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Professora de Harvard ganha Nobel de Economia por estudos sobre a mulher no mercado de trabalho

O prêmio Nobel de Economia foi concedido à americana Claudia Goldin, nesta segunda-feira (9). Terceira mulher premiada na história, a professora da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, foi distinguida por "ter feito avançar nossa compreensão dos resultados da participação das mulheres no mercado de trabalho", anunciou o júri.

Claudia Goldin conversa com jornalista por telefone em sua casa em Cambridge, após o anúnico do prêmio Nobel de Economia de 2023, nesta segunda-feira, 9 de outubro de 2023.
Claudia Goldin conversa com jornalista por telefone em sua casa em Cambridge, após o anúnico do prêmio Nobel de Economia de 2023, nesta segunda-feira, 9 de outubro de 2023. AP - Josh Reynolds
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“É um prêmio muito importante, não só para mim, mas para muitas pessoas que trabalham nesta temática e que tentam explicar porque é que persistem grandes desigualdades”, apesar de “desenvolvimentos importantes”, disse ela à AFP.

Claudia Goldin gosta de se definir como uma “detetive”. Combinando abordagem histórica e teoria econômica, a norte-americana examinou o emprego das mulheres, destacando as causas das desigualdades salariais.

Primeira mulher nomeada para chefiar o departamento de economia de Harvard, esta economista de 77 anos retraçou o longo percurso dos trabalhadores americanos rumo à igualdade, sublinhando o papel da história e dos avanços tecnológicos na sua integração no mercado de trabalho, mas também as dificuldades que as mulheres tiveram que enfrentar para equilibrar carreira e família desde o início do século XX.

Claudia Goldin identifica cinco períodos: primeiro os anos 1900-1920, quando o pequeno número de mulheres qualificadas teve que escolher entre o trabalho e a família (menos de um terço das que trabalhavam tinham filhos), depois os anos 1920-1940, quando muitas mulheres deixaram de trabalhar para começar uma família, devido à Grande Depressão.

Depois veio a guerra e, até à década de 1960, um período em que as mulheres foram pressionadas a ter filhos e só regressaram ao trabalho depois de tê-los criados, com perspectivas limitadas. Graças ao advento da pílula, as mulheres nascidas nas décadas de 1970 e 1980 começaram a priorizar suas carreiras e mais de um quarto nunca tiveram filhos.

A última geração tentou conciliar carreira e família, ajudada pelos avanços na procriação medicamente assistida, mas sem conseguir igualdade salarial ou igualdade na relação.

No seu último trabalho publicado em 2021 nos Estados Unidos, "Career and family: women's century-long journey towards equity" (Carreira e família: a jornada centenária das mulheres rumo à equidade, em português), Claudia Goldin explica a persistência destas disparidades e como elas se alimentam mutuamente através do “trabalho voraz”, ou seja, o fato de muitas profissões pagarem mais pela disponibilidade dos funcionários, longas horas de atividade e trabalho aos fins de semana.

“A igualdade no casal custa dinheiro, e quanto mais voraz o trabalho, mais custosa é essa busca pela igualdade”, enfatiza.

 Arqueologia como primeira paixão

Esta pioneira no estudo do gênero no trabalho, que também escreveu sobre escravidão, corrupção e educação, interessou-se primeiro pela economia da família.

"Este trabalho me ocupou durante algum tempo, mas por volta de 1980 percebi que faltava alguma coisa. Estava negligenciando o membro da família que iria experimentar a mudança mais profunda a longo prazo - a esposa e a mãe. Negligenciei-o porque as fontes fizeram isso”, confidencia em um breve ensaio autobiográfico, publicado em 1998.

O texto abre com esta frase: “Sempre quis ser detetive e finalmente consegui”. Original do Bronx, nascida em 14 de maio de 1946, Claudia Goldin se apaixonou pela arqueologia pela primeira vez graças às tardes passadas entre as múmias do Museu de História Natural para fugir do calor dos verões nova-iorquinos.

Na época, ela descobre a magia do microscópio e decide desvendar os segredos das bactérias. Foi com a ideia de se tornar microbiologista que ela se matriculou na Universidade Cornell. Mas o curso do professor Alfred Kahn sobre organização industrial introduziu-a num campo de investigação totalmente novo: Claudia Goldin acabaria por se tornar economista.

Ela descreve com paixão e deleite as horas gastas vasculhando arquivos para desenterrar dados sobre disparidades salariais, negócios assumidos por mulheres após a morte de seus maridos e até mesmo políticas empresariais relacionadas ao emprego - ou não-emprego de mulheres casadas.

Apaixonada por ornitologia, caminhadas e cães – seu golden retriever Pika tem página própria em seu site em Harvard. Claudia Goldin é casada com o economista Larry Katz. Em 2014, ela fundou um programa destinado a incentivar mais jovens ao estudo de Economia. 

(Com AFP)

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