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Chumbo: HQ francesa conta história de família marcada pela ditadura no Brasil

O jornal Libération desta terça-feira (5) traz uma entrevista com Matthias Lehmann, autor da história em quadrinhos "Chumbo", uma saga familiar que passeia por 70 anos da história do Brasil através do olhar de uma família de Belo Horizonte. 

 "Chumbo", desenhada em preto e branco ao longo de 368 páginas, a história começa nos anos 1960 e continua até o presente.
"Chumbo", desenhada em preto e branco ao longo de 368 páginas, a história começa nos anos 1960 e continua até o presente. © éditions Casterman
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Ele conta que já tinha essa ideia há pelo menos quinze anos, mas adiava escrever o livro por causa do trabalho de documentação. Porém, a chegada da extrema direita ao poder apressou as coisas. "A eleição de Jair Bolsonaro gerou um pensamento revisionista da ditadura e muitos começaram a pensar que no tempo dos militares era melhor", diz o autor. "Então, eu resolvi investigar essas questões, me apoiando em fatos históricos, sobretudo a tortura", completa. 

Desenhada em preto e branco ao longo de 368 páginas, a história começa nos anos 1960 e continua até o presente, contando o destino de uma família marcada pela ditadura, que durou entre 1964 e 1985 no Brasil. Como pano de fundo, a construção de Brasília e a decadência de um patriarca e empresário, diante dos acontecimentos políticos e econômicos.  

Saudades da ditadura 

A obra, que levou três anos para ser concluída, procura entender como uma população chega ao ponto de "normalizar" um regime autoritário e mesmo sentir saudades dessa época. Lehmann diz encontrar algo semelhante a isso na França atual. "Evidentemente não temos uma ditadura e nem tanques nas ruas de Paris, mas caminhamos para um autoritarismo inquietante e inédito", descreve, temendo "consequências irreversíveis".

Matthias Lehmann, autor de "Chumbo".
Matthias Lehmann, autor de "Chumbo". © Isabelle Franciosa

Os personagens são inspirados na própria família do autor. Filho de um francês e de uma brasileira instalados na França, ele conta que a mãe viveu "40 anos com saudades de seu país". Matthias Lehman, que cresceu em Paris, diz ao Libération "que precisava reconstruir alguma coisa com o Brasil". 

Ele espera que Chumbo (Ed. Casterman) possa ser traduzido em breve: "se não sair no Brasil, estará incompleto", acredita, citando que a obra tem muitas gírias que foram pensadas em português, "ainda que eu não me sinta verdadeiramente brasileiro", diz o escritor, de 45 anos, nascido na região de Paris. "Acredito que haja uma sede da esquerda brasileira por obras desse tipo, que contem novamente essa história dolorosa, pois não pensar sobre isso pode gerar o que aconteceu em 8 de janeiro, quando os bolsonaristas invadiram a Praça dos Três Poderes", conclui. 

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