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França ainda não respeita paridade, mas registra aumento de mulheres candidatas nas eleições legislativas

A França vai às urnas neste domingo (12) para o primeiro turno das eleições legislativas. Embora a paridade, exigida por lei, continue não sendo respeitada e possa resultar em multas altas aos partidos, são grandes as possibilidades de que a quantidade de deputadas mulheres aumente na Assembleia Nacional.

Cartazes de candidatos a deputados no primeiro turno das eleições legislativas da França, neste domingo (12). Concorrentes do sexo masculino ainda são maioria.
Cartazes de candidatos a deputados no primeiro turno das eleições legislativas da França, neste domingo (12). Concorrentes do sexo masculino ainda são maioria. AP - Bob Edme
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Daniella Franco, de Paris

Entre as 6.293 candidaturas validadas para o primeiro turno da votação, 56% são homens e 44% são mulheres. No entanto, a quantidade de francesas que investem em uma carreira de deputada aumentou alguns pontos desde a última eleição, em 2017, quando 42,4% dos concorrentes eram mulheres.

Mesmo que a paridade de candidaturas determinada por lei não implique em uma representação igualitária na Assembleia Nacional, o número de deputadas também vem aumentando ao longo dos tempos. Há cinco anos, elas passaram de 27% à 39%: um recorde. A previsão é que essa tendência continue em vigor.

Outro dado inédito é a quantidade de candidaturas de concorrentes do sexo feminino nestas eleições legislativas, cerca de 2.800, algo jamais visto na história da França. Em um terço dos distritos eleitorais, as mulheres são mais numerosas que os homens. 

Feminização da política francesa

A estratégia da "feminização" da política francesa teve início no primeiro mandato do atual presidente francês, Emmanuel Macron, reeleito no último mês de abril. Desde a primeira composição de seu executivo, em 2017, o líder centrista anunciou uma divisão de ministérios e secretarias de Estado de forma mais igualitária entre mulheres e homens, o que nem sempre foi cumprido na ponta no lápis. Seu primeiro governo tinha 20 homens e 18 mulheres. 

Em 2019, com as mudanças no governo implementadas sob o comando do então primeiro-ministro Edouard Philippe, as mulheres passaram a ser majoritárias no governo Macron — algo inédito na França. Na época, 18 mulheres e 16 homens estavam à frente de ministérios e secretarias de Estado. 

No atual executivo, comandado pela primeira-ministra Elisabeth Borne — a segunda premiê mulher da história da França — 13 mulheres e 14 homens ocupam os mais altos cargos do governo. Mas se Macron utiliza a feminização do governo como bandeira de campanha, a estratégia é denunciada por mídias de esquerda. 

Para o jornal Libération, a paridade do executivo francês acontece apenas "na fachada". No "boys club" de Macron apenas uma ministra, Catherine Colonna, ocupa uma pasta considerada "tradicionalmente masculina", a das Relações Exteriores. "Aos homens, os ministérios importantes, às mulheres, as secretarias de Estado", ironizou o diário em 20 de maio, quando o novo governo foi anunciado. 

Outra crítica do movimento feminista francês ao presidente é a presença na cúpula do governo de dois homens envolvidos violências contra mulheres. Damien Abad, ministro da Solidaderidade, é acusado de agressões sexuais. Já contra o ministro do Interior, Gérald Darmanin, havia uma denúncia de estupro, mas o caso foi arquivado pela justiça francesa no início deste ano. 

Coalizão de esquerda tem maior número de candidatas 

Quem mais investe na paridade das candidaturas nestas eleições legislativas é o partido da esquerda radical França Insubmissa, no qual as concorrentes mulheres são maioria, 51,5%. A legenda faz parte da aliança Nova União Popular Ecológica e Social (Nupes), formada também pelo Partido Comunista, que tem 50% de candidatas mulheres e o Partido Socialista (46%). No geral, o grupo conta com 50,2% de candidaturas de mulheres, liderando o critério da paridade.

Depois da Nupes, o partido de extrema direita Reunião Nacional conta com 49,4% de candidaturas mulheres. Ele é seguido pela coalizão dos três principais partidos de centro, "Juntos", com 48,3% de candidaturas de mulheres. Sozinha, a principal integrante deste grupo, a legenda governamental A República em Marcha (que passará a se chamar Renascimento em julho), conta com 49,2% de representantes do sexo feminino na votação deste domingo; a Horizontes tem 47,3% e o MoDem 49,5%.

A exceção à essa nova tendência é a direita francesa, onde os homens continuam dominando as candidaturas. O partido Os Republicanos, do ex-presidente Nicolas Sarkozy, conta com apenas 36% de candidatas mulheres, registrando um recuo em relação a 2017 (38,9%). Atualmente, entre os 71 deputados da legenda na Assembleia Francesa, 28% são mulheres e 72% homens. 

O jornal Le Monde ironiza a situação, afirmando que "depois de 25 anos de leis sobre a paridade, a causa das mulheres na política está longe de ser vencida". Na atual formação da Assembleia Nacional, faltam 63 mulheres para que a divisão entre os gêneros seja igualitária. Ainda assim, diz o diário, o país ocupa "os primeiros lugares" no compartilhamento "justo" do legislativo. 

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