Para abafar denúncias de corrupção, papa altera regras de canonização
O papa Francisco aprovou nesta quinta-feira (10) novas regras sobre o financiamento de canonizações da igreja católica, que podem custar centenas de milhares de dólares a congregações religiosas. Segundo o Vaticano, a medida visa garantir maior transparência na Cúria Romana.
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Um decreto do Vaticano aprovado hoje pelo papa Francisco estabelece mais controles sobre os gastos de canonizações católicas. É difícil estabelecer o custo exato de cada santificação, já que ela varia segundo a figura do candidato, a quantidade de trabalho que implica e a duração.
Sobre o processo, que pode levar décadas, existem diversas acusações de corrupção, de malversação de gastos, além de denúncias de que candidatos a santos provenientes de congregações religiosas de países ricos seriam mais favorecidos.
Virar santo pode custar centenas de milhares de euros
Segundo o livro do jornalista italiano Gianluigi Nuzzi, "Via Crúcis", o escritório do Vaticano encarregado das canonizações chega a pedir até € 50 mil apenas para abrir uma causa. A canonização do padre e filósofo italiano Antonio Rosmini (1797-1855) teria custado, por exemplo, mais de € 750 mil, afirma Nuzzi.
Outros dois livros lançados em 2015, com documentos concedidos pelo padre espanhol Lucio Ángel Vallejo Balda e a laica italiana Francesca Chaouqui, denunciaram as finanças obscuras da Cúria Romana, entre elas as somas elevadas que algumas congregações religiosas gastaram para conseguir a canonização de seus protetores.
Balda e Chaouqui são atualmente julgados no Vaticano por vazamento de textos confidenciais.
Papa quer mais respeito ao dinheiro doado às canonizações
Com a medida aprovada hoje, Francisco revoga as normas determinadas em 1983 por João Paulo II e introduz a figura do "administrador" de canonizações. Segundo o Vaticano, o sumo pontífice foi encarregado de monitorar o "respeito escrupuloso do dinheiro obtido ou doado para cada causa, e de elaborar um orçamento e um balanço anual".
As novas normas entram em vigor imediatamente e serão experimentadas em um prazo de três anos. A Congregação para a Causa dos Santos já advertiu que, em caso de abusos, pode intervir no processo de canonização com medidas disciplinares.
"Fábrica de santos"
A chamada "fábrica de santos" é uma máquina burocrática complexa que estuda a vida e os milagres dos candidatos para alcançar a glória dos altares.
Em 27 anos de pontificado, João Paulo II proclamou 480 santos. Em três anos, Francisco realizou 23 canonizações, entre elas a de dois papas, João Paulo XXIII e João Paulo II, em 2014.
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