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Turismo militar: agências de viagem chinesas organizam excursões para assistir celebrações na Rússia

O fim da Segunda Guerra mundial e a vitória contra o nazismo são celebrados nesta quinta-feira (9) na Rússia. A data é marcada por desfiles em Moscou, mas também em outras cidades do país, perto da fronteira com a China. De olho nessa oportunidade, agências de turismo chinesas organizam excursões para assistir os eventos do lado russo. Mas essa nova forma de turismo militar vem sendo criticada nas redes sociais, onde alguns internautas lembram que essa região da Rússia já pertenceu aos chineses.

Desfile militar em Vladivostok se tornou atração para turistas chineses.
Desfile militar em Vladivostok se tornou atração para turistas chineses. REUTERS - Tatiana Meel
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Stephane Lagarde, correspondente da RFI em Pequim, como a colaboração de Chi Xiangyuan

A “Grande parada da vitória”, nome dado ao desfile militar realizado em Vladivostok, se tornou este ano uma das opções de turismo para chineses em busca de passeios com uma pitada de exotismo de baixo custo. Situada a apenas uma centena de quilômetros da fronteira entre os dois países, a celebração tem atraído cada vez mais viajantes. Com a desaceleração da economia chinesa, parte da população está em busca de opções de lazer mais acessíveis.

Publicidades para esse tipo de excursão se multiplicaram nos últimos dias. Os anúncios tentam chamar a atenção dos viajantes elogiando a beleza das paisagens siberianas, mas também dos uniformes dos militares russos .

“Organizamos um pacote de quatro dias para assistir ao desfile militar em Vladivostok. Formamos grupos de 40 pessoas, que partiram nos dias 7 e 8 de maio”, relata a senhora Wang, funcionária de uma operadora de turismo em Harbin, no nordeste da China. “Basta ter um passaporte com validade de seis meses”, detalha.

Os grupos saem geralmente da cidade de Suifenhe, na província chinesa de Heilongjiang. E segundo as agências contatadas pela reportagem da RFI, vários ônibus com destino a Vladivostok partiram lotados esta semana.

O passeio inclui uma visita para conhecer a arquitetura neoclássica da cidade portuária russa, a degustação das riquezas da gastronomia e, principalmente, a possibilidade de ver de perto as armas e equipamentos das forças militares russas.

“É a primeira vez que vejo um desfile de perto. Tivemos permissão para tirar fotos livremente durante o ensaio. Também pudemos chegar bem perto dos equipamentos e das armas”, conta o engenheiro chinês An, empolgado com sua experiência. “Não seria possível fazer isso na China. Gostei muito da viagem, não houve discriminação e os russos que conheci foram bastante amigáveis”, relata.

Nas redes sociais, desde o início era possível ver grupos de turistas chineses visitando os ensaios do desfile militar na Praça da Vitória, em Vladivostok. Em sinal da amizade sino-russa, muitos se fotografaram vestindo fardas militares do país vizinho.

Passado chinês de Vladivostok

Apesar de entusiasmo de alguns turistas, esse tipo de iniciativa não agrada a todos. Na Internet, os puristas criticam as excursões. Para alguns, ir visitar soldados russos na Sibéria é uma vergonha, já que banaliza uma disputa histórica entre os dois países.

Em 1858, a China imperial cedeu à Rússia cerca de 400 mil quilômetros de território chinês, dos quais faz parte Vladivostok. O tratado de Aïgon, assinado pela dinastia Qing, foi ratificado pela convenção de Pequim em 1860, mas a perda do território nunca foi superada. Prova disso: um século depois, em 1969, confrontos armados violentos ainda foram registrados nas áreas de fronteira entre a URSS e a China.

As tensões só diminuíram em 2001, quando Vladimir Putin e Jiang Zemin, presidentes dos dois países na época, assinaram um novo tratado estabelecendo uma relação de paz entre os vizinhos. O documento foi assinado novamente em 2021, desta vez por Putin e o atual presidente Xi Jinping.

Mesmo assim, essa ferida não parece ter sido cicatrizada. “Senti uma profunda tristeza e uma dor persistente ao ver esses anúncios publicitários” promovendo o turismo militar, escreveu um internauta.

Interesses econômicos

Desde 1° de junho de 2023 a China utiliza o porto de Vladivostok para seu comércio interior. As trocas entre os dois países deram um salto de 64% e alcançaram US$ 240 bilhões nos últimos dois anos. Apenas no setor automobilístico, o número de carros chineses vendidos na Rússia foi multiplicado por sete.

No entanto, apesar desse boom no comércio e da propaganda chinesa que insiste na sólida amizade sino-russa há mais de uma década, uma parte dos internautas chineses não parece ter esquecido a história.

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