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Na França, CEOs ganharam 130 vezes mais que assalariados em 2022

Remuneração “estratosférica” e disparidades “indecentes”: assim a ONG Oxfam analisa o fato de que os diretores de empresas do CAC 40 (empresas francesas cotadas na bolsa de valores) ganharam em média 130 vezes mais do que o salário médio de seus empregados, em 2022. De acordo com o estudo publicado na terça-feira (30), essa discrepância vem piorando nos últimos anos.

O CAC 40 reúne as maiores empresas francesas cotadas na bolsa de valores. Imagem ilustrativa.
O CAC 40 reúne as maiores empresas francesas cotadas na bolsa de valores. Imagem ilustrativa. © AP - Kamil Zihnioglu
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“A riqueza produzida continua a crescer” nas empresas do CAC 40, “mas a redistribuição dessa riqueza é desigual”, lamenta a Oxfam em seu relatório intitulado “Cash 40: demasiados milhões para alguns homens”.

Em 2022, os CEOs do CAC 40 ganharam em média 130 vezes mais do que os seus colaboradores, um aumento de cerca de 17% desde 2019, indica a associação. Em 1979, esses dirigentes “ganhavam em média 40 vezes mais do que o salário mínimo”, observa a Oxfam.

No entanto, ao longo das décadas, as remunerações dos CEOs se tornaram "excessivas e desconectadas da realidade", diz o relatório. O caso mais chocante é o patrão da Stellantis (grupo automotivo franco-ítalo-americano) Carlos Tavares que, em 2023, ganhou € 36,5 milhões: quase R$ 200 milhões. Em 2022, Tavares apareceu no terceiro degrau do pódio das desigualdades salariais, com os seus € 22 milhões, que representaram 341 vezes o salário médio pago aos funcionários na fabricante de automóveis. Um montante que, embora tenha sido validado por 70% dos acionistas, foi considerado “chocante e excessivo” pelo presidente francês Emmanuel Macron. Contactada pela AFP, a Stellantis não quis reagir.

Para a Oxfam, é justamente a relação “tóxica” entre acionistas e gestores que permite o pagamento destas remunerações “estratosféricas”.

Essas diferenças podem ser explicadas em parte, segundo a ONG, pela “remuneração excessiva dos executivos”. Em 2022, eles ganharam, em média, € 6,66 milhões (o equivalente a quase R$ 36 milhões), ou 27% mais do que recebiam três anos antes. Os empregados, por sua vez, viram os seus salários aumentarem apenas 9% no mesmo período.

Algumas empresas “aprofundam as desigualdades” mais do que outras. A Teleperformance apresenta a maior disparidade salarial, segundo a Oxfam. O CEO da empresa, Daniel Julien, ganhou 1.453 vezes mais do que o salário médio da sua empresa em 2022, num total de € 19,7 milhões.

Questionada, a Teleperformance afirma que o fosso destacado pela Oxfam entre os salários de gestores e seus colaboradores é “puramente teórico e não real”, pois dependem dos objetivos alcançados e da possível “queda no preço das ações”.

Fora da realidade

Logo depois vem o Carrefour, cujo CEO recebeu 426 vezes mais que a média dos empregados, uma diferença que pode ser explicada “por um salário médio muito baixo”, especifica a Oxfam. “Alexandre Bompard ganha, em apenas 9 horas, o equivalente ao salário médio anual dos funcionários do Carrefour, mesmo em plena crise agrícola e quando o mercado sofre as consequências da inflação”, resume Léa Guérin, responsável por temas de regulação das multinacionais da ONG.

O Carrefour afirma que os cálculos da Oxfam não correspondem “a nenhuma realidade”, uma vez que relacionam a remuneração de Bompard com a de 334 mil funcionários em todo o mundo – incluindo a maioria no Brasil –, apesar das “discrepâncias de poder de compra” entre os países. O salário médio nas redes de distribuição também é “significativamente inferior ao de outros setores”, indicou o grupo, porque a força de trabalho é “muitas vezes pouco qualificada”.

A ONG destaca, entretanto, que a parte fixa da remuneração dos executivos representou em média 27% em 2022. A parte variável ou em ações – baseada principalmente em critérios financeiros e de curto prazo definidos pelos acionistas – representou 69%. “O governo e as grandes empresas não estão à altura de uma partilha justa e equitativa de valor com os seus funcionários, mas também com o planeta”, conclui a Oxfam, completando que essas somas exorbitantes fazem falta ao investimento na transição energética.

A organização faz campanha para que a remuneração dos executivos seja condicionada a uma estratégia climática, por um salário “decente” em toda a empresa, menos ligado a critérios financeiros. A Oxfam defende a fixação de um salário máximo e decente, e que sejam estabelecidos "valores justos e igualitários" em relação aos assalariados, o que representaria 20 vezes o salário médio da empresa. Esta é aproximadamente a ordem de grandeza encontrada, em 2022, com o salário médio no banco Crédit Agricole (23) ou na empresa de telefonia Orange (29).

(Com AFP)

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