Apoiadores de Dalai Lama na França protestam contra interpretação equivocada de vídeo polêmico

Centenas de tibetanos reuniram-se neste sábado (22) em Paris em apoio ao Dalai Lama, criticado nas redes sociais e pela mídia, após um vídeo que gerou polêmica, ao mostrar o líder religioso pedir que um garoto em seu colo chupe sua língua.

Manifestantes protestam em Paris contra a maneira como um vídeo polêmico do Dalai Lama foi tratado pela mídia francesa, 22/04/23. AFP - BERTRAND GUAY

"Parem de difamar a sua santidade!", "Parem com a propaganda chinesa!", gritavam os manifestantes, reunidos em frente às instalações da France Télévisions, para denunciar "os meios de comunicação e canais de televisão que não fizeram o seu trabalho de jornalistas e retransmitiram a propaganda chinesa", segundo as palavras, ao microfone, de um porta-voz da comunidade tibetana.

A multidão, estimada em várias centenas de pessoas - incluindo muitas crianças - por um jornalista da AFP, agitava bandeiras tibetanas e muitos participantes carregavam retratos do Dalai Lama.

Seis associações da comunidade tibetana convocaram a manifestação, de apoio ao líder espiritual e religioso do Tibete, após a divulgação de um vídeo nas redes sociais nos últimos dias, que suscitou uma série de reações hostis.

O vídeo, transmitido mais de um mês após os acontecimentos (28 de fevereiro), mostra o Dalai Lama em audiência perto de Dharamsala (norte da Índia, onde vive exilado), com um jovem indiano acompanhado da mãe. O Dalai Lama, de 87 anos, mostra a língua para a criança, que parece confusa, logo após perguntar-lhe: "Você pode chupar minha língua?", provocando risos da assembleia.

Brincadeira inocente

O líder espiritual mais tarde "pediu desculpas" ao menino e sua família em sua conta no Twitter, dizendo que "muitas vezes provoca as pessoas que (ele) conhece de uma forma inocente e brincalhona" e que "lamenta o incidente".

Para a comunidade tibetana na França, as reações hostis são "uma má interpretação do vídeo". Ela lamenta que "fatos descontextualizados estejam circulando" em certos meios de comunicação franceses, disse ela em um comunicado à imprensa. "Isso entristeceu profundamente e feriu a comunidade tibetana, na França e em todo o mundo".

"É realmente uma provocação do Dalai Lama", disse à AFP Françoise Robin, professora universitária do Inalco (Instituto Nacional de Línguas e Civilizações Orientais). "Entre os tibetanos, existe uma expressão, “coma minha língua”, que deriva de uma brincadeira entre crianças e os mais velhos: quando os primeiros pedem a estes um pouco de dinheiro ou um doce, e estes não têm mais nada para dar, eles dizem: ‘coma minha língua’”.

“É muito difícil medir a dor que essa manipulação infligiu aos tibetanos”, acrescenta, enquanto o Dalai Lama é “a sua esperança e o seu orgulho”.

(com AFP)