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Planeta Verde

Preocupação com mudanças do clima começou no século 15, com Colombo, contam historiadores

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As negociações e acordos internacionais para combater as mudanças climáticas se iniciaram há apenas 40 anos, mas a preocupação do ser humano com o problema já tem mais de cinco séculos. A percepção no Ocidente de que a ação do homem poderia impactar o meio ambiente data desde a época dos descobrimentos e das colonizações, nos séculos 15 e 16.

"Les révoltes du ciel, une histoire du changement climatique du XVème au XXème siècle", de Jean-Baptiste Fressoz et Fabien Locher.
"Les révoltes du ciel, une histoire du changement climatique du XVème au XXème siècle", de Jean-Baptiste Fressoz et Fabien Locher. © Editons Seuil
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Essa história - rica em revelações científicas, mas também repleta de exploração e preconceito – é retraçada pelos historiadores franceses Jean-Baptiste Fressoz e Fabien Locher em Les révoltes du ciel, une histoire du changement climatique du XVème au XXème siècle ("As Revoltas do Céu, uma história da mudança climática do século 15 ao século 20", em tradução livre). Eles participaram do programa C’est Pas du Vent, da RFI, e contaram que Cristóvão Colombo pode ser apontado como o primeiro a refletir sobre o impacto da ação humana na condição climática de um território. Esse “estalo" ocorreu em meio à segunda expedição do navegador espanhol às Américas, em 1494.

"Ele está na costa da Jamaica e sofre tempestades com trovões, fica muito impressionado pelo fenômeno, mas também intrigado. Ele pensa que aquela terra tem um ambiente perfeito, apesar do problema do excesso de umidade no verão, mas que quando os exploradores cortarem as árvores, como fizeram nas ilhas Canárias e na Madeira, colonizadas 50 anos antes pelos espanhóis e portugueses, eles terão o mesmo tipo de clima”, explica Jean-Baptiste Fressoz. "Essas ilhas foram, de certa forma, a primeira experiência de um choque ecológico”, diz o historiador especialista em ciências.

Consequências de desmatar ou plantar árvores

Naquele tempo, ninguém fazia a menor ideia do que significavam termos hoje banais, como gases de efeito estufa, CO2 e camada de ozônio. Mas o homem acabava de tomar consciência de que o desmatamento resultava na alteração no regime de chuvas de uma região. O reflorestamento, por outro lado, já era uma solução adotada para equilibrar o clima.

No contexto das colonizações, esse conhecimento se transformou em um valioso instrumento de poder dos europeus sobre os colonizados. "Havia a ideia segundo a qual os colonizadores poderiam ajustar a temperatura do país àquela que melhor conviesse, cortando mais ou menos árvores. Outro aspecto que nos surpreendeu é que essa compreensão criou uma nova escala de civilização: uma hierarquia baseada sobre a ação climática”, observa o historiador ambiental Fabien Locher.

"A ideia é que os europeus estavam no topo, já que tinham a capacidade de atuar sobre o clima e melhorá-lo, e que outras populações não sabiam como fazer isso – tipicamente, os índios das Américas. Ou, ainda pior, no Oriente Médio, os árabes, que não só não sabiam fazer, como ainda degradavam o clima, por serem incapazes de gerenciar a natureza”, complementa.

Teoria de Buffon acelera a busca pela compreensão do clima

Ou seja, nessa época a mudança do clima tinha um viés otimista, que ilustrava o suposto controle que o homem poderia exercer sobre a natureza. Até que o naturalista francês Georges-Louis Leclerc Buffon aparece com uma teoria assustadora: a de que a Terra estava se resfriando e poderia estar se direcionando para uma “morte térmica”.

"Buffon diz que a morte é inevitável, mas ele acha que as sociedades europeias têm o poder de melhorar o clima para atrasar essa morte certa”, ressalta Locher.

Essa percepção vai marcar o início da climatologia, no fim do século 18. Em pleno Iluminismo, a meta era buscar embasamento científico para poder antecipar e evitar as mudanças climáticas que poderiam ocorrer na Terra em um horizonte distante, de décadas ou séculos à frente.

Iniciam-se, então, os estudos das geleiras e da vegetação nos topos das montanhas, que até hoje embasam os cientistas para medir a que ponto o planeta se degrada. Nesse contexto, uma gigantesca catástrofe natural acelerou a busca por respostas – a maior erupção vulcânica de todos os tempos, em 1815 na Indonésia, é associada ao frio atípico no verão europeu no ano seguinte.

Emissões geradas pelo homem

"Houve todos os tipos de teorias que foram apresentadas, mas o essencial do debate foi sobre as causas antrópicas, ou seja, humanas. Será que desmatamos demais no passado?”, questiona Fressoz. "Na França, o debate foi: o que a revolução fez com as nossas florestas? E aí vimos a dimensão política se misturando ao assunto, pela primeira vez. O discurso dos monarquistas foi de que a Revolução Francesa foi devastadora para as florestas do país e, portanto, para o clima”, comenta.

Nesse mesmo período, uma outra revolução marcou a história da climatologia: a industrial. Ocultada pelo desenvolvimento da indústria, a preocupação climática ficou para segundo plano. Enquanto isso, as emissões em massa de gases de efeito estufa pelos transportes e as máquinas geraram, pouco a pouco, a crise climática que o mundo enfrenta agora. Apesar dos esforços dos cientistas, eles só conseguiram provar que a ação do homem era determinante em mudanças irreversíveis no clima da Terra no início do século 21.

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