resposta de natureza econômica, social e política. A estabilidade democrática passa pela nossa capacidade de darmos respostas para os graves problemas sociais, ambientais e de investimentos, para novas perspectivas para o Brasil”, insistiu.  

Marina ressaltou que o painel já era “emblemático”. “A ministra do Meio Ambiente e o ministro da Fazenda fazendo juntos um debate sobre as perspectivas, o futuro do Brasil”, sublinhou.

Durante as respostas, Marina comentou a candidatura do Brasil para sediar a Conferência do Clima da ONU em Belém, em 2025. “Acho que quando o presidente Lula candidatou o Brasil para sediar a COP 30 na Amazônia, e em Belém, era uma demonstração de que nós temos enunciados que são grandiosos, mas que nós queremos que eles se materializem na prática”, afirmou.

“A COP do Clima no Brasil é exatamente para dar um sinal de que nós queremos alcançar esses objetivos (climáticos e ambientais) e que queremos que ela aconteça num ambiente não mais dos enunciados, pura e simplesmente, mas dos resultados”, insistiu.

Haddad lamentou que muitas corporações ainda não se comprometem com esse novo paradigma. Ele afirmou que era necessário convencer as empresas a assumir compromissos públicos, com consequências práticas, na área de meio ambiente, igualdade de gênero, combate ao racismo.

“Ou seja, é possível engajar os líderes, não só chefes de Estado, chefes de governo, mas as grandes corporações, numa agenda civilizatória”, afirmou.

Ele também garantiu que o ministério da Fazenda tem uma agenda para melhorar o ambiente de investimentos no Brasil, estimulando sobretudo parcerias dos setores público e privado e concessões.

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