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Conflitos com Hezbollah marcam eleição no vale do Bekaa, lar da comunidade brasileira no Líbano

A RFI acompanhou a votação na capital, Beirute, em duas escolas diferentes: o liceu católico maronita Sacré Coeur, no bairro de Gemmayzeh, no centro, e no liceu muçulmano xiita Abdel Kader, no bairro de Blat, dominado pelo Hezbollah e seu aliado Amal. Em ambos os locais, a votação transcorreu tranquila. Mas no vale do Bekaa, quase na fronteira com a Síria, onde mora uma boa parte da comunidade brasileira, foram registrados conflitos violentos com a milícia armada do Hezbollah.

A RFI acompanhou a votação na capital Beirute em dois liceus, um católico maronita, no centro, e outro muçulmano xiita em Blat, região dominada pelo Hezbollah, em 15 de maio de 2022.
A RFI acompanhou a votação na capital Beirute em dois liceus, um católico maronita, no centro, e outro muçulmano xiita em Blat, região dominada pelo Hezbollah, em 15 de maio de 2022. © RFI/Marcia Bechara
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Márcia Becharaenviada especial da RFI ao Líbano

Tudo parecia correr tranquilamente durante o dia neste domingo (15) na capital Beirute, com uma votação que dava ares de forte participação, marcada pela presença inesperada e massiva da terceira idade, um eleitorado libanês que não costuma dar o ar da graça para participar do pleito, segundo diversas fontes locais, em diferentes pontos da cidade. Nas longas filas, a prioridade era dada aos sêniores, muitos com dificuldade para se locomover.

No liceu católico do Sacré Coeur, em Gemmayzeh, no centro histórico de Beirute, o movimento era intenso por volta de meio-dia, com forte presença militar – praticamente um soldado em cada porta das salas de aula que, como no Brasil, servem de locais de votação. Na entrada, militares conferiam as carteiras de identidade dos eleitores, e as credenciais de imprensa dos jornalistas internacionais. 

No liceu do bairro muçulmano de Blat, reduto do Hezbollah na capital libanesa, um fila de homens esperava, fora do local, as mulheres votarem dentro do colégio – no Líbano, as seções eleitorais são separadas por credo religioso, e também por sexo. Dentro do prédio, longas filas comprovavam uma maioria feminina muçulmana, muitas com o véu islâmico preto, símbolo da comunidade feminina xiita. 

A bandeira amarela do Hezbollah no bairro de Blat, reduto da milícia armada (hoje um partido) na capital Beirute, em frente ao liceu muçulmano xiita Abdel Kader, em 15 de maio de 2022.
A bandeira amarela do Hezbollah no bairro de Blat, reduto da milícia armada (hoje um partido) na capital Beirute, em frente ao liceu muçulmano xiita Abdel Kader, em 15 de maio de 2022. © RFI/Marcia Bechara

Na porta do local, barracas com cadeiras de plástico traziam a bandeira amarela do Hezbollah, ostentando as tão contestadas armas. Logo ao lado, a barraca com a bandeira verde de seu aliado, Amal, fazia soar na rua seu hino bélico através de enormes caixas de som. Perguntados se permitiam ser filmados, partidários do Amal ironizaram, ao saber que se tratava da RFI, e disseram querer “mandar um recado para o (presidente) Macron”.

Na saída de todas as seções eleitorais visitadas pela reportagem na capital, os polegares marcados com tinta atestavam o voto nestas decisivas eleições legislativas de 2022, um gesto que é marco do pleito no Líbano. Em nenhuma das seções eleitorais visitadas pela RFI em Beirute foram constatadas violências.

Conflitos

Entretanto, em regiões onde o Hezbollah tem uma forte presença, os incidentes entre partidários de partidos rivais aumentaram, de acordo com a Associação Libanesa para Eleições Democráticas (LADE). Segundo informações da AFP,  o LADE, que é responsável pela supervisão do processo eleitoral [junto com diversos observadores internacionais da ONU, presentes no hotel onde se encontra a reportagem em Beirute, vários de seus membros foram atacados em seções eleitorais, particularmente no vale do Bekaa (leste), região que é considerada uma fortaleza do Hezbollah, e lar de uma das maiores comunidades brasileiras do Oriente Médio

Na mesma região, as Forças Libanesas cristãs, rivais diretas do partido muçulmano xiita, afirmaram em uma declaração oficial que vários de seus delegados foram espancados e expulsos das seções eleitorais. A LADE também publicou um vídeo mostrando os apoiadores do Hezbollah assediando um candidato independente nos subúrbios do sul de Beirute, outro reduto do movimento pró-iraniano.

As urnas foram fechadas às 19h (hora local), e até o momento as primeiras informações dão conta de uma forte abstenção, o que seria desastroso para a maior parte das forças progressistas do país. A taxa de participação às 17h era de apenas 40%, muito abaixo dos 49% de 2018.

Segundo Pierre Issa, uma das maiores lideranças políticas do Líbano, e chefe do partido centrista Bloco Nacional, formação que critica fortemente o sistema político confessional libanês, "os conflitos no vale do Bekaa e o alto custo dos transportes devem ter assustado o eleitor libanês. Tudo leva a crer que não conseguimos a mobilização necessária", admitiu em entrevista à RFI, na sede de seu partido em Beirute. 

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