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Sancionar Putin ou punir os russos? Multinacionais enfrentam dilema de partir ou não da Rússia

A guerra na Ucrânia coloca sob pressão as empresas internacionais que atuam na Rússia, incitadas a cessar suas atividades em represália ao conflito. Não é diferente com as companhias francesas, algumas delas entre as mais conhecidas do mundo, como a montadora Renault, a alimentícia Danone ou a loja de construção e decoração Leroy Merlin.

O mercado russo é o segundo maior da fabricante Renault, atrás apenas da própria França. Na foto, loja da marca em São Petebusgo.
O mercado russo é o segundo maior da fabricante Renault, atrás apenas da própria França. Na foto, loja da marca em São Petebusgo. REUTERS - REUTERS PHOTOGRAPHER
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O tema ocupa as capas dos principais jornais franceses nesta sexta-feira (25). Na primeira página do Parisien, “Partir ou ficar: o dilema dos grandes grupos franceses instalados na Rússia”, pressionados pela opinião pública e os apelos de boicote mundo afora. “O pesadelo russo” é a manchete de Les Echos, ao resumir o embaraço das multinacionais, pegas de surpresa pelo conflito.

O mercado russo é o segundo maior da fabricante Renault, atrás apenas da própria França. Mas depois do apelo emocionado do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky diante do Parlamento francês, na quarta-feira (23), para que as empresas do país deixassem a Rússia, ficou cada vez mais insustentável para elas ignorarem a situação.

Les Echos sublinha que, para a Renault, que atua há 15 anos no país de Vladimir Putin, a decisão significa “o prelúdio de uma separação da Lada, que o grupo francês controla”. Este é apenas um exemplo entre tantas companhias que investiram bilhões na Rússia, ao longo de anos ou até décadas, e agora preveem prejuízos colossais se saírem do país, como a TotalEnergies, o grupo varejista Auchan ou o banco Société Générale.

Aspectos além da opinião pública

O editorial do jornal pondera que, para além do peso da opinião pública, que julga as marcas surdas ao apelo como “aproveitadoras da guerra e imorais”, é o momento de analisar a constatação que, “mesmo em tempos de paz, a Rússia se tornou uma parceira tão imprevisível que será difícil continuar a investir em massa no país”.

O Parisien destaca que a decisão é mais difícil do que parece: significa também abandonar à própria sorte 40 mil funcionários, no caso da Renault, e 12 mil para o banco Société Générale. “Partir precipitadamente é também assumir o risco de Moscou confiscar e nacionalizar instalações custosas, em benefício de oligarcas que estamos combatendo fora da Rússia”, explica o jornal.

O Figaro diz compreender o pedido do “heroico presidente Zelensky”, mas ressalta que “há limites para uma tal exigência”. No editorial, o jornal lembra que as multinacionais são empresas privadas e “não cabe a elas serem a polícia do mundo”.

“Deveriam elas fechar as malas para só retornar quando o ogro russo voltar para a sua caverna?”,  questiona o texto, antes de afirmar que um raciocínio simplista não resolve um problema complexo. “Ao fechar de um dia para o outro usinas e lojas, jogando pessoas no desemprego e famílias na miséria, sancionaríamos Vladimir Putin ou puniríamos os russos? Alimentaríamos um sentimento de revolta contra o Kremlin ou de injustiça contra o Ocidente?”, observa o Figaro.

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