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Filme 'Propriedade' sobre conflito social no Brasil concorre no Festival Latino-Americano de Biarritz

Entre os filmes brasileiros em competição na 32ª edição do Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz está o longa-metragem de ficção “Propriedade”, de Daniel Bandeira. Desde as primeiras imagens, o thriller expõe a decadência dos laços sociais e a violência, que pode estar tanto nos centros urbanos quanto no interior do Brasil, onde os personagens principais imaginavam encontrar sossego, mas são profundamente surpreendidos. A RFI Brasil conversou com o diretor em Biarritz.

Filme brasileiro “Propriedade” é apresentado em Biarritz
Filme brasileiro “Propriedade” é apresentado em Biarritz © Fotomontagem divulgação e Maria Paula Carvalho
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Maria Paula Carvalho, enviada especial da RFI a Biarritz 

Em "Propriedade", do pernambucano Daniel Bandeira, há um estado de alerta permanente que segura o espectador. O filme foi exibido na tarde desta sexta-feira (29), último dia de exibições no Festival de Biarritz, com a presença do cineasta.

Com uma trama bem trabalhada, o longa-metragem aborda a difícil relação entre ricos e pobres no Brasil. Em destaque, como indica o título do filme: a propriedade privada e os ciúmes e ressentimentos que ela pode suscitar. Esse thriller começa com uma cena filmada por um telefone celular: um delinquente que ameaça uma mulher é morto a tiros na rua por um policial, sob aplausos dos transeuntes. 

Cansados da violência urbana, Teresa, personagem interpretada por Malu Galli, e seu marido vão morar na fazenda da família, mas são confrontados por uma revolta de trabalhadores rurais. Aterrorizados pela ameaça de expulsão de suas casas, os funcionários se rebelam e pegam em armas.  

“Essa mulher que vive na cidade sofre um trauma com a violência urbana, vai se refugiar no campo, mas ela se dá conta de que as raízes da violência urbana também estão lá, nesse lugar de sossego. Então, ela precisa lidar com essa situação e com outros trabalhadores rurais que, de sua parte, também precisam lidar com essa presença que é hostil a eles”, explica Daniel Bandeira.

A rica heroína, Teresa, se tranca dentro de seu carro blindado, mas não consegue dar a partida e se vê cercada pelos trabalhadores raivosos. “Na verdade, há um plano de transformar essa fazenda num hotel. Só que há pessoas trabalhando lá há muito tempo, há muitas gerações. E essa relação de propriedade entre essas pessoas e o local onde elas vivem e trabalham não está resolvida. E esse impasse acaba desencadeando uma relação conflituosa entre esses dois universos”, descreve.

O filme foi rodado no litoral sul de Pernambuco, na cidade de São José da Coroa Grande. Um lugar que, de acordo com o diretor, “também carrega essa herança histórica” de desigualdade e polarização política.  

“É uma metáfora não só dessa condição social, mas é também uma metáfora da condição histórica entre possuidores e trabalhadores, entre ricos e pobres, entre pretos e brancos”, afirma Bandeira. “A história da gente sempre está muito cindida entre quem está do lado de fora e o lado de dentro. Então, de certa forma, o cinema de gênero tenta simbolizar esses conflitos que são muito presentes”, acrescenta o diretor. 

Daniel Bandeira começou a carreira como montador, tendo trabalhado com nomes como o cineasta Kléber Mendonça Filho. Em 2017, estreou como roteirista e diretor. 

Repercussão internacional

Em fevereiro, Propriedade foi apresentado na Mostra Panorama do Festival de Cinema de Berlim. “É muito interessante porque o filme não foi exatamente pensado para festivais. A preocupação era muito local, do nosso cotidiano. Mas uma vez que somos convidados para os festivais internacionais, a gente se pergunta como questões tão locais vão ser compreendidas aqui fora. E ficamos surpresos em perceber que esse conflito de classes, em cada país que a gente exibe o filme, é percebido de uma forma diferente", relata.

"As pessoas se identificam com as suas próprias desigualdades que, de fato, são questões globais do nosso tempo e que estão explodindo agora”, acredita. “A recepção que o filme já está tendo aqui é muito estimulante. É muito bom saber que [ao] abordar nossas próprias questões, nossa própria realidade ganha eco internacional, ganha escuta internacional. Isso é muito importante para realizar os próximos projetos”, diz o cineasta brasileiro.  

“A paz é uma meta, mas a história ensina que a paz geralmente vem depois de muito sofrimento, depois de muito sangue e intolerância. Então, eu acho que caminhamos para um momento duro, mas espero que a gente aprenda com ele e chegue a um acordo, um reconhecimento da responsabilidade de cada um dentro da civilização”, conclui. 

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