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Libanês que perdeu irmão bombeiro nas explosões do porto de Beirute lidera luta por justiça

William Noon, 28, se tornou um símbolo nacional no Líbano da luta dos familiares das vítimas da dupla explosão no porto de Beirute, em 4 de agosto de 2020. Incansável, esse voluntário da Defesa Civil libanesa é irmão de um dos 10 bombeiros que morreram na explosão do depósito de nitrato concentrado, que devastou a capital libanesa. William acompanhou a RFI durante uma visita ao que restou do porto, em memória dos que perderam a vida na tragédia.

O voluntário da Defesa Civil, William Noon, 28, é símbolo nacional no Líbano da luta pelos direitos de vítimas e familiares das explosões do porto de Beirute de 4 de agosto de 2020. Ao fundo o depósito que guardava o estoque de nitrato condensado, reproduzido também na tatuagem de William Noon.
O voluntário da Defesa Civil, William Noon, 28, é símbolo nacional no Líbano da luta pelos direitos de vítimas e familiares das explosões do porto de Beirute de 4 de agosto de 2020. Ao fundo o depósito que guardava o estoque de nitrato condensado, reproduzido também na tatuagem de William Noon. © RFI/Márcia Bechara
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Márcia Bechara, enviada especial da RFI ao Líbano

"Não tenho mais nada a perder", diz William Noon, o olhar doce de cima de seus 1,88m, o braço tatuado com a estrutura do depósito que explodiu com o nitrato condensado no trágico 4 de agosto de 2020; já o antebraço traz a  tatuagem de uma foto de seu irmão, bombeiro que morreu durante as explosões. Nesse verso e reverso das imagens, William se tornou  a voz midiática das famílias das mais de 200 vítimas por Justiça, o que, no contexto libanês atual, não é exatamente fácil de se conseguir.

O juiz Tareq Bitar, presidente do Tribunal Penal de Beirute, encarregado da investigação da dupla explosão no porto da capital libanesa em 2020, foi obrigado pela terceira vez, em novembro de 2021, a suspender suas investigações após o apelo de um ex-ministro libanês. Bitar tinha emitido um mandado de prisão em setembro, que não foi executado, para o ex-ministro de obras públicas, depois que ele se recusou a comparecer no tribunal. Houve “revocações”, uma coisa que só existe na lei libanesa, não existe no estrangeiro.  Eles afastaram o juiz [responsável pelo processo das explosões no porto de Beirute]", diz William Noon.

No dia da tragédia, o irmão de Noon, bombeiro, junto com mais nove colegas do batalhão ao lado do porto, foram deslocados para a região portuária, quando o primeiro alerta vermelho sobre um incêndio no porto foi lançado. Chegando ao local, o depósito com o nitrato concentrado explodiu, matando imediatamente os bombeiros e centenas de pessoas na região, deixando mais de 6.000 feridos e um enorme traumatismo para esse país, já castigado pela corrupção endêmica, a inflação galopante, a pobreza e a pandemia. A RFI visitou ao lado de Noon o Corpo de Bombeiros e a região, onde fotos e desenhos dos "heróis do porto" foram instalados como um memorial perpétuo.

Fontes que preferiram não se identificar acusam o governo libanês de ter enviado os bombeiros após a primeira explosão sabendo que havia no local um grande depósito de nitrato de alumínio de alta concentração, altamente inflamável, há mais de seis meses. O engenheiro ambiental e ativista ecológico libanês Ziad Abi Chaker afirmou à RFI que, ao contrário do que se dizia na época, "hoje se sabe o produto não era destinado a fertilizantes agrícolas, mas a munições e equipamentos de guerra, dada a sua concentração". 

Clique no vídeo abaixo para assistir a reportagem com William Noon no porto de Beirute:

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