Cidade de Palmira pode ser saqueada pelo exército sírio
Depois de passar quase um ano nas mãos do grupo Estado Islâmico (EI), Palmira pode estar ameaçada por roubos e destruições feitas pelo próprio exército sírio, que retomou a cidade dos jihadistas no último fim de semana. O alerta foi feito nesta terça-feira (29) por Cheikhmous Ali, arqueólogo sírio exilado na França.
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De acordo com Ali, doutor em Arqueologia do Oriente Médio da Universidade de Estrasbourg e diretor de uma rede de pesquisadores que monitora o patrimônio sírio, a reconquista de Palmira pelo exército de Bashar al-Assad "é uma boa notícia". Entretanto, ele ressalta que as forças sírias deveriam assumir a responsabilidade de proteger a cidade, "o que não é o caso".
Palmira é considerada a "pérola" do deserto sírio, uma cidade de mais de 2 mil anos, nomeada pela Unesco como Patrimônio Mundial da Humanidade. Ela abriga as ruínas monumentais de uma grande cidade que foi um dos mais importantes focos culturais do mundo antigo.
Quem sofre o maior perigo no momento, segundo Ali, é o museu da cidade antiga de Palmira. Com exceção de algumas esculturas cujos rostos foram destruídos pelos jihadistas, a maioria das coleções locais seguem intactas.
O especialista lembra, no entanto, que Palmira não conta hoje com nenhum arqueólogo que possa proteger seus tesouros. Muitos dos locais onde a cidade abriga importantes relíquias foram atingidos pelos bombardeios e as portas dos museus "estão abertas".
O maior medo do pesquisador é que o exército sírio saqueie a cidade e seus tesouros. De acordo com Ali, a proteção de Palmira não faz parte das prioridades do exército de Bashar al-Assad. Ele não exclui a possibilidade de que os militares sírios roubem as relíquias e culpem o grupo Estado Islâmico.
Reconstrução de Palmira em cinco anos
Nos últimos dias, muitos especialistas em arqueologia vêm se pronunciando sobre a possibilidade de reconstruir a cidade em cinco anos, uma ideia lançada pelo chefe de Antiguidades e dos Museus da Síria, Maamun Abdelkarim. A hipótese, entretanto, é rechaçada por Ali.
"A reconstrução é possível, mas não nas condições atuais. Este tipo de trabalho precisa ter normas, e, em um país em guerra, muitos erros serão inevitavelmente cometidos", diz. Segundo ele, mais vale deixar os escombros no estado atual e tentar reconstruir réplicas dos mesmos.
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