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"Vou aproveitar o momento, não tenho nada a perder", diz Bia Haddad na véspera de semifinal em Roland-Garros

Diante dos jornalistas, na coletiva de imprensa após derrotar a tunisiana Ons Jabeur, nesta quarta-feira (7), Bia Haddad teve de responder várias vezes se algum dia sonhou em ir tão longe no torneio. A surpresa de ver a brasileira nas semifinais da competição se mistura à admiração pela trajetória sólida ao longo de todas as partidas do Grand Slam francês, onde ela tem demonstrado grande preparo físico.

A brasileira Bia Haddad derrotou a tunisiana Ons Jabeur, nesta quarta-feira (7), em Roland-Garros e passou para as semifinais da competição.
A brasileira Bia Haddad derrotou a tunisiana Ons Jabeur, nesta quarta-feira (7), em Roland-Garros e passou para as semifinais da competição. AP - Thibault Camus
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Maria Paula Carvalho, de Roland-Garros

Foi a primeira vez no torneio que a paulista, número 14 do ranking mundial, jogou na quadra principal de Roland-Garros. “Eu nunca tinha jogado na Philippe-Chatrier e ainda mais contra alguém tão competitiva”, destaca. “Só isso seria suficiente para me desestabilizar, mas eu tentei ser agressiva, tive de ser paciente e esperar as oportunidades”, explica.

“Eu penso no tênis como uma maratona e uma das minhas qualidades é que eu sei esperar e nunca desisto”, continuou. “Sei que meu nível é alto e mesmo que não jogue bem em algum momento, sei que vai voltar e, dessa vez, o momento mudou no tie-break, quando me senti em casa”, revela.

"Mais longe do que esperava"

Perguntada se vivia um sonho e se tinha medo de acordar, Bia Haddad conta que já foi mais longe do que esperava em Paris. “Eu vim para Roland-Garros para estar na terceira rodada, mas quando passei, coloquei uma meta acima. Nas quartas de final, todo mundo joga bem. Por isso, quando o jogo acabou, eu olhei para o meu time e disse: “conseguimos”.

Ao falar de uma das maiores vitórias de sua vida, Bia Haddad credita os resultados ao trabalho duro feito até agora. “Eu já tive momentos como esse, por exemplo, quando fiz a minha primeira final no torneio WTA (Associação do Tênis Feminino). E cada etapa que a gente passa nos deixa mais fortes”, garante.

Ons Jabur e Beatriz Haddad Maia. Em Roland-Garros, em 7 de junho de 2023.
Ons Jabur e Beatriz Haddad Maia. Em Roland-Garros, em 7 de junho de 2023. © Pierre RENE-WORMS / RFI

Trabalho em equipe

Após mais de duas horas e meia de combate até chegar à vitória, de virada, por 2 sets a 1, Bia ressaltou a importância de “tomar conta do corpo” com fisioterapia. Assim como havia feito na quadra, ao falar para o público, ela elogiou o esforço de sua equipe técnica, citando os nomes do preparador físico, Rodrigo Urso, o fisioterapeuta Paulo Cerutti e o técnico Rafael Paciaroni.

“A equipe toda tem entre 30 e 37 anos, são pessoas que sempre trabalharam duro. Eu não acredito que são os opostos que se atraem”, diz. “A nossa energia é a mesma e por algum motivo sempre tivemos a mesma essência de valores humanos”, diz orgulhosa do trabalho realizado. “Você é um espelho do que é fora da quadra e que bom que tenho a sorte de ter eles comigo, pois passamos mais tempo entre nós do que com a nossa família”, observa. “Somos humanos, sentimos medo, é claro, mas eles seguram a barra”, agradece.

Próximo desafio contra a número 1

Nesta quinta-feira (8), Beatriz Haddad Maia vai enfrentar a bicampeã de Paris, a polonesa Iga Swiatek, que venceu a americana Coco Gauff, nesta tarde, em dois sets (parciais de 6/4, 6/2). Foi a 12ª vitória consecutiva da polonesa em Roland-Garros, que entra em quadra como favorita. “Eu vou manter a mesma mentalidade para amanhã”, disse a brasileira aos jornalistas.

As duas tenistas já se enfrentaram no WTA 1000 de Toronto, no ano passado, quando Bia venceu por 2 sets a 1 (parciais de 6/4, 3/6 e 7/5). Porém, o torneio foi disputado em quadra rápida. Embora Swiatek se destaque em todas as quadras, é no saibro, caso de Roland-Garros, que a polonesa se sente melhor. 

O retrospecto, contudo, dá esperanças à brasileira. “Jogamos uma vez no meio do ano passado, 3 sets e eu ganhei. É difícil, pois ela é a numero 1, é jovem (22 anos), e uma ótima pessoa. Já venceu duas vezes aqui, eu vou aproveitar cada ponto, aproveitar o momento, não tenho nada a perder, vou fazer o meu melhor”, prometeu Haddad. ”Eu vou conversar com o Rafa (técnico), estudar a parte técnica, mas estou bem e preparada”, garante.

Altos e baixos

Aos 27 anos, Bia conta que demorou para chegar ao seu melhor momento no tênis. Por quê? “Quatro cirurgias, não foi fácil voltar a jogar depois de momentos difíceis. Você precisa construir tudo de novo. Tive que lutar muito para chegar aqui”, diz.

Bia já sofreu com problemas que foram desde lesões até um resultado positivo de doping, em 2019. À época, o apoio do público foi diminuindo, assim como as expectativas em torno dela, que seguiu com foco e determinação.

Esta é a primeira vez que uma jogadora brasileira está nas semifinais de um Grand Slam em 55 anos. A última havia sido Maria Esther Bueno, em 1968, antes da era do tênis profissional. “O torneio de Roma já mostrou que o nível estava alto, mas que eu precisava melhorar emocionalmente. Venho jogando em alto nível há alguns meses, a gente merece estar aqui", comemora. 

Bia Haddad disse estar consciente de que está fazendo história para o tênis brasileiro, o que lhe motiva. Mais do que isso, ela diz superar as dificuldades que outros tenistas sul-americanos também enfrentam. “Como sul-americanos, somos muito lutadores, algumas coisas são mais difíceis para nós”, lamenta.

Contudo, conforme sua personalidade, nenhuma dificuldade vem sem um aprendizado. “Eu sou lutadora, sempre fui e motivos para desistir não faltaram. Hoje foi um dia em que eu podia perder a confiança, mas não me apeguei a isso. Nunca baixei a cabeça e não seria hoje”, conclui.

Por fim, ela enviou uma mensagem de carinho aos quatro avós, a quem homenageou ao escrever na lente da câmera que transmitia o torneio: “Para os vovôs - keep fighting (continue lutando, em inglês)", duas frases ligadas com o desenho de um coração.

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