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China promete alcançar a neutralidade de carbono até 2060, mas relança indústria do carvão

Desde a Conferência do Clima de Paris, em 2015, a China tenta se livrar da imagem do principal país poluidor do mundo. O governo chinês chegou a estabelecer o objetivo de alcançar a neutralidade de carbono até 2060. Mas mesmo diante do alarmante relatório da ONU sobre o clima, divulgado nesta segunda-feira (9), Pequim continuará a retomada das atividades em suas minas de carvão. 

Usina de carvão em Shenyang, no nordeste da China. Imagem de ilustração.
Usina de carvão em Shenyang, no nordeste da China. Imagem de ilustração. Reuters
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Zhifan Liu, correspondente da RFI em Pequim, com agências

Em toda a região norte e oeste da China, as minas voltaram à ativa nas últimas semanas para, segundo o governo, suprir a demanda de energia elétrica no país. Primeiro consumidor de carvão no mundo, o país é extremamente dependente desta energia fóssil. 

Para piorar ainda mais esse cenário, o consumo de carvão subiu vertiginosamente devido às catástrofes naturais enfrentadas pela China neste ano. Inundações gigantescas causaram a morte de mais de 300 pessoas no centro do país, incidentes que tiveram uma participação importante na demanda de energia.  

Essa dependência do carvão resulta em consequências negativas para o governo chinês, em um momento em que o país tenta melhorar sua imagem. Em julho, o país lançou o novo "mercado de carbono", um instrumento para estimular milhares de empresas a reduzir as emissões de gases do efeito estufa, mas que ainda não se mostrou eficiente.

Nenhum plano para a neutralidade de carbono

O presidente chinês, Xi Jinping, garante que a neutralidade de carbono será alcançada em 2060 e que o uso do carvão será "gradualmente eliminado" a partir de 2026. No entanto, até o momento, nenhum plano foi apresentado detalhando como atingir esse objetivo. 

Para que a China cumpra sua meta, 90% da produção de energia deve vir de fontes nucleares ou renováveis até 2050, de acordo com pesquisadores da Universidade Tsinghua, em Pequim. Atualmente o percentual é de 15%.

O país possui um terço do parque eólico e solar do mundo e produz energia renovável a um custo inferior ao do carvão. Mas, em 2020, a energia movida a carvão aumentou em 38,4 gigawatts, um "frenesi que coloca em xeque as metas climáticas de curto e longo prazo", afirma Christine Shearer, da ONG Global Energy Monitor.

"Os fornecedores de energia estão hesitantes em aumentar a parcela de energia verde adquirida devido à pressão significativa do setor de carvão", explica Han Chen, um pesquisador de política energética do National Resource Defense Council, um grupo de lobby com sede nos Estados Unidos. "Esta é a razão pela qual as energias renováveis representam apenas 15% da matriz energética da China, apesar dos investimentos feitos", acrescenta.

O governo se comprometeu a investir em redes inteligentes e armazenamento de energia nos próximos cinco anos, e autorizar a instalação de usinas nucleares e eólicas nas regiões do oeste, para que alimentem usinas da costa leste. Os investimentos em energia nuclear também estão crescendo: nos próximos 15 anos, a China quer instalar pelo menos 200 gigawatts de produção nuclear, acima da capacidade existente da França e dos Estados Unidos, os dois principais produtores do mundo.

Veículos elétricos 

Um quarto das emissões poluentes da China vem do transporte, e as autoridades despejaram bilhões de yuans para promover soluções mais limpas. Atualmente, 5% dos veículos vendidos no país são elétricos ou híbridos e a maioria das cidades possui milhares de pontos de recarga.

O transporte público também mudou para o uso de uma energia mais limpa e estradas eletrificadas estão sendo construídas para veículos inteligentes. Mas, em 2020, o governo cortou seu apoio aos fabricantes de carros elétricos, após vários casos de fraude nos subsídios.

Nos últimos 30 anos, o gigante asiático plantou mais de 40 bilhões de árvores que podem absorver parte das emissões poluentes. Mais de 22% do seu território é arborizado, contra 12% em 1978. No entanto, especialistas apontam que esses reflorestamentos são baseados em uma única espécie, o que torna as florestas mais vulneráveis a secas ou parasitas.

Em resumo, a China ainda está longe de alcançar os objetivos que determinou para deixar de ser o maior poluidor do mundo. "O país está em um ciclo de crescimento baseado em emissões suplementares que colocam em xeque o progresso feito desde o início dos anos 2010", revela Li Shuo, consultor climático do Greenpeace China. "A solução é acabar com o vício do país em combustíveis fósseis, mas agir dessa forma ainda é visto como suicídio econômico", avalia. 

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