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Iraque: eleitores têm poucas expectativas às vésperas das eleições legislativas

No Iraque, 25 milhões de pessoas estão inscritas para participar de eleições legislativas antecipadas. Dois anos após a revolta popular que abalou o país, os iraquianos parecem não acreditar mais em mudanças.

Mulher caminha entre cartazes de propaganda eleitoral na cidade Basora (sul), em 6/10/2021.
Mulher caminha entre cartazes de propaganda eleitoral na cidade Basora (sul), em 6/10/2021. Hussein FALEH AFP
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"Boicote!” é a palavra mais entoada por muitos iraquianos às vésperas do pleito, principalmente por manifestantes que protestaram em 2019. Na época, eles pediam a renovação da classe política por meio das urnas, mas hoje, a expectativa é de uma alta taxa de abstenção, apesar dos repetidos esforços do governo, de Ali al-Sistani, a mais alta autoridade religiosa xiita no país, ou da ONU para encorajar a população a votar.

Muitos acreditam que as cédulas serão fraudadas, explica a correspondente da RFI em Bagdá, Lucile Wassermann, como foi o caso em 2018. Outros criticam o contexto eleitoral - ativistas e candidatos independentes foram ameaçados e até mesmo mortos ou feridos por homens armados nos últimos meses. Há eleitores que também culpam as milícias de minar qualquer esforço democrático no país.

Os iraquianos dizem que será necessário muito mais do que discursos e eleições para reconstruir a confiança em um sistema que os desapontou por mais de 15 anos.

Candidato independente espera mudanças

A eleição dos 329 deputados será feita de acordo com uma nova lei eleitoral, que introduz a eleição de um único candidato e aumenta o número de círculos eleitorais, para encorajar candidatos independentes e locais. Mas os militantes que afirmam fazer parte da oposição terão pouca participação nas eleições. Dezenas deles foram vítimas de sequestros, assassinatos ou tentativas de assassinato, atribuídos a grupos armados pró-Irã.

Ali Aqil, um acadêmico de 40 anos entrevistado pelos enviados especiais Murielle Paradon e Boris Vichith, quer acreditar que as coisas podem mudar em seu país. Ele decidiu se candidatar como independente para que os protestos de 2019 não fossem desperdiçados. “Durante o movimento de protesto, 800 pessoas foram mortas, mais de 25.000 ficaram feridas”, lembra. “Acho que um dos objetivos do nosso movimento era fazer a diferença", acrescenta.

O candidato independente Ali Aqil, no corredor do prédio onde mora no bairro de Al Sadriya, no Iraque.
O candidato independente Ali Aqil, no corredor do prédio onde mora no bairro de Al Sadriya, no Iraque. © Murielle PARADON

O candidato quer dar trabalho aos jovens, combater a corrupção e atender às reivindicações da nova geração, afirma, e pede votos. “Os iraquianos precisam perceber que uma ampla participação vai fazer a diferença”, diz. “É possível se livrar de personalidades corruptas. Talvez a mudança não ocorra de maneira tão radical quanto esperamos, mas seria um primeiro passo na direção certa", afirma.

O movimento sadrista, liderado pelo xiita Moqtada Sadr, pode se fortalecer no parlamento. Seus apoiadores se reuniram nesta sexta-feira (8) em Bagdá.

"Sim às reformas, não à corrupção", gritam os manifestantes segurando retratos de seus heróis na Praça Tahrir, protegidos por forças de segurança. “Somos sadristas, vamos ganhar 100 assentos no parlamento para formar um novo governo e tomar o posto de primeiro-ministro”, lança um deles. “Seremos o maior bloco do parlamento e poderemos concretizar reformas no Iraque", acrescenta.

Moqtada Sadr tem chances de conseguir muitos votos. No entanto, ele hesitou em ser candidato. Apesar de ser conhecido por ser imprevisível, seus seguidores garantem ter confiança absoluta em Sadr.

Para os manifestantes, o líder religioso também é nacionalista. Ele lutou contra os americanos e luta contra influências externas. “A respeito da interferência externa dos países vizinhos, Sadr não ficará calado. Queremos um Iraque unido”, disse um manifestante.

Mas é preciso prestar atenção aos grandes rivais pró-Irã de Hachd al-Chaabi, coalizão paramilitar de milícias xiitas que querem preservar suas conquistas, depois de entrar no parlamento pela primeira vez em 2018, derrotando os jihadistas do grupo Estado Islâmico. E entre os sunitas, o jovem e influente presidente do parlamento, Mohamed al-Halboussi, busca consolidar sua base popular após uma ascensão meteórica.

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