Acessar o conteúdo principal

Mianmar: Junta Militar restabelece pena de morte e executa quatro prisioneiros

A Junta Militar que governa Mianmar anunciou nesta segunda-feira (25) ter executado quatro militantes pró-democracia acusados de "atos terroristas". Essas são as primeiras execuções desde que a pena de morte foi abolida, em 1988.

Kyaw Min Yu, um dos ativistas executados pela junsta militar em Mianmar.
Kyaw Min Yu, um dos ativistas executados pela junsta militar em Mianmar. AP
Publicidade

Os quatro prisioneiros foram acusados de ajudarem milícias a combater os militares que realizaram um golpe de Estado, no ano passado. Eles foram condenados à pena de morte em um processo ocorrido a portas fechadas em janeiro e em abril. 

Entre os condenados está Phyo Zeya Thaw, ex-deputado da Liga Nacional para a Democracia, partido da ex-dirigente Aung San Suu Kyi. Ele foi preso em novembro do ano passado e condenado à morte em janeiro deste ano por violar a lei antiterrorismo.

Pioneiro do hip hop birmanês, cujas letras criticavam o Exército desde o início dos anos 2000, Phyo Zeya Thaw esteve detido em 2008 por pertencer a uma organização considerada ilegal no país e por "posse de moeda estrangeira". Ele obteve uma cadeira como deputado nas eleições de 2015, durante a transição do regime militar para o civil.

A Junta o acusou de ter orquestrado vários ataques contra o regime, incluindo um contra um trem em agosto passado, em Yangon. Cinco policiais morreram.

Outro executado foi Kyaw Min Yu, conhecido como "Jimmy", escritor e um opositor de longa data do Exército. Ele teve um papel importante na revolta estudantil de 1988 contra a junta militar da época. Ele foi preso em outubro de 2021 e recebeu sua sentença em janeiro deste ano.

Os outros dois réus foram condenados à morte pelo assassinato de uma mulher que, segundo eles, era uma informante da junta em Yangon.

Manifestantes erguem as mãos em protesto contre golpe em Mianmar e em homenagem às vítimas de violência contra opositores, em 2021
Manifestantes erguem as mãos em protesto contre golpe em Mianmar e em homenagem às vítimas de violência contra opositores, em 2021 AP

Ex-parlamentares pedem ajuda da comunidade internacional

O governo de unidade nacional de Mianmar, formado por ex-parlamentaires, lideres da contestação contra o golpe de Estado e representantes das minorias étnicas condenaram as execuções e pediram à comunidade internacional que tomem medidas contra a Junta. "A comunidade internacional deve punir essa crueldade", pediu.

A ONG Human Rights Watch classificou as execuções como "um ato de extrema crueldade". A diretora da ONG para a Ásia, Elaine Pearson, pediu que haja  "responsabilização da Junta por seus crimes".

Para o representante da ONG Anistia Internacional, Jean Claude Samouiller, as execuções são mais um exemplo "assustador" de desrespeito à violação dos direitos humanos no país. Segundo ele, há registros de tortura, desaparecimentos forçados e até uso de minas nas residências e jardins de algumas das pessoas perseguidas pelo regime. 

"Nossos documentos mostram que há cerca de 100 pessoas nos corredores da morte. A comunidade internacional deve agir o mais rapidamente possivel. Há, mais uma vez, uma violação massiva dos direitos humanos em Mianmar. Os Estados devem fazer pressão sobre o pais para que seja colocado um fim nessas atrocidades", resumiu, em entrevista à RFI.

Segundo ele, países como a China, com quem Mianmar tem relações comerciais, deveriam se posicionar contra os excessos cometidos pela Junta. O representante da Anistia Internacional também defende que uma resolução seja votada no Conselho de Segurança da ONU. Os Estados Unidos condenaram nesta segunda-feira (25) a morte dos prisioneiros.

"Condenamos a execução pelo regime militar de líderes pró-democracia e de representantes eleitos pelo exercício de suas liberdades fundamentais", escreveu a embaixada americana em Yangon.

Cartaz da Anistia Internacional contra a pena de morte
Cartaz da Anistia Internacional contra a pena de morte © Amnesty International

Repressão sangrenta

A Junta foi criticada pelas potências internacionais quando anunciou, no mês passado, sua intenção de realizar as execuções.O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou a decisão, chamando-a de "flagrante violação do direito à vida, à liberdade e à segurança das pessoas".

Os especialistas destacaram que a lei marcial deu aos militares a possibilidade de decretar a pena de morte para "23 crimes vagos e definidos de forma ampla" e, na prática, para qualquer crítico ao poder. Alertaram, ainda, que as execuções podem ser aceleradas se a comunidade internacional não reagir.

As quatro execuções anunciadas na segunda-feira são "um ato escandaloso" que "criará ondas de impacto político, agora e por muito tempo", reagiu no Twitter Richard Horsey, especialista em Mianmar do International Crisis Group (ICG).

As execuções devem agravar o isolamento internacional dos militares birmaneses. A Junta tomou o poder à força em 1º de fevereiro de 2021, sob o pretexto de suposta fraude nas eleições do ano anterior, nas quais a NLD teve uma vitória arrasadora.

Os militares continuam a impor uma repressão sangrenta contra os opositores. Segundo uma ONG local, são mais de 2.000 civis mortos e mais de 15.000 detidos desde o golpe. Entre os presos, está Aung San Suu Kyi, de 77 anos, ex-líder e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz. Ela enfrenta várias acusações na Justiça, cujas sentenças podem totalizar até 150 anos de prisão.

(Com informações da AFP)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.