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Voo Rio-Paris: irmãos de um dos copilotos da Air France depõem em julgamento carregado de emoção

"Não eram 225 vítimas e três pilotos que falharam, mas sim 228 vítimas". A declaração foi feita nesta terça-feira (29) por um irmão e uma irmã de um dos três pilotos do voo Rio-Paris durante o julgamento da Airbus e da Air France em Paris. Os familiares homenagearam um homem "exemplar", que fez de "tudo para salvar" o AF447 no dia 1° de junho de 2009.

A caixa-preta contendo as gravações das conversas entre os pilotos do voo AF 447 foi encontrada inteira.
A caixa-preta contendo as gravações das conversas entre os pilotos do voo AF 447 foi encontrada inteira. BEA
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Durante esta oitava semana do julgamento, parentes dos 216 passageiros e dos 12 tripulantes que morreram no acidente falaram sobre suas perdas, oscilando entre a dor e a raiva. As famílias das vítimas esperam obter respostas sobre a responsabilidade das duas gigantes da aviação na queda da aeronave. 

Sarah testemunhou sobre os “37 anos” que “viveu” o seu irmão, David Robert, copiloto do voo que caiu há mais de 13 anos na costa do Brasil. Num depoimento salpicado de humor, ela descreveu "o mais velho de cinco irmãos", "muito bonito", "carismático", "brilhante", "muito sociável, sorridente" e "curioso". Ela evocou o “orgulho de ter um irmão piloto”, que “trazia presentes das suas viagens” e contava “anedotas de suas escalas e dos colegas”. “Ele tinha orgulho de estar na Air France”, resume Sarah, “seu trabalho era parte de sua identidade”, define. Quando ele morreu, o "equilíbrio" da família "explodiu". Mas “ainda conseguimos permanecer uma família unida", para "recuperar o nosso ímpeto vital", continua ela.

Sarah conta que não esperava muito do julgamento. "Achei que íamos ser informados novamente de que havia três idiotas no controle deste avião. Posso garantir que meu irmão não era nada estúpido", reage irritada.

“David amava o seu trabalho, amava o seu filho, seus amigos, sua família, a vida, e desde que ouvi as caixas-pretas, tenho ainda mais certeza de que ele fez de tudo para salvar este avião”, garante ela. Os pilotos “fizeram o que puderam, com o que sabiam”, completa.

 “Falha de pilotagem”

Em 1º de junho de 2009, as três sondas Pitot, que permitem calcular a velocidade do avião, congelaram. No cockpit, essa falha levou à desconexão do piloto automático e a vários alarmes.  Desestabilizados, os dois copilotos, logo acompanhados pelo comandante, perderam o controle da aeronave, que atingiu o Atlântico menos de cinco minutos depois.

A gravação do som do cockpit contido nas caixas-pretas foi transmitida no dia 17 de outubro, a portas fechadas.

Defendendo-se de qualquer “falha” que tenha levado ao acidente, a Airbus, julgada como a Air France por homicídio culposo, argumenta que “erros de pilotagem” estão na origem do desastre.

"Ele era nosso modelo, era estudioso", diz Teddy, irmão mais novo de David Robert. Desde a tragédia, “a família Air France, como meu irmão gostava de chamar, sempre teve empatia”, diz o irmão da vítima, que não guarda a mesma opinião da Airbus. "A Airbus tentou roubar a imagem que eu tinha do meu irmão, um irmão lúcido e exemplar. Não conseguiu", acusa. "No total, não houve 225 vítimas e três pilotos que falharam, mas 228 vítimas e três sondas Pitot defeituosas", observa.

A família do copiloto ainda evoca a mãe deles, que adoeceu 18 meses após o desastre e "cuja morte eles acreditam estar ligada à perda do filho mais velho". "Este julgamento é um passo importante, é hora de dizer uma última vez e publicamente adeus a David. Qualquer que seja o resultado, terá ajudado a reabilitar a memória do meu irmão. Exceto pelos representantes desonestos e tendenciosos dos réus que, é claro, teriam feito melhor!" lamentam.

“Tenho a certeza absoluta da ausência de culpa de pilotagem do meu irmão e dos demais pilotos”, afirma por fim a irmã da vítima. "David é vítima de um acidente que, estatisticamente, tinha que acontecer um dia", conclui.

(Com AFP)

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